22.2.25

As Moendas de Aquém e Além mar: De Thomar à Terra Santa

                           


–As Moendas de Aquém e Além mar: De Thomar a Terra Santa…  a vera História : a das Origens  ( não a das indústrias da época contemporânea )...

Há uma história da Levada que é muito anterior à eletricidade, à serralharia e à panificação moderna, mesmo anterior ao período manuelino: é a história das Moendas no tempo dos Templários! Vamos contá-la aqui como presenciada(Extratos do livro "De Eyreia a Sophia" a ser lançado a 1 março)

     MOINHOS DE FARINHA 

    “ Aproximamo-nos agora  mais da Ribeira onde está uma levada que corre ao lado de uma pequena língua de terra e que termina onde estão duas moendas de farinha no cabo. São casas térreas  de pedra e cal, alongadas de umas 12 varas e telhadas, observando-se um pequeno vão por baixo. São azenhas, cada uma com sua roda externa vertical de 3m, sobre cujas palas bate a nível inferior a agua corrente vinda da Levada.   

Ao acercar-se, ouve-se um som rangente e grave e repetido de peças desgastadas da moenda.

Observando aquele lugar com os olhos da memória antiga, ainda consigo ver as argolas na parede onde se prendem os burricos  com suas albardas e seus sacos de grão de um lado e outro!

`A porta, o moleiro ajuda uma gentil moura com  sua carga à cabeça  em tom bem ecuménico...

Entramos na casa de terra batida onde se amontoam à fraca luz de um candeio sacos de estopa e quartas de rasa cheias de grão  a um lado e em outro foles de pele de cabra e taleigos tudo branco da poalha de farinha assim como o moleiro que agora vai  abrindo a boca de um saco com a mão esquerda, enchendo-o com a direita retirando com uma pá a farinha caída à frente da mó no tremonhado (reservatório).

Aqui há 2 mós , uma alveira (trigo) e outra  segundeira (centeio), alinhadas qual ala guerreira para o combate da fome !   

E o olor da farinha nos cercando penetra-nos avivando cheiros  perdidos da infância!

A nossa frente uma caixa de pau, de castanho, com 3 palmos de altura onde se deita o grão a que se chama moega que é em forma de funil e está suspensa das traves no tecto por paus e cordas. Ligada ao fundo da moega está a caleja de palmo e meio descendo e encurtando no cabo, por onde escorre o grão sobre o olho da pedra mó abaixo.

É uma mó alveira (que faz pão alvo)  de calcário de 5 palmos de largo ou seja uma vara, grossa (alta) de umas 8 polegadas ou seja um palmo, pesando circa de uma tonelada, tendo por baixo outra pedra, chamada pouseira, da mesma largura mas maior grossura (uns 30 cm), oriunda de pedreira diferente, assente num estrado no chão com guardas de madeira à volta da mó - o cambeiro - e um panal.

E olhamos um pedaço de pau  preso à caleja de um cabo e por outro saltitando sobre a pedra corredoura e comunicando assim sua trepidação à moega, facilitando assim a queda do grão, por isso lhe dão o nome de chamadouro ou tingidouro.

Súbito ouvimos tocar um sino ou melhor um badalo de animal, mas não vimos nenhum...Ao que nos informam que ele o chocalho está no meio do grão e se solta quando já há pouco grão dentro da moega  avisando assim o moleiro que é preciso enchê-la  de novo!

E demandando ao moleiro, homem do Templo, que nos ensine todos os mistérios daquele maquinismo, ele - iniciado - nos revela a parte invisível para nós naquele ponto. Assim no dito olho ou buraco da mó corredoura de 4 polegadas mostra que se encaixa pela parte de baixo uma peça de ferro -- a segurelha - com orelhas de um palmo de largo, as quais suportam e fazem mover a mó  ao rodarem elas mesmo solidárias com seu eixo central que é um pau de 3 varas de comprido, composto de 2 partes, o veio e a árvore, apertados por cunhas de madeira e vielas ou argolas de ferro. Esta árvore  termina por um aguilhão de pedra ou ferro, que gira numa cova de pedra - a rela - sobre uma trave móvel -  a erreira - de madeira de carvalho nos fundos da casa.

Acima da moega (caixa onde se deita o grão)  e preso à árvore (vertical) está um  carreto ligado ao  eixo da mó, comunicando  com  uma roda pequena dentada a que chamam  entrosga, com cerca de 1 metro, que se move sobre eixo (horizontal) vindo de um orificio na parede lateral da azenha  e que se comunica com a grande roda exterior. Assim se transformando o movimento vertical em horizontal. Mas como o carreto tem menos dentes que a entrosga, acontece que por cada volta da roda vertical , dará várias  voltas a mó, potenciando assim  o seu movimento. 

A boca da calha contém uma porta ou pegadouro que o moleiro pode accionar, desviando a água  quando quer parar a mó.

À entrada dos canais sob a Levada há adufas (comportas) de carvalho a que chamam madre. Nas azenhas a água corre assim velozmente por calhas inclinadas batendo nas pás das rodas inferiormente. Estas calhas inclinadas, umas são descobertas de pedra, outras cobertas de madeira, terminando junto às rodas por uma caixa com grades de pau de freixo ou carvalho.

O fluxo de agua é ali regulado também por cunhas de madeira que tapam ou destapam em parte a corrente de água. Assim se domesticam as ninfas aquáticas a que Ceres ordenou que fizessem o trabalho, antes escravo ou animal, de moer o grão e elas obedientes descem sobre as rodas fazendo girar o seu eixo por meio das palas que o rodeiam e com ele as pesadas mós... segundo um epigrama de Salónica! “ (...)


