27.12.18

QUEM FOI THOMAS BECKET ?


EVOCAMOS AQUI S.TOMÁS DE CANTUÁRIA , O PATRONO DA CHAROLA TEMPLÁRIA...
Está de certa forma tudo ligado desde o inicio...Tomás Becket nascido em Londres em 1118 (no mesmo ano de Gualdim) foi nomeado arcebispo de Cantuária em 62...no mesmo ano em que Gualdim com seus freires, dá o 1º foral aos moradores em Tomar.

Tomás, cujo brasão são os corvos da catedral é o Daniel inglês entre os leões - como no capitel da Charola- 2 leões contra quem teve de lutar em sua vida: um interno, outro externo. De um lado, um de cabeça inclinada- portanto já dominado- que significa a sua vida mundana de alegre cortesão e prazeres que mudou radicalmente,quando foi nomeado chefe da igreja inglesa, tornando-se moderado e temperado,mesmo ascético com o seu famoso cilício sobre a pele,estabelecendo regras severas para si próprio,de disciplina pessoal e devota oração,para exempla de sua igreja....Do outro lado ,o leão de cabeça levantada, arrogante, o brasão do rei inglês Henrique II, que o persegue por ele não ser afinal dócil a seus desígnios de subalternidade da igreja em relação ao poder real...

IN illo tempore, vivia em Londres, um próspero mercador normando de Rouen ,a quem aconteceu nascer um filho varão, a que foi posto o nome de Tomás ,por ter nascido em dia de S.Tomé apóstolo. E estávamos no ano do Senhor de 1118.
Primeiramente educado em Merton Priory, mosteiro da ordem dos cónegros Regrantes de Santo Agostinho, nos arredores de Londres, acabou seus estudos em Paris e Auxerre, adquirindo uma excelente preparação em matéria de direito civil e canónico .
Regressando a Inglaterra em 1142 , brilhou em casa do então arcebispo de Canterbury, Theobaldo, que reconhecendo suas capacidades , fez uso dele em varias negociações delicadas e o ordenou arquidiácono.
Dotado de bom discernimento e grande eloquência, era empenhado em tudo que fazia... jogava nisso o coração e a alma.
Assim, Teobaldo o recomendou em 1154, ao novo rei, Henrique II para o importante lugar vago de chanceler, por sua eficácia e zelo administrativo.
Aparentemente baseado no facto de serem ambos -Henrique e Tomás -temperamentos semelhantes, .a sua amizade cresceu profissional e pessoalmente:deles se dizia que eram como”um só coração e uma só mente."..
Como chanceler, as ambições do rei tornaram-se as suas. Procede à recolha equitativa de impostos,diligentemente em apoio da politica real..., junto dos proprietarios rurais, assim como dos clérigos que não fazem serviço militar , muitos se queixando do pesado encargo .
Companheiro de Henrique é um extravante cortesão : aceitando todas as riquezas que advêm do cargo, ele viveu sumptuosamente em entretenimento e caçadas. .Quando se deslocou a França em 1158 para negociar um tratado de casamento real (entre filhos de reis) , ele viajou com grande pompa , com várias centenas de homens , cavaleiros e, clérigos , músicos, falcões e cães. No ano seguinte, liderou uma expedição militar a Toulouse, vestido de armadura, acompanhando o rei e juntando-se entusiásticamente aos combates

Morto Theobaldo , em 1161 o rei escolheu naturalmente , Tomás, para novo arcebispo., crendo que, com o seu amigo no mais alto cargo da Igreja na Inglaterra, haveria uma fácil aliança entre a Igreja e o Estado.
Tomás aceitou o cargo, como um serviço à religião, apesar das suas reservas. No entanto ,Becket nunca tinha sido ordenado. Assim,no sábado, 2 de junho, em Whitweek ele se tornou padre; na manhã de domingo, 3 de Junho,foi consagrado como bispo, e na parte da tarde, foi feito arcebispo de Cantuária , entrando solemente em sua catedral ...construída á imagem da basilica de S.João de Latrão em Roma...

                             

O homem do mundo é agora homem de Deus. ... Fiel ao seu lema, Becket entrega-se a seu novo papel de chefe da Igreja na Inglaterra com completa devoção ; concentra - se no papa e na Igreja, e contra os desejos do rei, renunciou ao lugar de chanceler.
E dá-se então a sua tão famosa mudança de vida. Tomás abandona todas as riquezas, repartindo com os pobres o próprio vestuário. Faz grande abstinência: “ fazendo seu corpo magro e sua alma gorda”.. uma tal alteração em seus hábitos e modos, que comentam alguns, "andar ali a mão de Deus", . Macerava-se com invulgar cilício, pois com ele não só envolvia o tronco, mas também as pernas, até aos joelhos :uma tunica feita de pêlo duro (tecido grosso e desconfortável ) cheio de grandes nós , que supliciam de modo incrível sua carne...directamente sobre a pele nua... dia e noite. Assim crucificava ele seus vícios e desejos mundanos, em orações constantes , vigílias prolongadas e disciplinas , chicoteando suas costas nuas ...em auto-punição!
Conta a Legenda Dourada que um dia, determinado sacerdote foi injustamente acusado perante o Arcebispo e por este suspenso do seu múnus. Tomás naquele dia deixara o cilício sob o leito, com a intenção de o recoser. Nossa Senhora apareceu então ao sacerdote, e assim lhe falou: vai ter com o Arcebispo, e diz-lhe que Aquela por amor de quem tu celebras missas, lhe recoseu ela própria o cilício que está sob o seu leito.Apressou-se o sacerdote em contar a Tomás a visão que tivera. Verificada a verdade, confirmado o prodígio, a interdição foi levantada .
Amando os pobres,Tomás Becket funda na época, o Hospital assistencial de Eastbridge em Cantuária.

