10.6.25

Ao 3º dia milenar, os cavaleiros regressaram! (19 Anos em 19 páginas)

 



Apresentação da Templ’Anima- Associação Cultural de Tomar ( breve relato do nosso trabalho desde 2006; algumas experiências em destaque) .
Integrado nos ateliers  temáticos organizados pela TREF como contributo  para o dossier de candidatura ao Conselho da Europa. Tema: Práticas Culturais e Artisticas Contemporâneas
No final ,os participantes exprimiram o seu mais vivo interesse pelas iniciativas em Tomar (que desejam visitar) e saúdam a pertinência da ligação de raiz entre a Historia e a Arte (que preconizamos desde inicio).

---Mais generalista do que especialista (segundo recomendava o filósofo Agostinho da Silva) ousámos delinear com paixão o produto/processo, do principio ao fim,  na demanda - o mais completa possível - do que se passava na envolvente, consultando as mais “desvairadas” fontes, aproveitando das experiências acumuladas e seguindo quando necessário, a intuição(Paul Magil,gestor), enfrentámos os desafios com a perseverança requerida para”atravessar o deserto das incertezas, mas acreditando - como Michel Hammer - que os beneficios da "terra
prometida" se aprestam a ser revelados ou seja: certos que “na fase de desenvolvimento, a envolvente  vai modelar o produto, adequando-o à realidade (Chris Meyer).

- Segue-se a transcrição completa do atelier. Duração : 1 hora .


Templ’Anima - Associação cultural de Tomar  

(1) Inicio: A 29 de junho de 2006 - há 19 anos, portanto - nascia legalmente a nossa Associação cujos estatutos anunciavam como objetivos: a Evocação histórica e a valorização local, a difusão cultural e a criação última de um novo itinerário cultural (europeu)   de tema templário.

Desde logo a sigla escolhida - Templ’Anima- apresenta 2 significados:    um mostrar a alma do Templo ou seja o Espírito do Lugar ( para além das pedras, os homens do seu tempo) e por outro fazer a animação templária do monumento.    


Porque urge preservar as raízes de nossa identidade. Reconhecer o ontem para bem viver o hoje (afinal a Idade Média foi o início da actual Europa!. A maioria já não consegue identificar passagens centrais da Bíblia e dos clássicos, retratados nos capitéis das igrejas… É preciso saber ler as imagens numa época mais de gestos do que palavras.

Esta não é uma idade de Trevas, nós é que estamos nas trevas perante ela. Por exemplo, se virmos numa imagem um santo aparentemente suspenso no ar , isso não significa per si levitação mas tão só a alma do personagem elevando-se para Deus, pois segundo as ideias tomistas da época de S,Tomás de Aquino, a alma tem a forma do corpo e assim era representada! Portanto e em consequência: O  reencontro com essa Idade é a nossa Demanda! Fazer a sua recreação… e a sua actualização!

Ora, analisando a nossa situação: estávamos numa cidadeTomar, bem no centro de Portugal  -  que fora  sede da Ordem do Templo em Portugal e cujo património é Único e da Unesco também… Uma das últimas sedes da Ordem ainda completa : com seu castelo e sua Rotunda ou igreja redonda à imagem do S.Sepulcro.  Paris perdeu sua igreja, Londres perdeu o amuralhado envolvente. Um castelo aqui  portanto que  é  síntese histórica de várias épocas e da nacionalidade… com sua atratividade e potencial de crescimento.                                                                                      

Contexto: Há um grande património (Unesco,até) mas pouca valoração no seu conjunto. Dificuldade: uma certa  insensibilidade local, e por outro falta de informação para fora.                                Oportunidade- verificamos que todos os anos e a nível global saem livros ou filmes sobre os templários o que per si potencia um nicho de mercado cultural (europeu)- devido à perpetuação desse interesse temático!                                          

E então tivemos o nosso sonho -I had a dream!-  Criar uma Rota templária    europeia-- Aumentar o conhecimento do Templo e pôr Tomar no mapa europeu… Um projeto inovador-uma nova rota- fortalecendo a identidade e a integração na diversidade.  Depois de Compostela e Cluny, cientes que a motivação geográfica faria o resto ou seja -no pensar de um marketeer social- Louis Cheskin - “ o lugar diz-lhes mais do que a outros:  é subliminar a presença repetida que os atinge (os que pertencem a cada sitio e o desejo ou curiosidade por outros similares, dai a Rede! ) 

Esta a ideia e as forças à partida, daí iniciámos a busca dos meios e dos parceiros para o seu arranque.    E começámos por um inventário exaustivo de sítios templários e seus sinais específicos.  Segue-se uma breve apresentação do que temos feito. Algumas experiências fulcrais ao longo do tempo  que eventualmente fornecerão chaves para configurar ferramentas adaptadas…Desde logo: como adaptar o “seu” espaço à sua ideia ou vice versa ?!

(2) Animação teatral: um dia com os cavaleiros templários

Promovendo a ligação entre o Patrimônio/Castelo e a Cultura através do Teatro histórico, propusemos ao IPPAR- dono do monumento  (administração central- e foi aceite) uma oferta de animação cultural complementar aos visitantes do castelo templario de Tomar, dando mais vida ao conjunto patrimonial.

Designação : Um dia com os cavaleiros templários em Tomar, serviço de animação/evocação histórica , centrada no espaço patrimonial, aos sábados; actividade constituída por 3 partes, mostrando o quotidiano dos monges guerreiros- como oravam, comiam e lutavam. A obra, situando-se no último quartel do sec XIII, mostra a iniciação dum cavaleiro - sobrinho do mestre -  no terreiro e charola (igreja Redonda), seguida de refeição monástica e festiva de época com música no recinto   cavaleiros e exercícios de armas dos monges guerreiros no campo da horTrata-se de uma Animação singular, participada e solidária.


Explicando: singular, pq a sua vantagem diferencial - face à multiplicidade de ofertas ditas medievas - é não serem uns cavaleiros quaisquer em torneio ou uma ceia mais ou menos de época… são sim os templários, com a carga que isso implica: não é uma simples mostra de ambiente de época mas um cerimonial de iniciação/admissão onde o visitante será iniciado também (adquirindo novos conhecimentos)  e viverá o seu quotidiano através de um mergulho na época, tendo em consideração a vivência histórica e cultural da região e a salvaguarda de sua tradição local, pq a identidade cultural é uma questão chave  e a qualidade da ação é dada pelo rigor à época não fantasiada.