LAGARES  DE AZEITE 

      “ Chegámos agora ao Porto de Cavalos junto à ponte de pedra sobre o rio, a qual acaba no largo mouchão da Levada e continua depois por pontão de madeira sobre a dita levada, até à  Corredoura. Daqui se avista acima da ponte o grande açude de pedra erguido pela Ordem no rio  de modo a represar a água e elevar o seu nível. E uma adufa que regula a água da levada para os moinhos e lagares.

Aqui é portagem de almocreves que chegam do Alvito ou da ponte de Peniche e outros lugares. 

Molhos de ervas são comprados para as montadas que vem cansadas dos velhos e longos caminhos. Ponto activo de trânsito dos produtos que entram e saiem da vila,  pois é grande o movimento nesta Via, na estrada entre Coimbra e Santarém, a região principal produtora da melhor  qualidade de azeite, terra do Sangraal da mais e melhor Luz sobrenatural que alumia os crentes! 

Aqui se descarrega a muares a azeitona da dízima e das rendas de foros.

Assim a oliveira, árvore emblemática da paz, é  transformada  frente à memória da divina paz ou  de S.Iria (do outro lado do rio) em cujo telhado as pombas simbólicas descansam.

 Aqui onde chega agora mais um muar carregado de oliva, conduzido por um judeu, qual Messiah entrando no  burgo ierosomolita, vindo do monte das oliveiras acima de Sta Maria dos Olivais.   

Esta oliva se guarda na Tulha ou paço de verga - mui movimentado neste tempo de safra - que fica sobre a ponte de madeira que é sobre a Levada  construída pela Ordem e que transporta a água vinda da comporta reguladora a montante do rio. Esta tulha é uma casa de madeira (10x5m) com uma dezena de caixas enormes de madeira – de 1 vara de altura- alinhadas de encontro às paredes, divididas para que não se misture o azeite de dias diferentes, pois sua fundição é diversa e onde a azeitona fica á espera de vez de ser moída no lagar ao lado, pertença da Alcaidaria. Na tulha cheia e fechada a azeitona recoze às vezes, sendo a casa não arejada e não seca, estragando-se pela demora e saindo o azeite mui ácido. À porta o escrivão e medidor - o Frei dizimeiro - anota tudo que entra e sai, pois se paga o dízimo à boca da Tulha, segundo o costume. 

E sendo levada nesta altura uma moedura (de 40 alqueires, segundo nos informam) da tulha para o lagar, neste se abrem as portas e somos recebidos pelo Mestre Lagareiro, homem de baixa estatura, mas bom sabedor do ofício, “ parvus sed magnum”, que nos vai  mostrar  como funciona e assim nos iniciar nas artes da oliva e do seu precioso óleo, símbolo  da misericórdia divina...e desde logo nos sentimos submergidos num intenso cheiro a azeite novo!

O lagar é casa térrea  de duas águas de forma abarracada, de pedra e cal, madeirada de castanho e carvalho e coberta de telha vã. As fachadas da casa-moenda tem 2 níveis: o mais alto virado para a Levada, onde entra a agua que desce em  declive, batendo contra as palas da roda vertical de madeira  e o mais baixo a oriente por onde se vai a água, para o nível inferior do rio, por canal e corredor entre lagares.

Por  dentro uma sala grande, de 20 x 15 varas, imersa numa escuridão só vencida por candeio de barro de torcida de trapo, pois o azeite se obra melhor à sua própria luz!  

Primeiramente nos chama a atenção, por seu movimento, o pio ou grande tanque redondo de pedra com cerca de 1,5 varas de largo, de paredes inclinadas, onde se deita a azeitona por cestos de verga, para ser esmagada. Dentro do pio  as 2 galgas: grossas rodas de granito verticais unidas ao eixo  central - a baluga -  por grosso ferro e que girando  à volta, a uma velocidade múltipla da roda exterior, segundo o princípio já dito atrás a propósito das entrosgas das moendas, vão esmagando lentamente a oliva  e transformando-a numa pasta escura  e gordurosa!  

A azeitona moída escorre para uma talha grande, enterrada, com tampa de pau. Aí a massa ou murraça escura é tirada com gamela ou tacho de madeira de 1,5 alqueires para as seiras que são sacos de esparto redondos e largos de cerca de  1 côvado com  suas abas no cimo e terminando por uma abertura ou  boca de um palmo. Cada  seira leva a massa de uma gamela tirada, havendo ali várias seiras, onde trabalha um ajudante do lagareiro.

Depois de cheias, as seiras põem-se empilhadas, para serem prensadas, sobre a  sertã  redonda de pedra. Sobre as seiras colocam-se umas travessas de madeira, por cima das quais assenta a vara ou prensa torcular, actuando de cima para baixo, comprimindo a massa de azeitona a fim de extrair o azeite. Esta vara é um grosso e informe tronco de árvore na horizontal de umas 10 varas de comprido com um cabo mais estreito encravado na parede da casa  e no outro extremo, mais grosso, há um orificio onde trabalha o fuso ou parafuso de madeira - terminando por uma pedra de peso – descendo a vara através do fuso ou rosca de carvalho com sua tranca movida a braços, descarregando a sua força sobre o ençeiramento.