Algum tempo depois, pela artes do diabo -segundo a Legenda - surgiu grande debate, variância, e conflitos, entre o rei e S. Tomás. A discórdia era sobre os direitos e privilégios da Igreja ,que Henrique acha cerceadores de seu poder... concretamente a questão controversa dos numerosos membros do clero que cometiam crimes graves .
Muitos deles, não ordenados sacerdotes , mas que podem exercer o seu direito a serem julgados nos tribunais eclesiásticos (por oposição aos seculares), onde vão receber muito mais brandas sentenças. Flagelação e expulsão, mas não morte ou mutilação... O rei quer que qualquer pessoa achada culpada no tribunal eclesiástico, possa também ser punida pelo tribunal secular.
Em janeiro de 1164, o Rei Henrique II preside à Assembléia de Clarendon (em Wiltshire), que procura legislar nesta questão . De um dos lados estavam ,os conselheiros reais, os barões, 3 dezenas de condes e outros grandes homens , como Hugh de Moreville, lorde de Westmorland no noroeste da Inglaterra e John Marshall ,com terras no Wiltshire ,estratega militar e pai de Gilherme ,o famoso cavaleiro que lutou em mais de 500 torneios sem perder algum...Do outro lado: Tomás arcebispo de Canterbury , Roger arcebispo de York e outros 12 bispos ao todo. Discutem uma lista de 16 cláusulas reguladoras das relações entre o direito secular e o canónico. A terceira cláusula aborda a questão dos clerihgos criminosos : “se o clerigo fôr condenado ou confesso, a Igreja não deve protegê - lo mais., poderá ainda ser punido no âmbito da jurisdição dos tribunais reais”. Outra cláusula,a sétima, defende que “ninguém da corte pode se excomungado ou suas terras interditas sem consentimento do rei”.
Becket protesta contra esta lei e o rei apelida-o de resistente e duro de coração(!) ...ao que Tomás responde que nunca fora seu pensamento fazer algo que desagradasse ao rei, na medida em que não ferisse as liberdades da santa Igreja, que irá manter enquanto vivesse...
O arcebispo com o apoio dos seus bispos, fez questão de manter esse privilégio da Igreja, não porque ele fosse a favor de tais clemências, mas porque perder, seria minar a base da imunidade do clero, era simplesmente uma questão de princípio! Recusando que um réu pudesse ser julgado duas vezes pelo mesmo crime, Tomás acaba mesmo por negar-se a assinar tais cláusulas, achando umas intoleráveis,outras impossíveis... para surpresa do Rei !

Tal significava uma guerra entre os dois poderes. Então começou a campanha de perseguição contra Tomás ... primeiramente uma reivindicação feita contra ele por John o Marshal...do qual a Gesta Stephani afirma ser” uma parte do inferno e raiz de todo o mal”...em que acaba condenado a uma multa... seguidamente são formuladas várias acusações contra o arcebispo, inclusive a de desonestidade financeira , datando de seu tempo como chanceler, onde foi alegado que ele deveria à coroa, a fantástica quantia de 44000 marcas, ou seja quase 30000 libras !...
Tomás é convocado para um tribunal real ,mas informa-o que não estando a igreja sujeito a autoridade temporais, teria apenas de comparecer perante o papa para resolver estas matérias; ao que foi respondido a gritos de "traidor” ...

Parte secretamente na noite mística de 13 de Outubro, (1164) e exila-se em França, sob protecção do rei francês Luís VII ,em Sens, Borgonha , na real abadia de St. Columbus, onde irá encontrar-se com o Papa Alexandre III... Mas mesmo aqui as dificuldades o afligem...
O rei Henrique responde com o confisco das propriedade de Tomás... e expulsa da Inglaterra, e de todas as terras de seus domínios, todos os homens , mulheres e crianças pertencentes á casa de Tomás !...

Conta a Legenda, que na tarde no dia de S. Marcos , o criado de s.Tomás, não põde comprar peixes para o seu jantar,sendo dia de jejum ,porque ficara sem dinheiro e acabou por cozinhar-lhe um capão assado. O papa foi informado de que Tomás não era tão perfeito como suposto, já que contráriamente à regra da igreja , comia carne nesse dia. O papa não acreditou e enviou um cardeal, que para prova colocou a perna do capão no seu lenço e o abriu perante o papa...que viu a perna transformar - se em um peixe chamado carpa!. E quando isto viu o papa, disse não serem verdadeiros aqueles que diziam tais coisas deste bispo..
Tomás mostrou então ao Papa os 16 decretos de Clarendon, que o papa condenou vivamente.
Em outra ocasião, estando em oração ante o altar de Nossa Senhora, na igreja da abadia de Ste Colombe , Tomás teve uma visão. Nossa Senhora apareceu-lhe e lhe predisse que ele devia sofrer martírio pelos direitos da igreja, quando sua casula mudasse de branco para vermelho....
A Virgem trazia numa das mãos uma naveta dourada em forma de águia e na outra um pequeno frasco ou tubo de vidro contendo santo óleo. E revelou-lhe que os reis deviam passar a ser ungidos com este óleo ,tornando-se campeões da Igreja. Ela lhe entregou este tesouro que depois passou das mãos de Tomás para as de um monge de Saint-Cyprien de Poitiers; aí foi cautelosamente guardado ,.sendo mais tarde, efectivamente usado na coroação dos reis...Esta Ampola é aliás uma das mais antigas peças do tesouro.real inglês...

As negociações entre Henrique, o papa e o arcebispo arrastam - se durante quatro anos..., .
Entretanto Tomás peregrina a Chartres e a Compostela ,tendo parado no Caminho em Caldas de los Reis ,na Galiza, como assinala uma igreja local...
Sucedem-se as tentativas para reparar o desacordo entre os dois homens..Em 66 Tomás acaba por excomungar 2 clérigos John de Oxford e Richard de Ilchester enviados ao serviço do rei por causa de seu entendimento com o anti-papa Pascoal III contra Alexandre III o papa legitimo.
Em 67 Reginald Fitz Jocelin o Lombardo, que servira na casa de Tomas é real mensageiro a Roma procurando uma solução diplomatic para o caso.
Tomás era apoiado também por João de Salisburia, clérigo pro-humanista,(afirmando o homem como um microcosmos ou pequeno mundo) que denunciara as intrigas feitas contra Tomás e se esforçara na causa da paz entre o rei e o arcebispo, nomeadamente atraves da sua obra “Policratius” onde falava das diferenças entre o tirano e o principe, o qual deve”amar a justiça” ( tal como Gualdim afirma ,na mesma época, em seu 1º foral aos tomarenses,feito neste castelo...) e que o principe não deve levar as pessoas de volta ao Egipto ou seja exilá-las...(como acontecera a Tomás e a ele próprio, João...) ...

Finalmente em Junho de 1170, dá-se um acontecimento fulcral: Henrique faz a casa de seu filho e herdeiro o Principe Henrique o Jovem, nomeando para seu protector Guilherme o marshall-o cavaleiro perfeito e leva-o a ser solenemente ungido e coroado rei em Londres ,sendo a coroação realizada por Roger, o arcebispo de York, quando esse direito foi sempre sob a autoridade de Cantuária. Então Becket … excomunga Roger e seus assistentes , Ranulph de Broc, Hugh de Saint Clair e Thomas Fitz - Bernard, por sem a sua autorização e consentimento, terem aproveitado a propriedade e posse da igreja de Cantuária.
Quando o papa soube que a coroação tinha tido lugar sem a sua permissão, ameaçou excomungar o rei, se ele não fizesse a paz com Becket. Henrique alarmado com a perspectiva próxima, de excomunhão por parte do próprio Papa, uma vez que isso implicaria um confronto aberto com as outras nações europeias ligadas a Roma, autoriza o regresso de Tomas...
Em 1 de Dezembro de 1170, Becket desembarca em Inglaterra. tendo na sua posse, cartas obtidas do Papa para suspensão do arcebispo de York, e os outros prelados que o tinham assistido.
Em sua viagem até casa , Tomás é saudado por multidões. Mas quase logo que voltou , uma deputação chegou pedindo - lhe que retire a sua excomunhão a Roger e aos outros bispos.. .. Becket concordou com a condição de que eles jurassem obedecer aos papa. . Eles recusaram e dirigem-se ao rei .queixando-se de sua aflição porque Tomás excomungara a todos que estava com seu filho em sua consagração...
Então ,furioso ,em um momento de raiva,Henrique terá pronunciado estas palavras fatais : "Não haverá ninguém capaz de livrar - me deste turbulento padre?"
E imediatamente 4 cavaleiros inimigos de Deus,se puseram a caminho para cumprir esse designio ..arregimentados por Roger em cujo coração o diabo tinha entrado ...diz-se que dera a cada um dos quatro homens 60 marcas em dinheiro...assim, o sangue dos justos foi comprado e vendido, tal como fizera Judas '...enquanto sentenciava : "Thomas, Thomas, eu vou ter um desconfortável travesseiro pronto para sua cabeça!.”... "

                                       

Ò admirável Pastor / das espadas, o vencedor/
Da Igreja o campeão / e vencedor do leão...