   Não queremos alimentar a simples deambulação de olheiros do vazio costumeiro , para quem o essencial permanece invisível por insensibilidade rotineira ou obnubilado por lendas extravagantes. Preocupa-nos o conteúdo, não só olhar mas sentir ao vivo e de perto a emoção, in loco, não à distância!.                                                                                                                                                                                            Animação participada : porque se procura o envolvimento dos visitantes - todos confrades por um dia - recuperando a comunhão do teatro medievo, seguindo os actores-monges pelos espaços e reagindo a suas vozes ou actos: em suma um teatro de identificação e metamorfose. Como nas procissões antigas de Valladolid (Espanha) na semana santa , onde seguia um Cristo, os carrascos e o público que vivendo veramente a cena, apostrofava e até apedrejava os carrascos (que eram alguns condenados vindos de prisões…e que caso sobrevivessem à experiência, ganhavam sua liberdade!)...                                                  

No fundo buscamos um teatro de transformação/aperfeiçoamento em direção à fraternidade  como recomendava em carta Rousseau a D’Alembert(1758): “convertam os espectadores em espectáculo, façam-nos actores, façam com que cada um se veja e goste de si próprio, para que desse modo se sintam mais unidos”! Todos irmãos aqui, portanto! Teatro solidário, pq tem como objectivos também a coesão da comunidade local, para além da satisfação da motivação específica de grupos de visitantes. Assumindo a cidadania e o envolvimento em ações de apoio à comunidade, apadrinhando causas e pessoas locais, evoluindo dos benévolos aos profissionais, em termos de colaboradores.


(3) Sinopse do Teatro Iniciático- a Didaké

Primeiramente a Didaké- Iniciação do templário: trata-se de um texto feito de raiz para este espaço e adequado a sua especificidade. Não fala de algo importado da vida de qualquer outro mosteiro - tipo o Nome da Rosa - sim do que se passava aqui intra-muros à luz do que conhecemos.

A ação ritual acontece circa 1286 no castelo templário de Thomar, onde o mestre da Ordem dom Joam Fernandes inicia um sobrinho em capítulo, segundo um testemunho relatado nas inquirições de D. Diniz de 1317.     A ação /progressão ou Caminho desenrola-se /começa no Terreiro do castelo, através de 4 “mansões”  que representam os 4 elementos iniciadores, tal como figurado para meditação dos monges nos capitéis da Rotunda (através de animais: leão, cavalo marinho,aves afrontadas, sarça ardente)) e conforme à doutrina hermética, a imagem do que está dentro é igual à que está  fora. 

Assim a 1º cena é junto à Árvore  à dextra o elemento Terra onde acontece a vigília do cavaleiro; a 2º cena no tanque à esquerda (elemento Água) onde  é o banho /purificação (e a catequese/ didascália); a 3º cena nas escadarias em frente- elemento ar/elevação que constitui a prova/evocação do sacrifício da Paixão;  e finalmente a 4º cena  na Charola -elemento Fogo, por ser igreja redonda fechada por cúpula como um athanor alquímico. Iluminação do Santo Espirito!

Na Charola, no seu interior, se passa a parte mais importante da Iniciação, com a Súplica e a Exortação. O Pater e a oração à Virgem. O Juramento. A Entrega do manto e o beijo ritual. A exposição das relíquias e a exortação final.




(4) Uma representação didática em defesa e louvor da Milícia templária 

 Efectivamente, baseados na tradição universal mas também na local devidamente pesquisada e alicerçados na autenticidade da Regra primitiva da Ordem, descrita por Régine Pernoud, visamos esclarecer as 3 principais acusações feitas aos templários em seu tempo: o beijo na boca, as ofensas à cruz e a adoração da cabeça bafomética ou demoníaca…onde  desvelamos a verdade sobre os factos!

Primeiramente a questão do beijo trocado entre o  iniciado e o mestre da Ordem: trata-se de um beijo cortez como aquele dado por El Cid o campeador a seu rei , tal como assinalado no Poema do Cid e que entretanto caíra em desuso no quotidiano europeu do séc XIII mas mantido pela Ordem de acordo com sua tradição oriental.

As ofensas à cruz,  tem a ver com a evocação da Paixão, dado geralmente as admissões se fazerem cerca da Páscoa ( até ao Pentecostes)  onde se passava a prova da negação e da dúvida e se partiam as cruzes -como ainda hoje se faz na antiga comenda templária de Cem Soldos a 7 km de Tomar- resíduo ou memoria arqueo-teológica dessa época, tal como se fazia nas escadas da sé de Lisboa quando morria um rei e se partia ali o seu escudo ou emblema… mesmo ainda agora: esta semana partiu-se o anel papal por sua morte… um símbolo, portanto!   

Por sua vez a adoração da pretensa cabeça bafomética: tratava-se do culto das relíquias da época geralmente encastoadas em prata dourada e que tomavam a forma da região do corpo a que pertenciam, dai as mãos como a de S.Gregório Nazianzeno (que ainda existe no tesouro da sé de Lisboa) e a cabeça de S.Tomás de Canterbury que esteve em Tomar e entretanto desaparecida. Sendo possível que o vulgo dos familiares e amigos e outros que apenas podiam entrever à porta meio fechada e à distância, o ritual reservado da admissão/iniciação na semi obscuridade das igrejas românicas, pudessem especular sobre o pouco que podiam ver e menos compreender… 

Visamos pois com esta peça, a devolução da honra aos injustamente acusados -ontem como hoje- destacando o valor europeu da justiça, tal como no medievo afirmada pelo mestre templário Gualdim Pais em seus forais, assim como por Dante (na Divina Comédia): “amai a justiça vós que governais” !

Visamos uma transmissão de ideias e valores: fazer reflectir sobre a época e - parafraseando Umberto Eco - “se compreendendo-a melhor,  formos levados a refletir também sobre a nossa, tanto melhor!”. Melhorar a compreensão do passado a fim de bem incorporá-lo na identidade do presente é também a nossa aposta.

 

(5) Análise da obra

O texto propõe uma construção para a realidade da época templária, gerada a partir de várias fontes credíveis, servindo como guia à parte medieval do monumento, procurando não misturar épocas nem  cair em anacronismos, seguir modas de romances policiais ou mistérios à Dan Brown, gerando mais confusões do que esclarecimento; no entanto também não queremos que fique pesado como missa do passado e aligeiramo-lo quando possível com algo de goliárdico, como a cena do iniciando no banho quando encontra um parasita entre os pelos do sovaco e exclama Vade reto Bafoma…o inimigo esconde-se em qualquer lado !!                     