Este lagar da alcaidaria  tem 2 varas destas com suas peças e aparelhos. Cada vara prensa 2 zonas de enceiramento ou alquergues. Trabalhando noite e dia - pelo que o mestre dorme no lagar a bem da vigilância - pode moer até 4 vezes ou seja tem uma capacidade de 160 alqueires (4 moeduras de 40 alqueires). Ora sendo a capacidade da tulha de uns 5 mil alqueires, levará um mês exato a moer…

 Depois  de espremida a massa, procede-se à caldagem:  levantando-se a vara e remexendo a massa espremida na seiras, deita-se-lhe água a ferver, aquecida na caldeira sobre a fornalha e baixa-se de novo a vara.                                       

As seiras espremidas pelo peso da vara escorrem por meio-dia seu azeite e água ruça pela bica da sertã, ali onde um candeio de barro alumia. Donde sai por calha para um vaso de barro instalado  numa espécie de bancada com altura igual à altura das tarefas, um pouco abaixo da sertã e à sua frente.  

De formato redondo a tarefa (no norte chamam-lhe Tesouro, vera riqueza da Ordem! ) é onde  se efectua a separação dos líquidos lentamente. O azeite e a água se separam, vindo o azeite à superfície, porque mais leve. Enquanto a água ruça  resíduo mais denso que o azeite  se deposita na parte inferior da tarefa.” (...)

(Nota: os termos técnicos vão explicados no livro em rodapé)


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Moendas na Terra Santa


—   Vejamos agora o que se passa(va) na mesma época na Terra Santa. Baseamo-nos num artigo de  Rabei Khamisy da Univ de Haifa, sobre as moendas do Templo em Acre, que eram de…açúcar ! (artigo comentado pelo arqueólogo  Adrian Boas, n/ conhecido dos Encontros de Ordens Militares em Palmela).


Desde Março 1160 (coincidência significativa: data coeva do castelo de Thomar)... que um  homem chamado Reinaldo Falconiarium  recebeu proposta do rei(no) latino  de Jerusalém  para desenvolver a indústria do açúcar e  seus  moinhos na região de Acre no tempo das Cruzadas.E a situação no séc XIII  na segunda metade do século era a seguinte:    Na região da Galileia os templários possuíam o castelo de Safed , um dos mais   importantes do reino cruzado,  além do castelo dos Peregrinos a sul de Haifa (de que já falámos, em blog anterior)… sendo no espiritual vizinhos do monte Thabor.


(Thomar ou Thabor ... a mesma Luz!)



Além disso a  Ordem estava envolvida na agricultura local, detendo terras  na alta e na baixa Galileia ocidental: na parte norte Somelaria, uma grande vinha templária  e na parte sul, os templários possuem Dochum e Thamr , anexas, sendo a maior propriedade de uma Ordem na zona do Acre…enquanto  os hospitalários detinham Damor e Tall Kisan  havendo noticia de terem recebido doações -segundo o seu Cartulário  geral - de um tal  Johannes Costa (português?) e um Johannis Marran (judeu?)... pois só as Ordens  tinham os recursos financeiros para levar a indústria adiante. Só as Ordens tinham capital para construir os equipamentos e infra-estruturas necessários – os moinhos e os sistemas de irrigação.  Em 1262- assinalam-se disputas entre o Hospital e o Templo - sobre o uso da água do rio Bellus  na plantação da cana de açúcar (citado por Joinville).  Em Dochum o Templo possuía  um moinho fortificado com seu reservatório, na região de Recordana  onde havia uma casa importante do Templo, onde se faziam reuniões capitulares.


(Acre e seu termo, propriedades)


 –O emprego de moinhos de pedra seguido da prensagem (para melhorar a eficiência de extração) para o processamento da cana-de açúcar expandiu-se rapidamente durante todo o ciclo dessa cultura no Mediterrâneo. Na etapa de extração:  “ Os feixes de cana são levados por jumentos ou camelos à “casa da cana”, onde lascam a cana ao meio, cortam as metades, sobre grandes mesas de madeira  levando-as para as moendas de mó e movidas à água, ou, á maneira das antigas prensas  de azeite, de alavanca ou parafuso” (sg. LIPPMANN, 1941, V.1, p. 271) . A moenda de mós de pedra utilizada era construída a partir de um grande disco de pedra com aproximadamente seis pés de diâmetro e peso superior a cem quilos, que na posição vertical, rolava circularmente numa espécie de tanque, esmagando a cana-de-açúcar.. A mó era  furada no meio onde era encaixado um eixo de uma roda horizontal. Nessa roda adaptava-se a força motriz desejada que fazia com que essa pedra, na posição vertical, girasse  em um movimento circular  triturando o material  à maneira do moinho da azeitona. O processo de moagem utilizado não proporcionava uma separação completa do caldo e do bagaço. Logo, utilizavam uma segunda etapa a fim de complementar o processo: punha-se o bagaço em espécies de sacos de junco flexível, e espremiam-no  em prensas de alavancas.,          –Existem relatos sobre a utilização adaptada de um outro tipo de moinho de pedra para o processamento de cana-de-açúcar, tratava-se de um moinho para produzir farinha de trigo . Esse equipamento era constituído de duas pedras circulares sobrepostas, a parte superior girava sobre a inferior que permanecia imóvel, os pedaços de cana-de-açúcar eram colocados entre as duas pedras e macerado. Depois o bagaço era prensado para melhorar a eficiência de extração.                                                                                               Na  Granada muçulmana em Espanha, durante o século XII , usava-se um pilão para a extração do açúcar . “cortava-se a citada cana, se está madura e boa, em janeiro: depois a recortam em pequenos pedaços, que são quebrados em pilões, moídos, fazendo-se o cozimento em caldeira” (Segundo LIPPMANN   no ano de 1150, em Granada, existiam  14 fábricas de açúcar que utilizavam pilões acionados por animais de carga ou pela força d’água.     