Nessa tarde invernosa, à hora de Vésperas, pelas cinco da tarde deste dia 29 de Dezembro, um crime abalou a Europa: 4 cavaleiros do rei Henrique de Inglaterra assassinaram o arcebispo de Cantuária, a golpes de espada, em sua própria catedral!... Assim foi martirizado S.Tomás no ano de Nosso Senhor da Encarnaçãode mil cento e setenta e nos 52 anos de sua idade ...e no quinto dia após o Senhor da Natividade, e mui significativamente no dia seguinte ao aniversario festivo dos santos Inocentes, ele tambem que vivera em inocencia e santidade...e acabara de receber a coroa celeste pelo martírio, sinal da recompensa,que nosso Senhor Jesus Cristo,lhe concedeu , pelo fiel combate, no serviço divino.
Estando o corpo ainda sobre o pavimento , cortaram pedaços de seu vestuário ,encharcado em seu sangue e distribuiram-no como precioso tesouro do mártir. O pallium e as sobrevestes feitas de pele de cordeitro, manchadas com o sangue, foram dadas aos pobres para rezar pela sua alma, mas alguns precipitaram-se a vendê-las por insignificante quantia ...Também todas as suas jóias de prata e ouro foram levadas ,entre elas um anel com uma safira fixada ,que jamais vira um melhor...
E retirada a famosa tunica –cilicio viram que seu corpo nu , estava cheio de cortes: já tinha recebido a disciplina 3 vezes ,nesse dia antes da morte...!
Os monges recolhem pedaços de seu cérebro brancos entre o vermelho sangue e colocam-nos em frascos ao lado de sua cabeça, Colocaram sobre ele seu pontifícias vestes e foi apressadamente enterrado pelos monges aterrorizados na cripta atrás do altar da Capela de Nossa Senhora dessa mesma catedral.




No mês seguinte o Papa Alexandre III excomungou a Inglaterra .e excomungou os quatro cavaleiros. Henrique ficou proibido de assistir à missa até reparar seus pecados. Os 4 cavaleiros , cujos nomes eram : William de Tracy, Hugh de Moreville , Richard Breton e Reginald fitz Urse; conscientes de seus actos , não se atrevem a voltar à corte do rei, retiraram-se para a zona ocidental da Inglaterra- em uma propriedade de Hugh de Moreville, no castelo de Knaresborough e lá permaneceram por algum tempo...evitados por todos, ninguém deseja comer ou beber com eles, .até mesmo os cães os desprezaram marcando -os eternamente com a vergonha... As propriedades de Hugh de Moreville foram confiscadas e ele fez sua expiação em cruzada na Terra Santa. William de Tracy reconstroi 2 igrejas como parte da sua expiação nas terras familiares do Wast Country. Reginaldo foge para a Escocia ,segundo alguns e Richard le Breton para a ilha inglesa de Jersey. ..
Apenas 3 anos depois da morte , o Arcebispo foi canonizado pelo Papa , por Bula de 12 de Março de 1173, dada em Segni e reza assim : .” Tendo , devidamente considerado os gloriosos méritos pelo que a sua vida foi tão ilustre, e a pública fama de seus milagres e o testemunho dado aos legados apostólicos e por muitas outras pessoas; tendo, por outro lado, a plena confiança em a testemunha, e tendo igualmente tomado conselho com os nossos irmãos na presença de um grande número de clérigos e leigos, temos na Quarta - Feira de Cinzas solenemente canonizado o referido arcebispo e ordenamos que ele deve ser numerado no rolo de santos mártires. Nós ordenamos a todo o corpo de fiéis na Inglaterra pela nossa autoridade apostólica para observar a sua festa todos os anos no dia em que ele terminou a sua vida por sua gloriosa paixão com a devida reverência.”...
No dia 21 de Maio 1172 numa cerimónia pública de penitência em Avranches na Normandia, o rei jurou, entre outras coisas, não obstruir qualquer recurso a Roma pelo clero e abolir todas as leis prejudiciais para a Igreja.. Mas o castigo divino cai sobre ele : em 1173, os seus filhos , auxiliados pelo rei de França, se revoltam contra ele, enquanto o rei da Escócia também aproveitou a oportunidade para invadir o norte da Inglaterra ...Em 12 Julho de 74 o rei Henrique II procura ajuda divina contra os rebeldes. Vondo a Cantuária para fazer penitência no túmulo do santo.
Depois mandou dinheiro para as Cruzadas...como parte da penitência..
Diz-se que ia a pé, descalço sobre o chão pedregoso, a fim de punir sua carne, e rezando. com saco de pano e cinzas sobre a cabeça.. por um longo tempo,, admitindo sua culpa e miséria,
Em seguida, retirando sua capa , foi disciplinado, em primeiro lugar pelos superiores hierárquicos e, em seguida, por monges. O bispo de Londres atingiu o rei cinco vezes, para os cinco sentidos em que ele tinha pecado contra Deus e, em seguida, o bispo de Rochester e, em seguida, o abade de Boxley, e, por fm recebeu três golpes de cada um dos 80 monges
Ele pediu perdão á irmã de São Tomás , abadessa de Barking no Essex e ofereceu - lhe um moinho em reparação; que valia umas boas dez marcas anuais . Revogou também as cláusulas mais polémicas de Clarendom...Mas de pouco valeu a Henrique o Soberbo, acabou roido pelo mal que o queimava e fazia uivar de dor, ficando todo negro, certamente chamuscado das labaredas do inferno... Cantuária tornou-se um lugar de peregrinação dos mais visitados a Ocidente ,como relata Chaucer nos Contos de Canterbury :
Surge nas gentes o desejo de peregrinação/e os romeus buscam lugares de remotos santos /
 de mui antiqua veneração / e vêm expressamente ... de todos os recantos!..
. . O seu túmulo converteu-se num centro de peregrinação de onde os romeiros trazem pequenas insígnias ( bustos de S.Tomás a cavalo, como os encontrados nos castelos de Palmela e Silves)..
                        