–A fabricação do espetáculo / o processo de criação segue vários passos que vão do estudo do espaço em função da ideia central até à técnica escolhida e aplicada.  Tal passa primeiramente por explanar os considerandos concretos que estão por detrás em detalhe, pq tal é importante à compreensão da Animação teatral. –Cenograficamente é naturalista: o monumento apresenta-se na sua função real, que mostra e anima, veiculando a atmosfera do lugar e a vida do sec XIII. uma ligação espaços-cenas descrita no desenho da maquete da Iniciação com suas 4 mansões…mais algum elemento simbólico mas breve, de forma despojada ao espírito da época e dos monges.( Vide o cervo junto ao tanque)... Passa-se em vários planos simultâneos -pq o tempo é visto como eterno…há uma continuidade. –

Quanto à representação -didática e emotiva -  eĺa é expressionista, visa mostrar  os   estados de alma do  candidato… no terreiro - um grande espaço - o gesto é largo, no interior da igreja  um tom salmódico e comedido próprio ao cerimonial local, mais intimista. Os actores praticam o distanciamento- não há encarnação do personagem -apenas o sugerem- não actores individuais, mas apenas manchas de cor - irmandade…apenas fazer lembrar a época medieva nos gestos , momices e nas falas e que promova um efeito de adesão…simples veículos de emoção necessária para convencer…haver identificação do publico. São como capitéis vivos- estátuas que se movem –o sorriso de Daniel a mexer o pé no portal de Compostela…gestos que exteriorizam a alma…rostos sofridos ou loucos de forma a suscitar reação, participação, atenção.                                                            

–Quanto ao publico-alvo- achamo-lo no cruzamento dos visitantes de património com os seguidores do templarismo e da espiritualidade.  Segue com os actores – uma viagem /peregrinação - de aperfeiçoamento uma progressão subida no Terreiro do castelo, como purificação à imagem do caminho dificil de Dante. Um público participante, portanto que se integra na procissão inicial pelo terreiro do castelo, acompanhando o draco - sim, temos também um dragão ao medieval- que segue os monges brancos e castanhos…  A  qualidade do processo é dada pela nossa capacidade de envolvimento - esbatendo fronteiras entre actores e público -  sendo importante que estejam disponíveis para seguir e compreender…viver o acto …obtendo-se mais resultados quando o público é mais específico. grupos afins… Essencial é o publico: rir com o frade, reagir a violência do carrasco… surpreender-se com o possesso… fazer pensar, abrir outras percepções. Às vezes será preciso um milites empurrador (ao jeito japonês) que os arraste, ajude a dar o 1º passo, que ordene Vamos todos ! À Ração!... dançar de mãos dadas em volta da árvore e depois comer o pão doce do Espírito Santo imperador (uma festa  local, origem da actual festa dos Tabuleiros). 

(6) O Prandium ou refeição monástica  como um vero mergulho na época e no ritual...

Começando pelo conteúdo e formato da refeição templária , era para nós um ponto assente que deveria identificar-se com a época sem actualizações nem adulterações, tipo garfos, guardanapos, colheres de plástico, copos de vidro,etc… e com o ritual próprio, geralmente ignorado.

 Assim o receituário foi escolhido e traduzido a partir de livros datados da época (Trezentos/Quatrocentos) como anunciado no Rol de Viandas ou Menú, (distribuído pelas mesas) e não pratos inventados ao sabor da imaginação de qualquer cozinha!

Do Trezentos são conhecidos, integrados num códice terapêutico atribuído a Mondeville, físico de Filipe o Belo! (ligado aos templários,pelas piores razões...) 3 manuscritos de receitas: Enseingnemenz /franco, Tractatus de modo  preparandi /monástico e Liber de coquina/toscano, além de um rolo -único sobrevivente no género- pertencente ao bispo de Sion e mais tarde copiado por Taillevent no Viandier…

Ora estando a ordem repartida por toda a Europa e Oriente, pretendia-se apresentar uma cozinha ecuménica das regiões templárias...para o que “demandámos”  para além do receituário franco já referido, os seguintes do Trezentos : Sent Sovi/Catalunha - Form of Cury/Inglaterra- Guter Spise/Alemanha- Libro di cucina/Italia e ainda ,mais tardios, os nossos “Livro da Infanta D.Maria” e “ Caderno do Refeitório” (Alentejo) portugueses, além de uma colectânea franca de receitas de albergarias cruzado- -templárias no Oriente. São estes e não outros os livros que achamos adequados.

O receituário é apresentado em geral sem as proporções dos ingredientes….e há que ter cuidado na interpretação/tradução das receitas medievais não vá a tradução auxiliar do Google confundir verbos com substantivos e às tantas no final do receituário em vez de mandar cozer os ingredientes manda pôr o cozinheiro na panela!!!...uma sugestão canibal enfim. 

Ora sabendo que a “pitança” é melhorada em dias festivos , selecionámos 30 receitas para o tempo invernal das Quaresmas (Advento e Paixão) e outras 30 para o tempo dito comum ou de verão.

No serviço franco que estrutura a refeição gótica , os assados (peças inteiras,recheadas, postas no espeto e finalmente trinchadas á mesa) situam-se sempre no centro da refeição, sendo precedidos pelos potages(caldos leves ou grossos) e seguidos pelos entremetz e sobremensas,depois de levantar as toalhas.


Quanto ao cenário: à frente, encimando tudo e transversalmente a mesa real com seus dignitários e um aparador ao lado, a copa real com sua baixela. As mesas dos convivas são compridas com seus bancos longos como os das igrejas. Sobre as mesas com suas toalhas brancas de abas, cada comensal tem diante de si um talhador quadrado de madeira e sobre ele uma rodela de pão de calo (metade de um pão achatado cortado na horizontal). Uma tigela e copa de barro e uma faca apenas. 

Quanto à  mesa real  por sua própria natureza exigia um certo ritual de serviço (neste caso o de Aragão ) . Assim tanto a bebida como a comida, depois de préviamente  provadas em busca de algum possível envenenamento, eram trazidas bem elevadas (para evitar contaminações por espirros ou tosses) à presença real.


(7) Quanto ao Cerimonial :

O Cerimonial da refeição começa com a entrega do manto branco aos convivas- Um ritual de integração / identificação na comunidade- expressão de solidariedade básica de grupo. Segue-se a   procissão dos dignitários, anunciados pelo porteiro

O prior levanta a oração do Pater e dá a benção à mesa.

Seguia-se o Cerimonial  da Água às Mãos e da Têmpera do Vinho, que eram precedidas de procissão dos funcionários reais: o vedor, os copeiros e o roupeiro (das   toalhas), os quais sempre ajoelham quando chegados à mesa real. 

Depois a procissão das iguarias até à mesa real. A abrir num  andor vem o cordeiro de Deus em pé, inteiro, com sua lã e insígnia, ou seja a cruz.


É feita a prova das iguarias com a faca serpentina antivenenos pelo físico, à frente do rei.

Segue-se a distribuição - em grandes tábuas- aos convivas irmanados, dos tachos  das viandas: 2 espécies à escolha segundo seu gosto ou temperamento (art.185 da Regra da Ordem do Templo).

Seguem-se os  entremeses (literalmente: as "entre-iguarias") que acontecem entre uma iguaria e outra, enquanto os convivas esperam pelo próximo serviço . Geralmente, um momento de música ou momos...como o jogo de canas entre o gordo Dom Carnal e o magro Dom Pescado (de Hita /Guadalajara).