A  utilização na Idade Média do açúcar era principalmente medicinal. Acreditava-se que a saúde dependia do equilíbrio de elementos quente, frio, úmido e seco do organismo, e o açúcar era o componente quente e energético. O açúcar  era quente no primeiro grau e úmido no segundo. Isto tornava-o num alimento equilibrado e agradável, mas também se pensava que tinha propriedades que realçavam outros ingredientes, sendo por isso um componente frequente em receitas medicinais: letuários, xaropes e outros medicamentos.                         No “bairro” templário de Acre eram visíveis centenas de moldes para separar o açúcar em cones de cristal e potes cerâmicos de melaço liquido. Os moldes de açúcar eram feitos de barro em forma de cone com furo na extremidade.  Primeiro a cana-de-açúcar era picada, triturada e depois fervida em cubas. A mistura resultante era  despejada em moldes que foram colocados sobre potes de cerâmica. À medida que a pasta de açúcar esfriava e engrossava, o açúcar líquido pingava lentamente no pote como melaço, enquanto o açúcar cristalizado começava a se formar no molde. Ao final do processo o molde estava cheio de açúcar e o pote cheio de melaço.                                                                                                                  Como alimento na Europa só aparece em meados do século XIV e  devido aos altos custos da importação; só na mesa de luxo de reis, primeiramente, como alternativa ao mel.  



15.12.24

Onde pairam as luzes ou um familiar de Spinoza na Tomar medieva


Recentemente fui alertado por um post de uma companheira de jornadas culturais que referia o primeiro e original nome judaico do filósofo Espinosa, como sendo Baruch.

Nascido no Seiscentos em Amsterdam (Holanda), de origem judaico portuguesa, como tantos outros refugiados da nossa inquisição quinhentista e construtores da sinagoga portuguesa de Amsterdam, seiscentista.

Baruch o abençoado, estudioso da Bíblia e de Maimonides … fala da Natureza como Deus e da natureza humana como parte.

Spinoza foi um dos pais do iluminismo e do século das luzes,  a nova filosofia racionalista que defende a liberdade contra a opressão religiosa e o primado da razão para alcançar o conhecimento, alicerçando-se na dúvida cartesiana.

Ora cogitando…(como aquela lúcida parceira tb recomenda noutro post)  acerca do assunto, lembrei-me que na investigação para o meu livro “De Eyreia a Sophia” prestes a sair da tipografia, tinha encontrado um “Barufo” no rol de aforados nos inícios do Trezentos em Thomar, assim como um Adam , considerando a ambos como nomes judaicos.   

Conforme ao Apêndice documental de 1327 ( Rol das rendas afectas à Ordem de Cristo em Tomar), publicado por Isabel Luísa Morgado de Sousa e Silva da Univ. Portucalense, in Militarium Ordinum Analecta, nº 1 de 1997, pág. 110; ali se refere a comenda do Prado com seus 6 moinhos horta e olival que valiam de renda 600 libras em 1327, comenda a que também pertenciam os foros das oliveiras que tinha o “Barufo e seus ereus” (herdeiros).

Analisando este nome, encontrei também em outros registos e coevamente um Baruc dito judeu na Guarda, assim como um Baruch dito judeu em Monzon, na Espanha sefardita.

A comenda agrícola e templária do Prado foi iniciada com a primeira doação à Ordem do Templo de uma herdade com seus moinhos no loco, feita por Dom Ouro, cinco anos depois da data do II Foral gualdinico a Thomar, que este ano comemoramos. 




Mais tarde a Ordem de Cristo anexando no quinhentos mais terras - por iniciativa do inquisidor mor frei Antonio de Lisboa - criou a Quinta da Granja, que além de notável edifício para descanso e meditação dos freires, ainda hoje contém os restos de um lagar de azeite.

Possivelmente aquele onde o Barufo ancestral moía a sua azeitona, que bem podia ser recuperado em parte para visitas de estudo pelo menos e quiçá chamar-lhe o moinho do Barufo! 

E sendo assim ancestral da família Baruch que deu origem séculos depois a tão famoso filósofo- Spinosa- diremos que os genes de tal pensador andavam por aqui há muito…bem podemos dizer que pairavam aqui as luzes que haviam de vir (o advento da luz) nascendo das trevas da opressão.

Quanto ao edifício, já do seiscentos, ostenta uma “bela fachada nascente, de loggia palladiana (influência italiana) com seu frontispício maneirista” sg  José Augusto França. E tudo o que descrevemos atrás é razão suficiente para dar o nome de Espinosa a uma ala ou sala deste  edifício: um valor acrescentado para seu futuro!   


 Nota: Na 1ª Imagem - o pensador de C. Marina -  em analogia ao  monumento em Haia a Spinoza: “a suave cabeça pensativa“ no dizer do filósofo  Renan.


30.6.24

Junho 1174- 2024 850 anos dos forais Thomar II e Ozezar




 Junho 1174- 2024

850 anos dos forais Thomar II e Ozezar 

Sabedor da ocorrência de roubos e injustiças na região de Tomar e Zêzere – onde já haveria várias centenas de colonos com suas famílias, demonstrando ser o seu povoamento um caso de sucesso ao fim de apenas 12 anos, o mestre templário Gualdim Pais conclui da necessidade de nova carta de firmidão estabelecendo normas jurídicas precisas.

Este 2º foral vem assim completar o anterior (de 1162) regulando melhor a vida na comunidade: precisando as coimas para os delitos contra outrem, contra a família, contra a propriedade e contra o senhorio.

Carta que se inicia pela  fórmula “ Assim como se lê em Salomão:  amai a justiça vós que julgais na Terra”   e que se repete nos forais de Ozêzar e Pombal, mostrando assim que aqueles cavaleiros não se chamam Salomónicos, apenas porque se sediaram originalmente junto ao templo de Salomão em Jerusalém, mas sim pelo seu conhecimento de Salomão e dos salmos bíblicos, de onde retiraram aliás seu hino único entre as Ordens religiosas e militares!  O preâmbulo (deste foral) lembra ainda as influências espirituais crúzias de Gualdim, segundo a fórmula das Cartas de Liberdade nas comunidades de Regrantes, que afirmam o desprezo de bens terrenos e a intenção de os utilizar para alcançar a vida eterna. 