S.Tomás torna-se o patrono dos sargentos do Templo, sendo-lhe dedicada por sua irmã uma capela na igreja Rotunda de Londres ,junto à porta do hall . Na abadia de Windham em Norfolk é dedocada em 1174, também uma capela a Becket , servida por dois monges do mosteiro. Há notícia também de uma caixa-relicario francesa feita à volta de 1180 para albergar algumas das relíquias do santo na abadia de Peterborough . Em Salamanca constroi-se em 1175 uma igreja em honra de S,Tomas . Constroi-se tambem uma capela dedicada a S.Tomas na catedral de Toledo, mandada fazrer por uma filha do rei Henrique casada com Afonso de Castela. Tambem o castelo templario de Gisors na França tem uma capela dedicada a S.Tomas de Cantuaria na época...O seu culto apregoado por toda a cristandade.Fiéis de toda a Europa começaram venerando Becket como mártir :
Cessadas as obras corporais / começam as espirituais/
Mutos milagres aconteceram /logo nos anos que correram
Junto a seu túmulo se dão muitas curas de enfermidades ... São Tomás é forte em favor de Nosso Senhor Deus, todos podem ver : os cegos recuperam seu olhar, a sua fala os mudos, os surdos sua audição, o coxo seus membros, e os mortos a sua vida...Expressar aqui todos os milagres que Deus fez para mostrar satisfação por este santo , resultaria em árdua jornada... portanto, neste momento, quero transmitir - vos apenas alguns deles : uma série de milagres, que são descritos nos vitrais da ala norte da Trinity Chapel ,para onde vieram os seus restos mortais em 1220.: Ali vemos ,Tomás –curando a epilepsia da irmã Petronilla de Polesworth; curando a loucura de Matilda de Colonia; ressuscitando o goliardo Robert de Rochester; curando as vitimas de praga na casa de Jordan Fitz-Eisulf, curando Adam le Forester e William de Korlett. Multidões de viajantes a pé de todo o mundo, tomam frascos de água que levam para casa , como sinal de sua viagem e para curar enfermidades. .. . Depois de sua canonização.surgiram também lendas típicas de seu hagiográfico , como aquela da cidade de Strood, em Kent, onde afirmam que é devido a Becket o facto de habitantes da cidade e seus descendentes nascerem com caudas...pois que eles alinharam com o rei na sua luta contra o arcebispo, e para demonstrar seu apoio, tinham cortado o rabo do cavalo do bispo quando ele atravessara a cidade. ..
Conta-se que S. Luis, Rei de França, já possuidor da cabeça de S.João Batista na S.Chapelle... obteve de Inglaterra parte da cabeça do mártir S.Tomás, depositando-a na Abadia de Royaumont como preciosa relíquia... (pois merecia especial veneração a caput sancti Thome ,a parte do crâneo do mártir, aquela que havia recebido a unção)...

E em Portugal que se terá passado...até S.Tomas chegar aqui?
A questão explica-se como segue... Em 1185 o patriarca de Jerusalém Heraclio que viera à Europa com o mestre do Templo (o hispânico Arnaldo Torroja) na demanda de auxílio para a Terra Santa , encontra-se em Inglaterra, consagrando a nova Rotunda do Templo de Londres , junto a Fleet Street.   Devido ao falecimento súbito deste grão mestre, acende-se demorada discussão na Ordem, sobre a sua sucessão...È neste contexto que , se terá cumprido a tradição que fala da ida de Gualdim a Inglaterra , talvez a negociar mais uma vinda de archeiros para a luta contra os mouros …e certamente não deixou de participar nas discussões sobre o futuro da Ordem...
Pôde cumprir assim também , seu desejo de trazer para a sede de Tomar, relíquias (dois ossos da cabeça) de S.Tomás de Cantuária, pelo qual tinha grande admiração;para enriquecimento de sua igreja. Provávelmente foi feito na época um relicário com formato de cabeça para guardar aqueles ossos ( como era costume medievo, os relicários tomarem a forma da parte do corpo,a que pertenciam os ossos do santo)... A cabeça provocava medo nos iniciados ,pois era usada nas admissões da Ordem , como reíiquias a venerar...
Mas depois com a perseguição às cabeças, no tempo do tenebroso Filipe o Belo, esta desapareceu... embora ainda nas visitações de 1508 tenha sido inventariada no castelo templário de Pombal (2º em importância na região) ”uma cabeça” (sic) ... Seria essa a cabeça de Tomar, retirada para um castelo menos visível ?...ou os ossos foram então metidos numa caixa , como arrolados num inventário tardio da Ordem de Cristo ?.
O certo é que houve cabeças- relicários nas sedes templárias de Paris e Londres , assim como as havia em Portugal no sec XIII e fora da Ordem : caso da cabeça barbuda de S.Fabião, trazida de Aragão por D.Vataça (em Castro Verde actualmente) e em Ourém: existiu na igreja da colegíada, uma cabeça de prata com relíquia da beata D.Teresa, morta em 3/9/1266, a qual era permitido oscular em seu aniversário ...
As  cabeças, simbolo do espirito no corpo…eram um objecto simbólico de contemplação , também representadas em pintura, inspirando a concentração mental ou disposição espiritual ...O tema das cabeças - alusivo ao centro espiritual primevo - sempre esteve ligado aliás , aos templários desde seu início

Desde seu fundador, Hughes de Payns que ostentava em seu brasão, uma cabeça como peça heráldica... .também aqui em Tomar na Charola os relevos figurados dos capitéis da charola nos mostram uma cabeça entre ígneas espirais ou sarça ardente evocando o fogo espiritual que a anima....Assim como em Templecombe- no Dorset inglês- é famosa a pintura parietal de uma cabeça-Mandylion semelhante ao Sudario- de que se fizeram muitas cópias para adoração como relicários...
Aliás o próprio sudário de Turim foi trazido por um templário desde Constantinopla ...de seu nome ,Robert de Chari ,segundo a tradição...
                     
Também D.Pedro Sanches, filho segundo do nosso rei D.Sancho I, ao serviço do rei D.Jaime de Aragão e dos Templários e senhor de Maiorca, possuía em 1255 um anel de ouro com safira que pertencera a S.Tomás (sg. seu testamento)... E o mosteiro de S.Cruz de Coimbra possuía os “corporaes de S.Tomas ,com um pedaço de casula com que dizia missa “ (cf. rol de relíquias do mosteiro, feito em 1595).
Por sua vez a nossa crónica de Cister afirma em seu cap.XVIII que : era já tão  celebre o nome, da fama certa de milagres de S.Tomas que não havia em inglaterra , enfermo que chamasse medico em suas doenças ...porque nele e em seus milagres acham o remedio mais fácil...conta mesmo que alguém –por lei acusado de forma injusta agravada de roubo e  tirando-lhe os olhos e as partes genitais – invocou o santo e ao outro dia o santo lhe restituiu tudo em novo.!!!..