Num dos entremezes  explicamos aos convivas a ausência de pratos e de talheres – apenas na época um trincho de madeira, sobre o qual se depositava uma rodela larga de pão onde se colocavam os alimentos (tendo avisado para que não comessem este “prato” , feito de pão, antes do final da refeição! )...Havia uma colher de pau em cada tacho de barro , coberto, e cada comensal tem consigo uma faca para ajudar ao corte ou transporte dos alimentos. Mas o essencial foi a informação de como comer, com os 3 primeiros dedos da mão direita -  tal como ainda hoje em festas tradicionais de rua, se comem sardinhas no pão ou pedaços de frango assado - e que utilizassem o miolo de fatias de pão (presentes à parte na mesa)  ou em recurso, as abas da toalha da mesa, para limpar as mãos (pq os guardanapos , tal como os garfos , ainda não tinham sido inventados)...Tal era o modo de comer dos monges cistercienses , documentalmente registado para a época em Alcobaça (Portugal). Devem passar os bacios das viandas a seus vizinhos fraternalmente e ao retirar a comida não devem farfulhar (remexer) por toda a escudela ou bacio…pois o glutão incomoda seu vizinho já o disse Bouvesin de la Riva!

Acabados os manjares e  levantada a mesa, são trazidas as frutas e frutos secos- incluindo a maçã de ouro ou do conhecimento - a qual já cortada horizontalmente (perpendicular ao seu pé), revela em seu centro a estrela de 5 pontas ou pentáculo salomónico.


  No final o tacho surpresa: a rainha Isabel devidamente acolitada , distribuiu sobre os convivas pelas mesas , mancheias de pétalas de rosas, evocando em simultâneo o seu próprio milagre, mas também como anúncio da próxima vinda do Divino Imperador festivo aos tomarenses …a tb chamada festa dos Tabuleiros.

Saída dos dignitários e depois os convivas.        

Está dimensionada esta refeição para cerca de 90/100 convivas, exigindo uma inscrição e pagamento prévios, naturalmente.



(8) O treino d'Armas- Apocalypse


A terminar o dia segue-se a 3ª e última parte: o treino de armas dos irmãos.

na chamada Horta dos frades, um campo limpo e desimpedido.

Dentro da liça os 4 aparelhos já montados: o tavolado, o estafermo,sortel e arcaria.

Ao sinal da trombeta o Arauto anuncia o começo de um grandioso encontro de armas e desvairados jogos dos irmãos pera seu treino e folgação. 

  • Corrida ao Estafermo- com lança a cavalo evitando a maça do manequim rodando em seu eixo, 

  • Jogo do Tavolado: tablado quadrangular imitando torre de castelo com suas ameias onde se erguem 2 alvos/cabeças espetadas em paus, que os cavaleiros tem de derrubar com a lança arremessada de braçaria.

  • Jogo do Sortel ou canas- em que o cavaleiro armado de lança ou cana, tenta enfiá-la num grande anel ou coroa, que vai depois oferecer a uma dona da assistência.


Agora, a novo toque da trombeta o Arauto anuncia a Justa final, um combate ritual entre o 515 (nº do mensageiro divino/Dante) contra o 666 (nº da besta demoníaca).

É um enfrentamento esforçado e prolongado entre 2 milites com suas máscaras sobre a cabeça , de carneiro e diabo, respetivamente. Simbólico, algo mais do que um combate qualquer!

Seguem-se os jogos populares: tiro com arco onde os convivas tentam acertar numa abóbora e as cavalhadas ou corridas de convivas montados em burros ou a pé com venda nos olhos, que tentam partir com um pau um cântaro suspenso, com conteúdo surpresa…

Opcional para crianças: corrida de sacos ou jogo da glória gigante desenhado no chão onde evoluem - conforme a sorte dos dados - montados em poneis,  se os houver. 



(9) Análise deste evento : ao fim de algum tempo resolvemos separá-lo em partes independentes (não consecutivas) para aproveitar oportunidades de visitas mais  curtas ao castelo (excursões só manhã ou só tarde) tornando-o tb mais acessível em termos económicos.  Uma sessão completa (o dia inteiro , das 1o,30 as 17,3o ) custava 2 mil euros o que exigia um mínimo de 20 pessoas a 100 euros (incluindo a necessária inscrição prévia para almoço) devido à necessidade de colaboradores externos, nomeadamente cavalos e cavaleiros, além do cozinheiro e comestíveis.

A nossa equipa artística era constituída por 4 actores e 12 figurantes multifuncionais, ou seja: de manhã eram povo, ofícios e milites sergentos, ao almoço eram serventes de mesas, à tarde escudeiros e auxiliares dos cavaleiros e milites . A presença de público nos eventos era bastante flutuante, sendo irregulares os apoios oficiais. Por partes melhorou…    

Tomámos tb algumas resoluções estruturantes em relação ao trabalho da Associação: assim marcámos 4 datas de evocação templária a comemorar anualmente , uma para cada trimestre.

1 março- dia da fundação do burgo

inicio de julho- o Cerco do castelo

13 Outubro- óbito do Mestre Gualdim

29 dezembro- dia do patrono da charola- S.Tomás de Cantuária.


E definimos 3 objectivos a curto , médio e longo prazo, respectivamente :

- A vinda a Tomar do Relicário templário "Mão de S.Gregorio"  (que Tomar não via há 200 anos)  trazido pelo mestre Gualdim da Terra Santa . Objetivo já cumprido.

- A colocação de uma lápide  com o nome de todos os mestres templários, a colocar na igreja S.Maria- .para maior visibilidade desta igreja -panteão dos mestres templários. Objetivo já cumprido.

- O inicio de contatos externos para a criação da Rota templária europeia , a partir de Tomar (última sede completa na Europa). Objetivo em desenvolvimento.

Assim em 2012. assinalamos o primeiro encontro  com Troyes, com a nossa participação no colóquio internacional templário realizado pelo Departamento da Região de l’Aube  a 24,25 e 26 outubro.  

E aconteceu que ao 2º dia do Colóquio, nesse dia realizado na abadia de Claraval, travámos ocasionalmente conversa com François e Valérie Gilet, que participavam no Colóquio e a quem falámos do projeto da criação de uma rota templária europeia.

Considerando interessante a ideia, o casal Gilet abordou os responsáveis do Departamento de l’Aube para o projeto e o resto já sabem…



Podemos assim dizer em coincidência significativa que houve de novo a mão de S.Bernardo de Claraval sobre a Ordem do Templo…apadrinhando-a mais uma vez!

E por outro , cumpriu-se assim também aquela frase quase profética de Umberto Eco     que 30 anos antes após a visita ao castelo de Tomar , quando foi considerado património Unesco nos anos 80, escreveu no seu livro Pêndulo de Foucault, sugerindo uma união entre Tomar e Troyes: ”Tomar é o centro de seleção dos metais e a floresta do Oriente (Troyes) o celeiro principal, eis a origem de suas riquezas!” (pag 393).