II FORAL a THOMAR - 1174 


“ Em nome de santa Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, Porque Deus Todo Poderoso, recto juiz, manda a todos os senhorios com poderio na Terra para governarem os pequenos (dependentes), em Justiça e Igualdade, assim como se lê em Salomão: amai a justiça vós que julgais na terra.

Por isso eu Mestre Gualdim, avisado pela mercê de Deus, conjuntamente com meus freires, concluímos da necessidade de livrar de danos e roubos o povo em nosso domínio.

Pensando mais em alcançar a saúde das almas que a defesa das cousas temporais e

ilusórias, damos porém (estes) degredos (leis) nas terras sob nosso poder estabelecidas.

Se alguém raptar ou matar ou assaltar casas com armas ou ferir ou quebrar portas no couto de Tomar, peite (pague) 500 soldos e se fora da vila peite 60 soldos.

Mando que cada um tome aquela que haja recebido por mulher ou filha sua que ainda não for casada, onde quer que a achar, sem dano e o filho que seu pai tiver em casa por ser mancebo, tome-o sem dano onde quer que o achar, se não quebrar portas ou ferir alguém ao apanhá-lo.

Por lançamento de esterco à boca de outrém, em qualquer lugar que o faça,peite 60 soldos.

Se alguém ferir pessoa de sua condição por ira, no couto da vila, pague 60 soldos

e se fôr fora 30 soldos. Só feridas intencionais e não outras.

Quem juntar amigos ou parentes com armas e paus, e se ferir outrém , se o provar ser verdade a inquirição, pague 60 soldos.

E por membro mutilado pague 60 soldos.

Por todas as feridas, que deva reparar, sofra castigo com vergasta (açoutado com vara) segundo o foro velho de Coimbra ou indemnização àquele a quem deve satisfazer (vítima).

O sinal do alcaide ou do juiz, seja tido por testemunho. (Contas serão prestadas apenas perante o alcaide ou juiz).

A casa de alguém não seja penhorada, antes de ser chamado a juízo (ou seja: ninguém pode ser condenado, sem primeiro ser julgado).

Se alguém demandar algo de outrém, responda perante as justiças e o comendador da casa, por direito.

Se algum devedor fôr revel e aquele a quem deve , não puder reaver o que lhe pertence, se este fizer composição (acordo) com o mordomo, este (último) não haja senão a décima do que tirar dos bens do revel, salvo se fôr de usura(empréstimo com juros); se o fôr, fique com quanto acordar com ele.

Todas as acções do mordomo sejam por recta averiguação (ou seja: as penas devem ser precedidas de audição de testemunhas).

Quem souber a verdade e a falsear na inquirição (falso testemunho), indemnize-se quanto fez perder àquele e ao senhor da terra outro tanto (de coima) e nunca mais seja aceite como testemunha. Se algum vozeiro (procurador) se compuser (conluiar) com o mordomo, e se provar que recebeu algo por isso, acorde /indemnize segundo o valor da demanda e se não tiver com que pague seja atormentado (castigo corporal) e não seja mais ouvido , salvo se der fiador, nas mãos da justiça.

Proibimos a todos aqueles que fazem de procuradores (vozeiros) falsos, e não têm procuração (carta) para tal, pois certamente por tal (praga) toda a terra é prejudicada.

Se alguém se queixar em Concelho de alguma coisa, que o Mordomo e a Justiça estejam presentes, e o mordomo não tome aquela queixa por voz (procuração) salvo se aquele que a queixa fizer, disser ao mordomo: “Dou a ti esta queixa por voz” (comportando-se assim como procurador).

Se alguém em defesa do seu agro (campo) ou da sua vinha ou de sua almuinha (horta) bater no ofensor e este seja ferido ou chagado, o senhor da vinha não pague e se o ofensor ferir o dono, satisfaça-o e qualquer dano que aí fizer corrija-lho.

Proibimos que alguém empunhe armas na vila; se as usar mesmo sem ferir, perca-as.

Se alguém falsear medidas ou côvados peite (pague) 5 soldos.

Se alguém tomar algo à força de casa de outrem ou de fora, e o seu dono apresentar denúncia ao comendador, alcaide ou justiça, ou mordomo, pague a dobrar.

Se alguém em juízo acusar sua mulher de adúltera, os seus bens sejam em poder

do senhor da terra.

Proibimos que alguém ouse cortar com vala, carreiros ou estradas públicas do

concelho ou meta marcos. Quem aquesto (isto) fizer, corrija-o pelo uso da terra.

Jugadas sejam por quarteiro (medida) de 16 alqueires, do costume.

O Almotacé seja do Concelho. Mordomo, saião e justiças e porteiro do alcaide, sejam coutados (afiançados) em 500 soldos .

Quem fizer furto, pague segundo o costume da terra ou seja condenado. Quem achar ladrão ou criminoso prenda-o segundo seu poder, sem morte ou vingança dos parentes. (pois era frequente os ajustes de contas pessoais, a vingar o “sangue”).

Se alguém entrar em vinha ou almoinha de outrém, furtivamente de dia, por motivo de comer ou meter o seu animal na forragem de alguém, pague 5 soldos.