O nosso Infante D.Henrique se refere a seu culto em Tomar,numa petição ao papa Eugenio IV de 1434. E um de seus criados navegadores porá mesmo o nome de S.Tomás a uma das ilhas descobertas no arquipelago dos Açores...

Pelos séculos fora, o culto de S.Tomás se expande universalmente..., apesar da destruição de suas ossadas por Henrique VIII ,a quando do fim dos mosteiros na Inglaterra em 1538, embora existem aqueles que acreditam que uns ossos encontrados na cripta em janeiro de 1888, são o corpo do santo.

Afinal , o que mais une S.Tomás aos templários é o mesmo destino: o bispo e o último Mestre Molay – são vítimas da mesma estratégia real, atacando a independência da Igreja...

TODOS À CHAROLA (TOMAR) - SABADO 29 AS 15 HORAS

Fontes:
- A Igreja-Historiadores da Inglaterra,volume V, parte 1,págs.329-336. Tradução a partir de  Joseph           Stevenson.  Londres: Seeley's, 1853- Sources of British History
- A Sancti Libellus Cantuariensis Archiepiscopi Thome,  Arquivo da Sé de Tuy, Codex 1.
- Brito, Frei Bernardo; Cronica de Cister, 1602.
- Grim, Edward, Vita S. Thomae, Cantuariensis Archepiscopi e Martyris,sec XII
   tradução a partir da edição de James Robertson (London: Rolls Series, 1875-85)
- Voragine,Jacopus; Legenda Dourada ( sec XIII)..

14.11.18

Apresentação do Infante D.Henrique e dos seus espaços no Convento de Cristo em Tomar



 Eu o Infante don Anrrique, duque de Viseu e senhor da Covilhã, 8º mestre desta Ordem de cavalaria de nosso senhor jesus christo, porque a mim praz , lhes faço mercê , deste testemunho. Primeiramente a casa a que pertenço é a de Aviz : sou o 5º filho de D. João I e deD. Filipa de Lencastre, e nasci , mui significativamente, no primeiro dia da quaresma da era de Nosso Senhor de 1394 no Porto e na rua da Alfandega...frente ao cais da Ribeira.. Foram meus aios ,D.Vasco de Almeida e D.Mecia ,aqui sepultados Minha divisa:“Talent de bien faire” (vontade de bem fazer) quero dizer:a Demanda da Perfeição.
Ganhei as minhas esporas de cavaleiro (dadas por el rei meu pai,aos 21 anos) na luta contra o infiel,em Agosto de 1415, aquando da conquista de Ceuta, à mourama na costa norte-africana e em que chefiei uma parte da armada ,70 navios que trouxera do norte .. Esta conquista, serve a travar a acção dos piratas marroquinos que atacam a nossa costa , e abre ao Reino de Portugal as portas ao domínio do comércio que aquele porto exercia ...,.. .
A el rei meu senhor prouve de nos dar um título novo de nobreza: o de duque. de Viseu. 
E Fui nomeado protector da cidade de Ceuta . cabendo-me organizar a sua manutenção e defesa. ,
Dediquei-me ao estudo das Matemáticas, e em especial ao da Cosmografia, . e sendo aqui a extrema do mundo conhecido, atrai-me o desejo de desvendar os mistérios do Mar oceano para ocidente e para sul....Tinha vontade de descobrir se acaso “haveria ilhas ou terra firme”,.....encontrar portos em que sem perigo pudesse navegar, trazer para o reino muitas mercancias... . Queria saber se se achariam na costa africana príncipes cristãos que quisessem ajudar contra os s inimigos da fé..

Era o meu Plano das Indias ,. a demanda do reino de Preste joao... o lugar de Jamprestes. é sua memoria, aqui no concelho de Tomar...afinal o povo copta cristão da Abissinia que cultuava a Pomba do Espirito santo ,... Busco cristaos e mercancias e ganhar o Paraiso...terreal - pois naquele reino de Prestes joam se situa a arvore da Vida segundo o livro de Marco Polo a qual seca desde a morte de Cristi,reverdescerá quando for feito esse avistamento entre as brumas do mar Oceano... Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/Mas nele é que espelhou o céu .!...

 - El rei meu pai,meus irmãos e meu sobrinho , D. João I, D. Duarte ,D.Pedro e D. Afonso V, sempre me apoiaram em meios necessários ao prosseguimento da Obra . Chamam-me o Navegador porem confesso-vos não naveguei muito, mas fiz navegar bastante às centenas de escudeiros e criados de minha casa...…” Sou antes melhor dito,i o que dei grande incitamento as navegações portugueses -, impulsionei a exploração mercantil abriu novos rumos ao mundo ... com a cruz de Cristo nas velas.....
Em 1419-1420 alguns dos meus escudeiros, João Gonçalves Zarco e Tristam Vaz Teixeira desembarcaram então nas ilhas do arquipelago madeirense..., Em 1427. Viram terra a ocidente além do cabo Finisterra uma trezentas léguas que eram ilhas, entraram na primeira desabitada e acharam muitos açores e muitas árvores; e o mesmo na segunda a que chamaram de S.Miguel e na Terceira ...e vão-se-lhe dando nomes de nossa devoção ou desta vila ...ilha de S.,Tomás,.ilha de Santa Iria ....e procuro colonizar as ilhas que se vão descobrindo.,. mas primeiro que lhes mandasse gente, lhes fiz lançar toda a espécie de gados que se multiplicassem para sustento dos homens; assim é desde 420 no Porto santo ate santa Maria em 432 andou em todo aquele tempo o comendador de Almourol, Gonçalo Velho , todos os anos para ali conduzindo gados, e caças agrestes...
Um dia em 1434 ..recebi uma noticia que muito me alegou - em que me trouxeram rosas de S.maria, flores silvestres colhidas, como sinal de vida para alem do cabo Bojador o que todos julgavam impossivel Fora Gil Eanes meu escudeiro que depois de varias tentativas vencera o mar tenebroso ,as correntes e os ventos contrarios, os terrores dos marinheiros..julgando ser ali o reino da Morte ,o fim do mundo.... Vencido o monstro... a empresa continua . No ano seguinte, em 1435, o mesmo Gil Eanes e Afonso Baldaia meu copeiro ,passam o Trópico de Câncer e alcançam o Rio do Ouro, que o á ,em seu areal Com uma nova embarcação a Caravela a aventura sofre novo impulso.ate aqui utilizava-se a barca , pequena e frágil tendo apenas um mastro com vela quadrangular fixa e que não conseguia dar resposta às dificuldades que surgiam no avanço para Sul,como os baixios,ventos fortes e correntes marítimas desfavoráveis.Mas com a caravela.a qual se introduziram adequadas modificações provendo-o de velas triangulares, era possivel bolinar, i.é, navegar com ventos contrários.
No tempo d’el-rei d.Duarte meu irmão e -porque “entre as coisas que à cavalaria mais aproveita está o exercício das armas, no que os homens não só fortalecem os seus membros, mas ainda os corações " acordámos ir atacar Tanger para defender Ceuta... em 1437. ..porém internando-me em território inimigo e isolado da costa, as minhas forças são cercadas, e sou obrigado a prometer a paz e a restituição de Ceuta, e a entregar meu irmão D.Fernando –que se ofereceu por mim, que me oferecera primeiro - como penhor para poder regressar com meus homens a Portugal, trazendo comigo, por sua vez,o filho mais velho do governador de Tânger. ... Reunidas cortes de Leiria, em 38- há divisão de opiniões acerca da entrega de Ceuta, a que me oponho... admitindo apenas o resgate em dinheiro, ou de novo o recurso à força ...Morto el-rei D.Duarte por peste ,aqui em meu paço de Tomar, em setembro deste ano . apoio meu irmão D. Pedro na regência,durante a menoridade do meu sobrinho D.Afonso V.
Em 43 recebo o monopólio da navegação, guerra e comercio a sul do Bojador...e são-me doadas terras por el-rei -–ao cabo de S.Vicente ou promontorio sacro – onde construí uma vila nova em que passo a dirigir todalas as explorações acompanhado por um grupo de cartógrafos, como Jaime de Maiorca, catalão; . navegadores genoveses, físicos hebraicos como mestre Gadelha, e outros homens capazes no material e no ‘spiritual ..,Na vila,estabeleco estaleiros e oficinas de construção naval,.aqui aplicando os recursos da Ordem ,incluso o tesouro havido da Ordem antiga... 