 

  Em 1 março 2009 iniciamos a nossa participação oficial nas comemorações do dia da Fundação do burgo templário , integrando-nos no desfile habitual de colectividades.

Em 2010, ano das comemorações dos 850 anos da fundação templária da urbe de Tomar, representámos nesta data a Didaké na igreja templária de  S.Maria, para várias centenas de tomarenses. 

  

(10) –Evocação do Desfazer do Cerco de 1190 - junto à  Porta da Almedina do castelo com acesso pela Mata dos 7 Montes.


- A Associação Cultural Templ’Anima, propõe-se evocar no mês de julho um acontecimento exemplar ocorrido neste castelo templário de Tomar : o cerco feito pelo exército do Almansor em julho de 1190 e desfeito pelo grande mestre Gualdim “ a quem Deus salvou com seus freires” das mãos dos inimigos… segundo memorial escrito nas paredes deste castelo. A conservação/ valorização da Porta da Almedina e seus acessos passa pela sensibilização da comunidade para conhecer a sua história, reatar a ligação afectiva... Porta de entrada no burgo interior, desde o “arrabalde ”.



Um Convite aos tomarenses - para mais perto de seu património - de que todos são co-herdeiros - afinal - e em honra de sua participação a desfazer o Cerco de julho 1190 comemorando a vitória !

–Oportunidade de festejar algo que seja seu ,de todos os vizinhos...essa é' uma gesta a lembrar a todos os da terra, porque lhes diz respeito.


PROGRAMA:

Visita comentada á Almedina e Porta do Sangue


10.30 h- Subida pela Mata : com gaita de foles e tambor –sendo atracções/pontos de paragem :

- A Cruz da Rosa com seus sinais apotropaicos laterais, inscrita pelos templários sobre a porta ,entre as torres imponentes da Almedina  e a Pedra dos Cavalos afrontados românica.


11 .30 H-- .Entrada.no castelo pela Torre da Condessa.

Memórias do Cerco (por D.Gualdim). Leituras.

-Combate-demonstrativo  final entre defensor e sitiante . Justa simbólica entre o Bem e o Mal . Lutas a pé , com máscaras ... 666 vs 515...o Diabo e o Divino.(Cordeiro)..

- Evocação da vila de cima (pela Templ’Anima-) 

Adentrado o castelo, ali mereceu especial atenção o exercício de recordação da vida do bairro ou Vila de cima, dos nossos vizinhos e familiares antigos... viajando em espírito até esses dias ... O casario de um lado e de outro, do eixo viário principal , com suas medidas calculadas através da contagem dos furos de barrotes nas muralhas ...umas 20 casas ,logo 80 moradores, serventes do Templo, cujo avistamento em seus mesteres, tentámos interiorizar /recordar, no fundo da nossa consciência ancestral e colectiva…


Este evento passou em 2016 - por nossa proposta - a ser o tema central da Festa Templária anual e em julho, promovida pelo município e que até aí era em data aleatória no mês de maio e sem tema.



(11)    A 13 de Outubro - na Igreja de S.Maria do Olival (Panteão templário)

Evocam-se nesta data , dois acontecimentos marcantes relacionados com a Historia de Tomar: é a data em que se comemora o  ´´desaparecimento `` da Ordem do Templo com a prisão dos templários e também a data de falecimento de Gualdim Pais mestre da Ordem do Templo e fundador do burgo cristão de Tomar.


Gualdim é um paradigma da Ordem : nasce no ano em que nasceu a Ordem –1118 e morre no dia em que ´´morreu`` a Ordem (13 Outubro)-o que é deveras significativo.


Programa

Uma visita comentada às inscrições pétreas desta igreja panteão templário e uma narrativa acerca do enterro do Mestre..

Para maior visibilidade da igreja templária de Santa Maria dos Olivais

S.Maria foi Panteão dos cavaleiros-mestres da Ordem do Templo,durante todo o sec XIII. Mas 2 séculos e meio depois , a pretexto de obras de ampliação ao culto , mas ainda sob a influência destruidora de sua memória na Europa , iniciada pelo rei capeto Filipe IV de França, foram mandadas arrasar todas as arcas tumulares daqueles mestres, nesta sua igreja-panteão!

E de elementar justiça à memória daqueles bravos e piedosos mestres - também pedagógico e valorativo para quem nos visita- que se perpetuem os seus nomes na igreja, colocando uma simples lápide , imitando tampo de sepultura , na igreja de S.Maria  com breve resenha biográfica (nome e datas de mestrado) de todos eles... Tal será fazer reviver veramente o espírito  do lugar e da Ordem fundadora também desta igreja mariana!

Aposta na vertical e de forma auto-sustentada com suporte, na capela de Gualdim , ali se pode ver a  lápide memorial dos Mestres do Templo.


 






(12) O quarto evento, no último trimestre do ano, é dedicado a São Tomás de Cantuária, patrono   da Charola templária  e cujo dia passa a 29 dezembro. No nosso blogue anunciamo-lo e será objeto de leitura por um orador na sala capitular da Charola, perante um seu busto.

E reza assim:  In illo tempore…em plena semana do natal, um crime abalou a Europa cristã e medieval: no dia a seguir ao dos Santos Inocentes, à hora de Vésperas o arcebispo de Cantuária caiu morto a golpes de espada, em sua própria catedral.

Tomás Becket nascido em Londres em 1118 (no mesmo ano do nosso Gualdim Pais) foi nomeado arcebispo de Cantuária em 63. Em conflito com o rei Henrique II acerca dos direitos eclesiais, acabou sendo assassinado a 29 dezembro por quatro cavaleiros do rei.

Assim  foi martirizado S.Tomás no ano de Nosso Senhor da Encarnação de mil cento e setenta e nos 52 anos de sua idade …



O mártir foi canonizado em apenas 3 anos (1173) e o seu culto apregoado por toda a cristandade. Canterbury (Inglaterra) torna-se centro de peregrinagem… em cujo caminho nascerão mais tarde os famosos Contos de Cantuária! de Chaucer. O seu túmulo converteu-se num centro de peregrinação de onde os romeiros trazem pequenas insígnias ( bustos de S.Tomás a cavalo, como os encontrados nos castelos de Palmela e Silves).

S.Tomás torna-se o patrono dos sargentos do Templo, sendo-lhe dedicada por sua irmã uma capela na igreja Rotunda de Londres, junto à porta do hall . Na abadia de Windham em Norfolk é dedicada em 1174, também uma capela a Becket . Em Salamanca e Toledo na Espanha igualmente. Também o castelo templário de Gisors na França tem uma capela dedicada a S.Tomaz de Cantuária na época. O próprio  S. Luis, Rei de França,  obteve de Inglaterra parte da cabeça do mártir S.Tomás, depositando-a na Abadia de Royaumont como preciosa relíquia.