Se alguém trouxer alguma cousa da vinha ou almoinha no regaço ou cesto ou taleigo ou ceifar forragem pague 1 maravedi. E se alguém de noite fôr apanhado furtivamente em vinha ou forragem ou almoinha, pague 60 soldos e o que trouxer vestido; e do dito que pagar, haja o dono do agro a metade (a outra metade à Ordem) e se não tiver com que pagar, prendam-no por 1 dia (mão pregada na porta) e depois açoutem-no.

Se mouro de alguém, sem correntes, fizer danos, seu senhor responda por ele segundo o dano que fizer ou deixe-o na mão do mordomo. O mordomo não prenda mouro de alguém, se trouxer correntes, ou moura solta, por qualquer dano, mas se o senhor da terra e o concelho acharem que tal cousa fez que deva ser apedrejado ou condenado à fogueira, apedrejem-no e queimem-no. Se tal cousa fez, que deva ser açoitado, açoutem-no e depois que forem açoutados, tanto o mouro como a moura, dai-os a seu dono. ( No Andaluz muçulmano, também se previa a morte para certos casos, com cativos cristãos...)

Quem servir de fiador, se não cumprir segundo o acordado, pague o necessário.

Quem vender vinho no período de relego (tempo em que a prioridade de venda do vinho era do senhorio) pague 60 soldos e por quantas vezes fôr achado a vender o vinho, por essas tantas, pague 60 soldos.

E toda a besta de carga que vai à eira ou lagar (fazer transporte de aluguel) faça foro de almocreve. (faça ou pague o serviço de um dia por ano)

Estes crimes mandamos julgar e não outros.

Dos moinhos não tomem senão de cada 14 alqueires um (taxa de moagem), sem dádivas (gratificação).

As maquias (medidas) sejam aquelas que as justiças e o concelho acharem por direito e se o moleiro outra cousa fizer, este, com todos os seus haveres seja em poder do mestre (preso).

Se o mordomo ou justiças, quebrarem este nosso direito, por dinheiro ou por compadrio (corrupção) ele e os seus bens sejam em poder do Mestre e dos Freires.

E de jugada (tributo) mandamos que os lavradores deêm por jugo (junta) de bois seis quarteiros (= 1.5 moios: 96 alqueires); e 3 sejam da melhor colheita que fizerem, ou seja: de trigo, cevada e centeio. E de milho painço se o semearem, outros 3 quarteiros.

E qualquer lavrador que trabalhe com 2 jugos ou 3 ou 4 ou 10 ou 20, não dê mais de 6 quarteiros, por cada jugo, se trabalhar todo o campo.

E o cavão (só enxada, sem bois) dê de jugada 6 alqueires. Se fizer mais de 3 geiras de terra, dê 1 quarteiro (de jugada). E esta seja por quarteiro de 16 alqueires, pela medida do concelho.

Feita esta carta de Firmidão, no mês de Junho.

Era da Encarnação de Deus de 1174.

Eu Meestre Gualdim, que esta carta fazer mandei em sembra com todolos meus freires morantes em tomar aos vosos filhos e aos vosos suçesores afortalego e confirmo

Reinante dom Afonso Rey de Portugal filho do grande Rey dom Afonso neto do conde don Anrique e de dona Tareija e seu filho Rey dom Sancho com elle e sa molher Rainha dona Doçe.

Joanne clerigo de missa a fez: testemunhas frey arnardo ronchis, frey soeiro vermuiz, e frey elias, e frey manço, e frey martinho, e frey pedro, e frey ioane de gassia clerigo de missa. O conde dom afonso, pedro garsia alcaide de coimbra, pedro fernandiz, meestre fernando a uio, saluador meendiz, dom sancho, pay romeu (dos da Maia), martim de roma, pedro de calderas, pedro  muniz, pedro cassia, Garsia vermuiz(+1175,S.Pedro Fins), pedro meendiz, pedrairas justiça, gonsal boroa, pcdro gonsaluiz, testimoinhas.


Acerca deste Foral:


A Ordem nomeia justiças vilões (que devem ser integros,não sujeitos a corrupção) e que se rodeiam de seus oficiais (como o saião) e que em concelho (reunião) de homens-bons da vila, julgam os casos havidos, com audição obrigatória de testemunhas.

O mordomo anda pelos lugares fazendo a cobrança dos foros e aplicando coimas; enquanto o almotacé fiscaliza as trocas mercantis e as medidas usadas, segundo o padrão aprovado.


Esta figura do Almotaçé reporta-se aliás à tradição muçulmana e ao modelo andaluz almorávida, segundo o Tratado jurídico sevilhano de Ibn Abdun, cujo artigo 32º afirma ser o almotaçé a “língua do juiz”, seu lugar-tenente, homem de bons costumes, rico e considerado, que exige o cumprimento da Lei.


Oficial usualmente bem ligado ao concelho; assim em actas medievais da vereação de Braga - a título de exemplo e informação - observa-se que nos primeiros meses do ano (que começa em Março)  serão almotacés: no 1º mês os 2 juízes velhos   (do ano anterior), no 2º mês  2 vereadores, no 3º mês 1 procurador e  1 vereador, nos outros meses homens-bons escolhidos por pelouros.

Por outro lado, como fonte de receitas da Ordem, estabelece-se a Portagem, ou seja a cada porta (entrada) da vila, são postos 2 homens-bons que verificam, um a um, os mercadores e as mercancias (caça e pesca) que por ali passam, aplicando-lhes taxas próprias, das quais os vizinhos (residentes) estão isentos.

Quanto às coimas, geralmente metade da importância pertence ao ofendido e a outra metade da receita, é para o senhorio da Ordem (Templo)...Aplica-se a punição física apenas aos de condição inferior ou aos que não possam pagar a coima estabelecida.