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Ainda neste ano alcançamos a ilha de Arguim, onde os árabes mantêm um mercado regular de escravos e ouro ,pelo que ali mando construir uma fortaleza-feitoria . Em 44 dobra-se o Cabo verde e chega-se á Guiné , ultrapassando assim os limites a sul do deserto do Sará, o que permite desviar as rotas do comercio... E recolho boas informações sobre o caminho para Timbuktu ,famoso centro de caravanas –dominado pela grande mesquita de barro- que, no deserto, transportam as mercadorias preciosas do Oriente e da África, pois que João Fernandes, e Diogo Gomes já se tinham internado no interior daquele continente pelo pais dos tuaregues...

. .Alcançada a foz do rio Senegal em 1445, os navegantes informam-me para meu contentamenrto que mais à frente a costa começa a embicar para leste. . podendo assim realizar o meu Plano das Índias, não atravessando mas rodeando a África pelo sul...e descubro mui significativamente que o seu contorno desenhado nos mapas portulanos ´já estava há muito gravado em meu espírito.. estava afinal a minha vista da janela destes paços, pois é igual ao desenho que fazem as muralhas deste castelo...como podeis ver!

, Entretetanto fiz mediação “ para que cessassem os ditos hodios” entre o infante D. Pedro meu irmão e o conde de Barcelos,e duque de Bragança irmão bastardo e primogénito e o seu filho mais velho, o conde de Ourém  que mostrando desmesurada ambição- de que é simbolo os 2 gundastes elevando um lintel que diz Ninguem mais alto, desenhados nos seus castelos de Ourem e Porto de Mos-–pretendia para si o lugar vafgo de Condestável do reino- mas que D. Pedro destinara-o ao seu próprio filho mais velho .daí resultando o abandono da corte por parte do conde de Ourém Quando D. Afonso V atingiu a idade de governar e o o regente D.Pedro se retirou, para o seu ducado de Coimbra ,ali isolado e intimado ao desarmamento que o colocava à mercê des seus inimigos, saiu rumo a Lisboa com 6.000 homens acompanhado do conde de Avranches...mas é confrontado pelo exercito real ,cujo direito respeitei, perto de Alverca em Alfarrobeira. em –maio de 49 onde é mortalmente atingido por um projéctil na contenda....
Em 1455, veio uma bula do Papa Nicolau V concedendo aos reis de Portugal a propriedade exclusiva das terras e mares já conquistados ou por conquistar, possuídos ou a possuir. Com a noticia da perda de Constantinopla- reacende-se o espirito de cruzada e junto com meu sobrinho D.Afonso V vou de novo ate ao norte de africa , conqustando-se aos mouros em 1458 Alcacer-Ceguer .
Em 1460 a costa africana já esta explorada até a Serra Leoa. ...em cerca de 30 anos foram descobertos ,descritos e cartografados 20 graus da Terra...Com todolos problemas que pesam sobre meus ombros, já me vão embraquecendo os cabelos , minha vida não foi suficiente para realizar a Obra, mas a Obra valeu bem esta Vida!


Meus amigos…ides agora olhar os acrescentamentos que eu decidi mandar fazer neste convento de Cristo , aquando Mestre da Ordem, a partir de 1420.
Primeiramente , mandei rasgar 2 paredes da Charola contra poente e acrescentei-lhe um coro quadrangular (6x5 varas de largo) para ser igreja do Convento e depois juntei-lhe 2 fremosas crastas ou claustros , uma torre sineira e uma capela de S,Jorge no espaço vazio a meio.

Este Claustro do Cemitério ou Crasta dos defunotos foi o primeiro a ser construído, a meu mando e destinava-se a ser Crasta do jazigo dos religiosos e das procissões ,.



Tem planta quadrada, em forma de galeria abobadada de berço ,sendo de aresta nos cantos., onde estão pintadas cruzes de Cristo. Em cada uma das 4 alas apresenta 5 arcos ogivais, que se apoiam em colunas duplas , que embora emparelhadas 2 a 2 tem contudo cada uma , a sua base propria e um capitel decorado com folhagem enrolada … Cada canto é formado por 4 colunas adossadas ,estando num canto a assinatura de quem fez esta crastra.... Por cima da arcaria um entablamento... e gárgulas nos cantos
.Nos cantos das quadras havia 8 retábulos com as figuras de Cristo e Nossa Senhora, para as procissões e memoria de finados , sendo o chão lageado de pedras de sepultura numeradas –abertas na rocha viva, porque aqui era penhasco...
Daqui se sobe para a torre sinaeira e se vai a capela de S.jorge a sul onde está o tumulo brasonado de meus aios...
Na face leste a cada ponta uma porta de lintel com friso de rosas e sobre ele um frontão triangular...Tem uma cisterna ou poço de agua para prover as necessidades da sacristia
Mais tarde, depois de mim, vieram outros tumulos e capelas. No lado poente-a capela do Portocarrero- 1626- almoxarife das rendas da Mesa Mestral- para familia e descendentes- com brasão e com altar ao fundo, de paineis mais tardios de azulejo com cenas da vida de Cristo . Ao lado o túmulo de Pedro Alvares Seco- cavaleiro da Ordem de Cristo –compilador de escrituras e contador do Mestrado em arca sepulcral com piramide , as suas armas e a cruz de Cristo. Tudo inscrito num arco de volta inteira sustentado por colunas adossadas .
Na parede sul- o sepulcro de Baltasar de Faria- embaixador de D.Joao 3º- ao vaticano –a quando da entrada da inquisição- -formado por 2 pilastras suportando 1 frontao triangular- no meio um arco com as armas dos Farias e a arca tumular.
Outro tumulo deste lado , de 1523, de D.Diogo da Gama- irmão de Vasco da gama-capelão de el-rei D,Mauel- beneficiado da abadia de Tamarães num arco de volta perfeita decorado com folhagens. Apresenta um ornamento ou alfiz com coroa de folhagem- dentro as armas dos gamas e por cima a cruz de Cristo .Suportando a arca a meio uma cabeça de cão com 2 corpos...
Ide agora até ao Claustro da Lavagem também de fabrica quadrangular. -Por causa do desnivel acentuado em que foi construido-(5m.30) a meio de encosta isso fez com que este claustro tivesse 2 niveis ou pisos Um dos primeiros e mais ricos modelos ogivais em 2 andares da arquitectura claustral em Portugal 