Em Portugal... Em 1185 , segundo uma tradição, também o mestre templário Gualdim Pais, se deslocou a Inglaterra, a quando da consagração da nova igreja redonda do Templo em Londres, e trouxe para Tomar relíquias (dois ossos da cabeça) de S.Tomás de Cantuária, pelo qual tinha grande admiração, para enriquecimento de sua igreja. Provávelmente foi feito na época um relicário com formato de cabeça para guardar aqueles ossos (como era costume medievo). 

O nosso Infante D.Henrique se refere a seu culto em Tomar,numa petição ao papa Eugenio IV de 1434. E o mosteiro de S.Cruz de Coimbra possuía os “corporaes de S.Tomas ,com um pedaço de casula com que dizia missa “ (cf. rol de relíquias do mosteiro, feito em 1595).


No final da leitura ou intervenção por um orador, é feita uma breve representação-diálogo entre um soldado do rei e o arcebispo Tomás  acontecida nesse fatídico dia. Trata-se de um diálogo em verso rimado em 16 quadras (tantas como as faces internas do deambulatório da Rotunda) texto que foi por nós construído com base no relato em prosa de uma testemunha da época, Edward Grim. Caindo no fim o arcebispo sob a espada do soldado.


Consideramos em nota final que esta evocação , num quadro de eventos conjuntos recomendada pela Rota Templária, devia ser também igualmente comemorado anualmente pela Igreja Rotunda de Londres, devido à memória de sua capela de S.Tomás , ali mandada fazer pela irmã do santo, que era abadessa no Essex (Inglaterra).


  (13) EXposição Documental e Artística : As Cores da Ordem

Vamos agora destacar outro momento criativo da nossa Associação: a produção de uma exposição  simultaneamente documental e artística baseada nas 3 cores da Ordem templária. Realizada por ocasião da Conferência evocativa do 13 Outubro e de Gualdim Pais feita por membros do Comité Científico portuguès da TREF e que culminou com esta expo no centro histórico da cidade a Corredoura.(edificio Vieira Guimaraes).

Em um painel colocado à entrada explicava-se a articulação entre as 2 partes da expo: a documental e a artística.   “As cores da Ordem que são também as cores da cidade:o branco, o negro e o vermelho estão omnipresentes nesta exposição com seu simbolismo próprio. Também a cor do burel que os serventes do Templo usavam. Trata-se primeiramente de um registo da Ordem em Portugal desde o seu alvor até à sua evocação-memória de lugares e actividades nos dias de hoje.    

Assim mostramos em 6 pranchas: primeiramente a implantação da Ordem em Portugal em comendas, igrejas e castelos, documentados como tal. A segunda prancha intitula-se “Uma centelha que irradia pela Europa” : na verdade historiando as origens desta expo, ela  começou a definir-se uns anos antes com a intenção de participar na grande exposição de Troyes sobre os templários em 2012 (embora já não atempadamente)  pretendendo dar a conhecer outros lugares nomeadamente ibéricos por onde a acção da Ordem se estendeu. Assim diz o texto. “ A vinda do conde Henrique da Borgonha/Champagne e pai do infante Afonso Henriques à Galiza para ajudar na Reconquista ibérica, assinala o início da grande colaboração franca que lhe sucede. Após a criação da Ordem do Templo na Terra Santa, o seu mentor Hugo de Payns e outros deslocam-se por apoios, nos anos 25/26 pela Europa , por onde irradia a sua influência . Aqui recebem doações de Fonte Arcada e Soure e várias outras que D.Raimundo Bernardo, procurador da Ordem, subscreve. Outro procurador D. Guilherme Ricardo tomba na batalha de Ourique. Depois o novo mestre franco Hugo Martoniensis combate por Santarém e edifica em seu tempo a igreja da Alcáçova em Santarém, sede da Ordem. Aqui repousa junto com o seu construtor Pedro Arnaldo, conforme lápide visível na fachada sobre a porta.” Este Hugo é proveniente da Dordogne e será o último mestre franco do sec XII em Portugal, daí para a frente, serão portugueses.


Na 3ª prancha destacamos Gualdim Pais como cruzado na Terra Santa e o seu papel na defesa de Thomar a quando do Cerco de Almansor em 1190. Na quarta prancha falamos dos capitéis da Charola e da Lápide em Santa Maria dos Olivais. 

Na quinta, falamos do assassínio da Ordem e dos Relicários de Gualdim. 

Finalmente na sexta, falamos da Rota Templária nascente e de terras a juntar como Montalvão (aonde nos deslocamos na comemoração do óbito do último mestre português do Templo, juntando terras templárias ainda não membros, como Jerez de los Caballeros, vizinhos, de Espanha.





(14) Sequencialmente à parte documental, apresenta-se outra de natureza pictórica onde essas cores constituem formalmente a mancha predominante, por quem as absorveu subliminarmente vivendo na região.Obra de matriz expressionista -figurativa e abstrata- onde se expõem estados de alma e sentimentos. E sendo telas criadas por uma artista plástica - Carla Marina - que afirma “solidarizar-se com a sua natureza” associa-se-lhe também, pontualmente, a cor da pele no seu assumir de uma afirmação da Mulher dentro e fora da Ordem, ontem como hoje.”

São ao todo 16 quadros…tantos como as faces externas da Charola templária!                                    -E de tudo isto damos conta num magnífico catálogo de 70 páginas  produzido para o efeito pela Amazon…

No ano seguinte apoiamos tb uma expo de Carla Marina um mês em Vincennes junto a Paris, terra tb templária por suas memórias: exibição de uma porta vinda do Templo de Paris para seu castelo aqui e por outro memória dos primeiros mártires templários supliciados na floresta anexa a quando das perseguições de Filipe o Belo. Eram 10 quadros sobre a afirmação e luta da Mulher, no quadro das trocas culturais entre cidades geminadas. Dela afirmou o Office de Tourisme local na ocasião: “ une artiste qui transcende ses émotions dans chacune de ses toiles en de magnifiques explosions de couleurs”...

Um ano depois -já em 2023- apoiamos a artista tb na ida a  norte de Itália numa grande expo de 5 meses em Rovereto sobre Direitos Humanos  para onde fora selecionado um dos quadros da artista sobre os direitos da Mulher, ùnico português num âmbito de 30 e tal países representados. 