A jugada (originalmente, lavra com jugo de bois) costumava pagar-se pelos dias santos festivos até ao Natal e segundo os costumes de Coimbra, só se paga 3 anos depois de começar a cultivar.

Da parte da carta referente à jugada, se pode aliás inferir as condições de vida da peonagem cultivadora, segundo suas terras. Sendo a geira, a extensão de terra que uma junta de bois pode lavrar em um dia, que é próxima de 0,4 hectares e sabendo que nesta extensão se podem semear 4 alqueires de cereal, que por sua vez frutificará em média o quádruplo, teremos então, o quadro seguinte.  Para o caso do cavão com 3 geiras de terra, ou seja 1.2 hectares; ali semeará 12 alqueires e colherá 48. Pagando 6 alqueires segundo o foral, fica com 42 alqueires, ou seja 420 Kg de cereal panificável.

Ora, nesta altura, um homem do campo come em média 0.8 kg de pão por dia, o que dá ao ano 300 kg de pão ( se não houver percas na transformação, nem crises agrícolas...) sobrando-lhe então 120 kg ou seja 12 alqueires, exactamente aquilo que ele necessita de guardar para semente para o próximo ano! Uma vida de sobrevivência pura...

Quanto ao caso de um casal com por exemplo umas 30 geiras de terra, a situação seria francamente melhor: semearia 120 alqueires, colheria 480, pagaria 96 alqueires (6 quarteiros de 16 alqueires cada). Reservando outros 120 para semente no ano seguinte, ficaria com 264... mas como teria umas 4 bocas para alimentar (média humana de 1 casal de vizinhos) gastaria uns 120 alqueires panificáveis (a 30 por boca, como já vimos) restando-lhe 144 (mas se tivesse 2 jugos de bois, pagaria mais 96, restando-lhe 48 para vender ou para guardar para anos de crise...

Já o vinho, esse era grande alegria das almas e conforto dos corpos, pois rendia muito mais (embora tivesse de esperar uns 5 anos para começar a colher bem, nos anos seguintes). Um hectare de pés de vinha, podia render uns 4.000 litros de vinho, pagando 1/8 do foro (500 litros) restavam 3.500... e bebendo-se nesta época 2 litros/dia (necessário ao esforço físico) ou seja uns 730 litros anuais e mesmo que fosse uma família a beber por igual, ainda sobrariam para cima de 500 litros!

De mais e incomparável alegria, gozavam os freis do Templo, que o tomavam por sangue de Cristo- a “santa taverna de seu precioso corpo” (nas palavras de um monge franco) - e fonte de vida, (certamente como tal e não por acaso...colocaram uma laje com parra de uvas desenhadas a servir de dintel numa das portas do seu castelo em Soure!) e aqui a sul de S.Maria , fabricaram bom cerrado de vinha –certamente para os seus ofícios religiosos...principalmente aqueles em que se derramava vinho sobre o altar e se bebia dele.. em quantidade quiçá...porque a pedra era grande!

Também no arrabalde do castelo a que se chamava S.Martinho-o patrono do vinho- os monges interiorizavam a espiritualidade da vinha , segundo as Homilias Clementinas: os santos são os sarmentos, os mártires as uvas, os viticultores os anjos,o lagar a igreja ,o vinho a força do espírito (e não só)..

Pois que mercê dos foros recebidos, podiam atribuir 3,5 litros de vinho a cada frei , por dia, daí resultando a energia própria à duplicação do inimigo em combate (rachando-o a meio com o montante) ou até decuplicando-o nas crónicas monásticas (acrescentando mais um zero, no número de inimigos derrotados !)...Deo Gratias!






5.1.24

Crónica do ano 23

  


    

Este foi o ano das comemorações do VII  Centenário da passagem para a Glória do último mestre da Ordem do Templo , Don Vasco Fernandes, falecido em 1323, enquanto comendador da O.Cristo em Montalvão.

Um exemplo de transição  pacífica em Portugal, entre uma Ordem e outra, naqueles tempos áureos e  dionisinos, ao contrário de em outros países onde também existia a Ordem.

Este cavaleiro com origem no Entre Douro e Minho , como seu irmão, uma terra onde a Ordem começou, junto às vias de acesso a Compostela, enquanto também faziam assistência a peregrinos ( tal como no Oriente era sua função primeira) foi iniciado na Ordem, por seu tio (provável) D.João  Fernandes e foi feito mestre em 1295.

  No sábado , 22 de julho em Montalvão realizou-se a sessão  evocativa  O primeiro Orador foi Joaquim Nunes, presidente da Associação Cultural  Templ'Anima de Tomar, e membro do Conselho de Administração da TREF , que fez a evocação de Maria Madalena,  a Apóstola, segundo a nova nomenclatura do Vaticano e aqui presente em imagem original e única  nesta igreja de  Montalvão, sendo este o seu dia litúrgico. Destacando este facto, concluiu que uma terra também se  promove pela sua imaginária patrimonial.

Seguidamente sobre a vida do Mestre e da Ordem falou especificamente o presidente da Comissão  Científica portuguesa, dr.Ernesto Jana, com o recurso a mapas cronológicos e imagens monumentais ali projetadas.

Acerca das influências compostelanas presentes na lápide tumular,  única  possível de atribuição ao mestre Vasco Fernandes na igreja de Montalvão:  referimos  aqui a heráldica dos Fernandes segundo a imagem do livro do Armeiro-Mor (de 1509 a mando de Dom Manuel,  por João de Cros )   onde se refere Diogo Fernandes , nobre galego, conde de Portucale ,  séc XI e sec XII, conde de Guimarães, onde estão  presentes as vieiras . Quanto à lápide que se mostra da igreja matriz de Montalvão –onde descansa o mestre segundo as crónicas- anotamos que o hexafolio ao centro, está presente em várias  cabeças de sepulturas medievas em Tomar Quanto às vieiras : são o símbolo de um peregrino que regressa a casa do Pai , a Compostela- campus stella- campo de estrelas (ou via Láctea, a que todos pertencemos, com a Terra) – Dom Vasco Fernandes, companheiro de lutas com Dom Dinis e de  processos de paz: presente nos  acordos de Alcanizes, para definição de fronteiras.