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O piso superior com 6 arcos quebrados em cada lado sobre colunas finas emparelhados mas com capitéis unicos vegetalistas .Encimando a arcaria um entablamento com uma gargula em cada canto.A cobertura em tecto de madeira. Este piso que fica ao nivel do primeira crasta , chamam-lhe varanda dos paços porque para eles deita e serve-lhe a circulação
Na face norte- tem 3 janelas - na face oeste -2 portas comunicando com a outra crasra dos defuntos .Na face sul- tem uma escada que dá para a porta ogival para o jardim descendo e ha 5 janelas nesta face –na face leste-comunica com os paços tendo a meio uma janela conversadeira ...
No piso inferior há 5 arcos en ogiva por ala , assentes em grossos pilares octogonais sobre muro á volta e sem capiteis para melhor suportar o peso da galeria superior.
O Claustro da Lavagem, , era para os trabalhos de limpeza e arranjo das roupas dos monges , A meio em baixo um poço cisterna octogonal que recolhe agua das chuvas e 2 tanques /hoje alegretes de flores...Hoje a volta tambem se veêm muitas estelas de sepilturas achadas...
No lado sul dando para o jardim uma porta ogival suportada por 2 finas colunas com uma só folha de videira a servir de capitel... e no mesmo paramento 2 janelas de arco abatido de aberturas enviezadas- com pinturas a fresco formando pequrenos quadrados - com uma assinatura DP... e também na parede interior poente um estuque pintado com motivos geometricos... que alguns pensam ser jogos medievais para entretém do tempo... Aqui se instalam também algumas oficinas e por isso lhe chamam do lavor...-
Os meus paços onde vivi dos anos 20 aos 40 são de arcaria gotica feito sobre uma calçada antiga vinda do Terreiro ,ali onde agora se vê as marcas do rodado de um carro São Paços de varias salas sobradadas, por baixo atravessadas perpendicularmente por arcos apontados e janelas em cima com bancos de conversadeira e telhados madeirados e uma escada de pedra junto á muralha a norte,

Os meus artifices destes claustros –(sabe-se pelas siglas na pedra) - foram depois até a vila de baixo pela Riba Fria junto ao Chão de pombal, a fazer os Estaus com suas arcadas para abrigo dos mercadores que vem á minha feira que agora criamos em Tomar...com nossas boticas . Deo Gratias ! .






  1. Parte lúdica





a- De quem é esta assinatura e o que diz ?





b- Identificar o nome e local relativo á assinatura que está no claustro do cemiterio, num dos 4 cantos ...



c- visão significativa ... e comparativa...


portulano quinhentista com a costa de Africa   e recorte do castelo de Tomar

13.9.18

IX CENTENARIO DE DOM GUALDIM PAIS



1118- 2018  IX Centenário do Mestre do Templo e Fundador de Tomar

Evento integrado nas Jornadas Gualdinianas que se estendem por vários municípios onde o bravo cavaleiro deixou a sua marca !

E porque Tomar é membro da Rota Templaria Europeia tal deve ser assinalado obrigatoriamente em toda a comunicação local de eventos histórico culturais templários através do logotipo europeu aprovado ! 
Enquanto membro da respectiva Comissão Cientifica tal se deixa aqui anotado - neste teaser-   para que os do costume não façam "vista grossa" ao que se passa há muito no conjunto dos países templários ...

15.7.18

UM PASSO EM FRENTE, DOIS PASSOS ATRÁS...OU DE COMO OS ORGANIZADORES DO SEMINARIO DA FESTA TEMPLARIA RECUARAM NO TEMPO !



No momento em que urge desenvolver a Rota Templaria europeia , sendo a Festa templaria de Tomar uma de suas actividades integradas, os (3)organizadores diretos da sua parte mais cultural ou seja o Seminario da Festa realizado no dia de sua abertura -quinta, dia 5- “pecaram” gravemente por omissão ou desconhecimento.

Primeiramente , reduziram o tempo do Seminario de um dia para meio dia , talvez por não conseguirem encontrar mais oradores ( e não está em causa a sua qualidade)!
O certo é que ainda uma semana antes não havia nada visivel publicado sobre quem eram ( nem ninguém da cidade a quem perguntámos o sabia dizer). Quase parece que só pensaram verdadeiramente de véspera no assunto...que chatice : da expressão “turismo cultural” preferem dar primazia ao turismo e ao espectáculo...a parte cultural enfim, logo se vê, em cima do joelho...

Mais, enquanto o ano passado o Seminario teve uma componente europeia , este ano -entregues a si proprios- os ditos organizadores remeteram-se “oratóriamente” a uma visão caseira ou regionalista.
Mais, em materia de convites para a Jornada reduziram-se a uma visão ibérica oficial , “esquecendo” por exemplo os franceses de Troyes (habituèes) que só convidaram uma semana antes !(segundo nos asseguraram de origem) ...Claro que assim não vieram...se era isso que queriam!

E seria pedir muito aos organizadores que alargassem as suas vistas (ou falta dela) a outros horizontes ou paragens... bem tinhamos referido com uns meses de antecedencia á responsavel da Divisão de Cultura que existiam 2 historiadoras – que já estiveram há meia duzia de anos no Convento – uma italiana e outra inglesa , especialistas em templarios e que seria importante ouvir neste seminario e no timing presente, sendo de paises integrantes da Rota!
Mas os tais organizadores preferiram ficar-se pela sua auto-proclamada “fantástica iniciativa “...um dos porta-vozes afirmou mesmo a abrir a sessão que “este é um ano especial pelo facto de a Sede da associação se ter fixado em Tomar” (sic) !!!!! … e nós a pensarmos que era um ano especial porque tanto a Ordem como o fundador da cidade nasceram exatamente há 9 séculos... começou assim portanto o seu IX Centenario com os da dita  trindade  a olharem para o umbigo...enfim...

Esperemos que em breve a Comissão Cientifica já nomeada tenha plenos poderes e condições para corrigir este estado de coisas ! Non nobis mas a Eles (templarios) a Gloria !