(15) Expo das 2 Madalenas - a Pecadora e a Apóstola - na igreja templária de Tomar

Tudo começou em 2016 DC: naquele tempo fui convidado juntamente com outras pessoas, na ocasião dos trabalhos de melhoramento da igreja matriz de Montalvão, para observarmos as lápides visíveis em seu solo na demanda de vestígios da sepultura do último mestre da Ordem do Templo, passado à Ordem de Cristo e aqui referenciado  segundo as crónicas.  A mim o que me suscitou desde logo enorme atenção foi a imagem de SMM ali presente!                                                             Pela sua originalidade e raridade: ostentando um livro dos Evangelhos na mão esquerda, tão perto da concepção primeira do cristianismo primitivo de um Hipolito de Roma (170 -236) bispo e teólogo,  que a apelidou de Apóstola dos apóstolos e tão longe da  imagem de uma Madalena pecadora como eu a conhecia em Tomar com um vaso de óleos aos pés.                                                                            Acontece ainda que há apenas 4 meses antes o papa Francisco a redefinira como Apóstola pela primeira vez, o que a coloca(va) no centro das atenções desde logo… assim, comecei a pensar numa oportunidade para expor as 2 Madalenas,  esta e a de Tomar, lado a lado em confronto pedagógico de versões: tal veio a  acontecer em 2019 na igreja templária de S.Maria dos Olivais em Tomar aonde a imagem se deslocou (por 3 dias) acompanhada por seu pároco .

Junto ao altar aonde foi exposta, encontrava-se um texto abordando o tema de quem foi S.Maria Madalena.

Nascida em Magdala, cidade piscatória da  costa ocidental do Mar da Galileia, Seria de família abastada, por sua independência e bens com que auxiliou os apóstolos.(Lucas, 8,3). 

A identidade de Maria Madalena, contudo — ao longo dos séculos — confundiu-se com a da pecadora anônima, mulher que lavou, ungiu e secou com os cabelos, os pés de Jesus na casa de Simão, o fariseu (no Evangelho de Lucas 7.37-38) e também foi identificada com Maria de Betânia,, que no Evangelho de Mateus (26.6-13), unge também a cabeça de Jesus com um valioso perfume.

Devido principalmente às homilias de São Gregório Magno generalizou-se a ideia de que as três mulheres eram uma só pessoa. A Legenda Áurea no séc XIII vai fixar a estória e biografia da santa , a partir dessas homilias..

--- Mas não existe razão na Bíblia para acreditar que eram todas a mesma pessoa. Maria Madalena não era a única mulher que seguia Jesus . Este era o fundo da questão ainda na época quinhentista , em pleno concílio de Trento : uma ou mais Marias ?..

Aliás a referência a Madalena “com 7 demónios” (16.9) foi acrescentada ao Evangelho de Marcos -o mais antigo- que terminava em 16.8, segundo especialistas biblicos. Esse final longo foi depois transcrito por Mateus e Lucas… Mas a moderna exegese desmente essa identificação. Nas últimas décadas, esta imagem foi revista pela Igreja. No seguimento do concílio Vaticano II , em 1969, os predicados "penitente" e "pecadora" foram excluídos da seção dedicada a ela no 'Breviário Romano'. Isto eliminou um estigma que havia sido acentuado por ocasião da ContraReforma, e do concilio de Trento.


(16) A representação iconográfica de Maria Madalena


-O estigma que pairou sobre Madalena, manifestou-se, inclusive, ao nível da sua iconografia, De um modo geral, Santa Maria Madalena aparece representada com o atributo mais conhecido do pote dos óleos com que terá ungido Jesus, como se poderá ver olhando a nossa Madalena da capela gualdínica , com o pote ou vaso de perfume aos pés…



 A relevância da imagem existente na Igreja Matriz de Montalvão

Mas o principal atributo da imagem de Montalvão, de Santa Maria Madalena, é o livro de Evangelhos exibido na mão esquerda, ilustrativo da sua condição de “Apóstola dos Apóstolos”, segundo a já mencionada denominação . Trata-se, de uma raridade, apenas com paralelo, com uma escultura em pedra eventualmente quinhentista e da oficina de Coimbra, existente no museu Machado de Castro, de autor anónimo.

O principal detalhe é a apresentação do livro em si mesmo, em detrimento do pote de perfume.

Assim, constata-se a existência em paralelo temporal das 2 versões . A do frasco de perfume e a do livro… mas com predominância esmagadora , no que se conhece de obras, da versão da pecadora… reflectindo as mentalidades da época.

Na imagem de Montalvão, embora dissimulado à frente, também apresenta a cabeça semi-coberta pelo manto, contrariando assim a imagem dos cabelos soltos e a descoberto da mulher pecadora , habitualmente presente na pintura respectiva de época.

Relevante, em termos, eventualmente, de datação da imagem, as vestes da imagem de Montalvão são rematadas na zona do pescoço, com mais visibilidade, e nos punhos, com uma gola ou rufo encanudado ao estilo da época renascentista (séc. XV e XVI).

Os primórdios do culto a Santa Maria Madalena, em Montalvão:

No levantamento paroquial realizado por Frei António Nunes de Mendonça (vigário de Montalvão,1758) é mencionado um altar dedicado a St. Maria Madalena, presumivelmente existente na desaparecida capela dedicada a São Marcos, de onde a imagem mostrada na Igreja Matriz,(datada de época medieva, fins do sec XIII) poderá ser originária.

…Como assinalável coincidência o facto da imagem de Madalena repousar entre colunas salomónicas, em seu nicho junto ao altar mor ...sendo que o último Mestre da Ordem do Templo de Salomão (D. Frei Vasco Fernandes ,depois comendador da Ordem de Cristo em  Montalvão, onde viveu os últimos anos de vida, após a extinção da Ordem Templária ) tb terá sido sepultado bem perto no altar mor , segundo a tradição...

Mas olhando de novo e pedagógicamente para a nossa Madalena de S.Maria de Tomar na capela gualdínica vejamos um pormenor ou detalhe intrigante...um sinal ou mensagem velada eventualmente aqui deixada talvez pelo último templário perseguido da nova Ordem de Cristo (daqueles- dos velhos partidários- referidos como pastores furtivos da Mata na obra  Lusitânia Transformada)...talvez o que assinou DP (Diogo Pires?) nos frescos dos primeiros claustro conventuais (Henriquinos)  conseguiu deixar  nesse mesmo Quinhentos,   no Panteão dos Mestres,  a sua  mensagem nas mãos  de S. Madalena de mãos  postas, significativamente  colocada na capela templária …Se repararem olhando de baixo mas com sentido elevado verão o sinal: as suas mãos desenham uma fechadura-sinal da chave …ali colocado (disfarçadamente) e só visível  de certo ângulo …

Hoje com a reunião das 2 imagens de Madalena cumpre-se a Mensagem!

Madalena é a chave ...entre o Alfa e o Omega !

É através dela que se refaz uma ligação perdida (há muito) entre terras templárias, todas comendas de uma mesma Ordem ...a do Templo ! Com a sua vinda a Tomar , assim se unem Tomar e Montalvão, a terra do primeiro mestre aqui sepulto , Gualdim Pais, com a terra do último mestre, Vasco Fernandes ali sepulto! O alfa e o omega em terra portuguesa...assim se refaz e pratica tb a Rota templária actual...com esta expo!