A propósito, acaba de sair um livro de um ilustre montalvense-Luis Gomes- sobre este mestre. A ler !







Estiveram presentes no evento os coros de Jerez de los Caballeros  e  Canto Firme de Tomar . De notar a ausência do tb tomarense T.Honoris (tão omnipresente e avisado) mas que vestindo sua indumentária templária , prefere fazer presença em inauguração de hotéis…(será este um dos tais “  detalhes que  fazem a sua diferença” ?) ...e ser “cenário “  de um Grupo excursionista e “influencer” a querer meter-se em todo o lado, o dos  pobres Cavaleiros (sem cavalo)! .

No que concerne ao T. Militar , prossegue a sua saga desenvolvimentista assessorando a CIM Medio Tejo no que chamam um projecto piloto de âmbito nacional (!?)... mas afinal quem pilota aqui o quê ?...é caso para dizer tão novos e já pilotam (!) ,estes” líderes” de opinião!...Na sua óptica  de “estruturação” (ou será desconstrução?) de uma rede temática templária vão ampliando-a até com duplicações  estranhas. Por exemplo na Listagem de terras templárias anexam a  região do Foz  Coa…que não sei se alguém encontrou algum templário “grafitado”  nas rochas ou se é por causa de Muxagata que historicamente pertence à  comenda de outra região (Longroiva/ Meda) que tb está  na Lista e não pode estar portanto em 2 referências em simultâneo!  Também  inventaram na listagem de câmaras a abordar o Município de Idanha a Velha que evidentemente não poderá responder pq simplesmente não existe actualmente : só há uma câmara das Idanhas e é a Idanha a Nova ! 

Será um produto “templario”  diferenciador ou confusionista : que visa abranger uma salada de municípios (como Abrantes e Torres Novas) que tem a ver com outras Ordens ou eram régios !...No fundo, provém de um fundo (a-histórico) de “expertises” politécnicos, incluindo o homem que perdeu as eleições…E rematam que está previsto a sua divulgação no espaço europeu e internacional (outro?)... Na realidade o que se passa é simplesmente uma  forma de integração na Rota Europeia Templária , por exigência burocrático-financeira oficial , pois é impossível na fase actual, aderir à TREF, cada município templário português um a um , pelo que é preciso agregá-los  num colectivo associativo e depois sim fazer essa integração…coisa de que já se fala e sabe desde o episódio da Troika !  


Já nos bastava uma funcionária  autárquica  que confunde o tempo longo de Braudel com o  tempo longo dos cozinhados: arrolando na listagem de eventos templários um concurso de cozinha da TV realizado num jardim do burgo (omitindo outros, o que demonstra uma certa parcialidade) …ela que avalia eventos…nem distingue a dança arábica oriental de  outra arte ocidental !! (relembrando uma cena/ diálogo passado junto ao  NAC/Tomar) !


POR TOMAR INTERNACIONAL NA CULTURA E NA ARTE !

A nossa associação – Templ’Anima - também   colaborou na preparação da candidatura ao evento de arte contemporânea em Rovereto (norte de Itália, provincia de Trento) no Human Rights-Hope da AIAPI –Associação Internacional de Artistas Plásticos de Italia, único partner oficial da UNESCO no campo das Artes Visuais.  Evento internacional que decorreu desde 2 de junho até 2 novembro deste ano , onde participaram 38 países de vários continentes , sendo a tomarense Carla Marina a única portuguesa selecionada para esta mostra, por 5 meses, cuja duração é bastante excepcional.





Trata-se da maior exposição mundial de arte contemporânea dedicada aos Direitos Humanos, cujo curador, o Dr. Roberto Ronca, sabe fazer brilhar as obras dos artistas e potencializar a sua Arte. Conforme as suas palavras: "não damos prémios pomposos, mas a oportunidade de mostrar o talento de modo direto ao público... deixamos a aparência para os outros, nós somos a essência "!  Uma expo colectiva organizada em colaboração com a Fundação Campana dei Cadutti, sediada no norte de Itália, que propaga os Direitos Humanos, segundo as metas e objetivos da Agenda 2030 da ONU. Evento único no mundo , já na 17° mostra internacional e cuja vernissage decorreu no dia 2 junho. 



Este evento foi noticiado em primeira página pelo jornal Cidade de Tomar, mas houve quem deixasse cair a informação , enviada atempadamente, colocando-a em pendência permanente (portanto invisível)...como foi o caso de um site dedicado a Tomar, cuja motivação  ignoramos: será que o seu autor pensa que trabalhamos para a Câmara (em demasia, para o seu gosto?!)...a verdade é que não somos assim tão subsídio dependentes como outros ; se fomos à vernissage a Itália, cada um pagou a deslocação do seu bolso. Em vez de propagar uma artista da terra - cuja obra inclusive esteve este ano nos Corredores da  Assembleia da República  em Lisboa - ele prefere publicitar meias em plena Festa dos Tabuleiros…ah grande defensor da terra ou melhor das águas !


Para terminar , quanto a  este novo ano que começa - 2024  - e continuando na senda da exaltação da Urbe templária : propomo-nos  comemorar e destacar os 850 anos dos Forais de Tomar (II) e de Ozêzar .