Madalena, ela , é o veículo dessa união / transformação em que ela própria se transforma , na imagem iconográfica, através de seus atributos : Do Vaso da pecadora ao Livro da Apóstola ! A Nova Madalena ! Hoje redignificada pelo Vaticano  !Madalena exige hoje um novo olhar! Para crentes e não crentes!    A ver e pensar …





(17) Uma contribuição para a história e ficção ligada aos templários e à sua Rota:

um novo livro “Thomar-Do vale da paz ao monte do Templo (De Eyreia a Sophia)”


No âmbito dos 850 anos dos forais de Tomar, Ozezar e Pombal (1174-2024): apresentamos uma perspectiva de Thomar nos finais do século XIII. Um encontro com a vida da sede templária ao longo de um fim de semana, uma viagem exterior e interior, o mais abrangente e detalhada possível, com visualização do burgo através de reconstituição inédita pictoral da época.

Um espaço e um tempo que são nossa identidade, através da descrição dos campos e das culturas no termo em tempo de lavras e colheitas, azeite, vinho e a descrição dos ofícios medievos comuns a suas ruas e seus cultos, identificando afinidades regionais, aumentando o conhecimento da marca templária, dando-lhe um valor acrescentado. Um vero mergulho na época, de que sereis testemunha e tereis experiência no Caminho.





Trata-se de uma peregrinagem por altura do são Martinho à vila de Thomar e seu termo: uma viagem de 3 dias em que  cada capítulo relata um território percorrível a pé  durante as horas diurnas de 1 dia…

Em subtitulo (parêntesis) : Eyreia e sophia tem um significado simbólico: 

primeiramente os campos prontos a lavrar (célticos)  segundo o historiador José Mattoso, mas tb raiz nominal  greco-bizantina  desses séculos de lenda e cultos orientais trazidos para ocidente. Por sua vez Sophia faz referência à sabedoria divina dos cavaleiros do templo salomónico …conhecedores profundos da Biblia .

É preciso desvendar o espírito de época em que tudo é simbolo…

Onde se afirma que o passado tb está dentro de nós….. e se apela às Memórias   e   aromas  …das Moendas e lagares.

Um percurso esforçado- recolhendo  elementos de desvairadas fontes mas credíveis- não especulações - daí as 500 notas ou mais necessárias para fundamentar ou discutir asserções  ditas…mais exatamente são 515 como o número do mensageiro divino de Dante!

Incluso  memórias de infância e experiências pessoais intemporais- como o possesso… um longo período  de reunião de coisas dispersas- arqueologia de emoções perdidas!


Mais generalista do que especialista, delineando com paixão o produto, aqui o apresento nas suas linhas principais: na introdução e dando uma base cientifica para a época, apresentam-se os personagens mais conhecidos do tempo e seus pensamentos, uma idade de experimentação e do primeiro renascimento; o séc XIII na Europa e em Portugal, o casal real D.Dinis e Isabel de Aragão, a ação dos Bernardos …o Templo salomónico nos forais - 1286 um ano charneira em que o rei visita Thomar…


(18) 3 dias em 1286...


1º dia  -imersão na floresta do Sangral- assim apelidada pq é a nossa floresta central por homofonia simbólica e real- pois é também região de atuação e vivência dos cavaleiros da Demanda !

E citando : “Uma sensação forte e deleitosa nos envolve ao olharmos os raios de luz, que o vento subtil agita, escoando-se por entre a folhagem agora densa , enquanto desvairados pássaros de belas plumagens, saltando de arbusto em arbusto, cantam aprazíveis e angelicais trovas que nos maravilham, apesar de não sabermos ainda a linguagem das aves, como San Francisco, que as escutava como a santos doutores...Neste caminho espantoso, orla entre dois mundos, buscando as pegadas de Deus, olhai em redor, a terra harmoniosa, vero evangelho natural, onde cada cousa é expressão do Verbo oculto - verdade velada -excitando a humana atenção: aqui andou a mão direita do Criador, traçando como em pergaminho iluminado, sinais e avisos para nós conhecermos”... 

Onde se fala de viajantes-almocreves e peregrinos, o albergue do Templo, a aparição da besta demoníaca no matagal, …um tempo de lavras nos casais - hortas e casas,  a procissão dos bêbados no tempo do vinho novo e a aproximação  à várzea fértil…onde labutam escravos mouros.

2º dia-a entrada na vila -albergarias- e o chão de pombal, o campo de feira, o regateio e as trocas, as moendas e lagares , as ruas dos moinhos e corredoura, 

os ofícios e os  açougues- os judeus e seus cultos. Citando de novo: “Vamos pois reconhecer o recorte imutável do rio e dos montes, ver os chãos e almoinhas, que o homem fez frutificar com suas bondades, entrar no casario e falar com seus moradores conhecidos: João Tuiseu, Calça Perra, Mestre João Fernandes. Provar o que comem e bebem, observar as mézinhas que tomam, as rezas ditas, os sons e cheiros, as sombras de um dia (ou fim de semana) de descoberta permanente e extática! Percurso encantatório onde todas as emoções e prodígios são ainda possíveis”...

Passemos ao 3º dia-manhã-- a subida ao castelo, a alcáçova e cozinhas, a torre menagem e o reduto dos cavaleiros - o herbolarius e as poções, a Charola e o capitulo, a almedina, o físico e as donas.

3º dia tarde- aquém da água - S.Eyreia-e SanFins ou a viagem dos cultos…

 S.Maria dos olivais  e os mestres sepultos, a reuniao do concelho, a visita de isabel a seus gafos em santo André … e finalmente a caminho de Dornes,  onde o espera um enigma salomónico a resolver com simples palavras, testando os conhecimentos aprendidos…


(19)   -Antes do Conclusio o livro contém um desdobrável mostrando mais em detalhe a urbe de Thomar no séc XIII com sua vila de baixo e vila de cima , ilustração que teve a colaboração a aguarela da artista plástica Carla Marina.  

E na conclusão se parte da Biblia para avistar o futuro da Rota Templária Europeia:  

Lê-se em Zacarias (14:16), o penúltimo profeta bíblico (que incentivou a reconstrução do Templo),  que no futuro haverá uma imensa Festa das Tendas para a qual são convidadas todas as nações.  E no 8º dia da festa das tendas se ergueu o Templo de Salomão...ou  a tenda de pedra de Tomar, a Charola oitavada, evocativa do 8º dia!

Assim se cumprirá a Rota do Templo: Quando todas as nações desta Religião festejarem (eventos) em comum em suas sedes jerosomolitas!






Termino : Não a nós mas a Eles (Templários) a Glória !