UMA NOTA FINAL : porque na comunicação de eventos templarios não colocam ao contrario de franceses e italianos o Logotipo  aprovado e obrigatorio da Rota Templaria Europeia ??! 
Será que querem mesmo -propositadamente ou de modo sabotatório - andar para trás ?! 
E porquê uma cruz branca envergonhada entre parentesis (?) ...será que o seu designer pertence ao clube dos que pretendiam uma cruz branca em vez da vermelha -identificadora e única dos cavaleiros templários - para sua grande mostra de ignorãncia histórica ?! (Talvez lhe tenham feito mal o breefing do pretendido) ...E desde quando -em termos de manuais da arte - é que o suporte ou a conjuntura se sobrepôem á uniformidade do Logo ?   Envergonhem-se de vez ! 



4.7.18

ARS COQUINARIA

 
          
                  Foto: L. Ferreira
  
1—Natureza externa : apresenta-se com uma Identidade

“A cozinha medieval faz parte do património cultural europeu. Para lá de pequenas diferenças regionais,encontramos receitas de cozinha comuns a toda a Europa medieval. Os cozinheiros utilizam tecnicas culinárias comuns, as elites europeias gostam de sabores próximos, os médicos tem discursos comuns em matéria de dietética Encontramos uma base comum que nos permite falar de uma cozinha medieval europeia.” ”-Lilliane Plouvier« Multiculturalité, identité européenne et habitudes alimentaires » (Project CE -DG Education et Culture)2000

De facto, se observarmos o relato de alguns banquetes e festas senhoriais encontramos productos básicos semelhantes, abundância e variedade de pratos selecionados conforme os temperamentos,um serviiço ordenado segundo categorías sociais , presença de músicos e histriões, importância da surpresa ...

Contudo há alguma diversidade dentro desta unidade.. A Natura oferece aos homens alimentos diferentes segundo as regiões e em cada região há opções entre produtos conforme a sua cultura, pensamento ou crença... Há um significado simbolico dos alimentos... manifestação de particularidades culturais (arabes, judeus,cristãos)....
Diz o Al-Khithab a propósito das varias nações : “muitos são afeiçoados e inclinados para os alimentos que outros detestam.”..
Assim os cátaros ,no fim do sec XIII, comem flancos de porco salgado ou fumado,mas ignoram o melão e alcachofra, trazidos peloa árabes no Trezentos á Catalunha..(Montaillou)

Observa-se uma diferenciação religiosa e social no consumo., como diz Teresa de Castro in La alimentación castellana e hispanomusulmana bajomedieval ( 1996) : “Os castelhanos são por própia vontade essencialmente carnívoros, e gostam de carne, de gorduras animais e de outras formas de guisar que não sejam os fritos (os fritos à base de legumes verdes constituem a entrada da Pessah judaica)... Os muçulmanos vêem-se a si mesmos como sóbrios no gasto e consumo alimentares, e não muito carnívoros. ..No Al-Andalus as frutas e os cereais são os alimentos mais elogiados, e o vinho o mais criticado... Estamos perante um paralelismo, não face a uma convergência alimentar, no mediterrâneo hispânico ”.
Há sem dúvida,uma influência indirecta da cozinha muçulmana na cozinha cristã como resultado de um longo período de contacto na fronteira em movimento... principalmente quando o Al-Andaluz era um modelo cultural luxuoso a imitar (vide a loucura das especiarias sg F.Braudel)..
.No entanto há que fazer uma análise cuidada do receituário: assim, quando se fala num prato mourisco isso pode tão só significar uma côr mais escura de um prato...não uma receita igual...


2- Natureza interna : na preparação é uma arte da Metamorfose

Desde o mundo classico (greco-romano)- a cozinha é entendida como a arte de combinar alimentos, meio de correção da natureza e de manter o equilibrio dos humores (elementos que compõem o corpo) com alimentos temperados e equilibrados (recuperando esse equilibrio se doente-sg. o Hipocrates o medico grego) - adicionando alimentos de natureza fria ,quente ,húmida ou seca e suas combinações, compensando os humores insuficientes ou corrompidos nas partes doentes do corpo –(vide Tacuinium Sanitatis,sec XIII)

Como afirma J.Flandrin (in Historia da Alimentação) , a propósito da arte culinaria enquanto arte correctiva dos alimentos: “Assim as virtudes naturais ou qualidades dos alimentos-que são instaveis-podem ser acentuados reduzidos transformados pelas condições do meio e pela pereparação ou tratamento culinario dos alimentos. Os varios modos de cozinhar são assim meios para modificar as propriedaes naturais dos aliments e para melhorar a saúde. Cozinhar misturar transformar - eis a suprema Arte da cozinha : também tornar os alimentos mais agradáveis ao paladar e mesmo á vista” ... como na metamorfose ovidiana !
Com os árabes a cozinha torna-se uma arte do tempero e de combinação de ingredientes que modificam sabores e consistências ( propriedades dos alimentos). As especiarias dão sabor ,salientam o paladar, diferenciam iguarias : se a acidez é excessiva corrige-se com adoçantes ou mosto - dai o agridoce. A acumulação de ingredientes e especiarias-tem função de correção dos aliments,segundo o mouroRazi ...

Cozinhar-cozer-tem pois como função primeira-tornar alimentos mais digestos . De facto a cozinha nasce e convive com o receituario magico e a farmacopeia-(herbarios) com sua utilização ritual e simbolica... receitas relacionadas com a saúde- a que Bruno Laurioux chama a “cozinha medicinal” ...No sec XIII surgem obras manuscritas contendo preceitos de saúde e de cozinha destinados á aristocracia : como o Régime du corps de Aldebrandin de Sienne( 1256) que recomenda as especiarias na condimenrtação das carnes para as tornar mais digestas- a digestão é uma cozedura corporal…(enquanto os alimentos vegetais são de dificil digestão para estomagos nobres) …
A condimentação tem função de corrigir os vicios dos alimentos…alimentos humidos como a carne de porco levam mais sal, alimentos secos e delicados como galinhas e perdizes-levam pouco sal…

Assim através dos condimentos, se aumenta a bondade dos alimentos . Mudando o sabor de um alimento, modificava-se a sua natureza...segundo se julgava na época...
Barthelemy, o Inglês, defende em seu quadro de sabores, que estes ordenados por suas qualidades(quente,temperada,fria ) ... são transmutáveis nos que se lhe seguem, por acção do calor...pela cozedura...
Como exemplos destas transmutações : os frutos verdes de sabor acerbo ou acido adquirem por acção do sol ao amadurecer um sabor doce ou gordo...por sua vez, o mel de sabor doce, toma um sabor amargo ao caramelizar por acção do fogo.

Entende-se na época, que tudo o que alimenta veramente tem em si pelo menos um pouco de sabor doce...portanto moderadamente quente.
As substancias que apenas tinham sabores frios(acerbo,acido) ou quentes(acre,salgado) não podiam servir de alimento,mas apenas de medicamento e/ou condimento. Por isso-uteis para equilibrar o sabor ou temperamento dos alimentos demasiado frios ,demasiado quentes ou insuficientemente doces... cozinhar é também e afinal uma operação de adoçamento...
Os gostos ou repugnâncias sáo fisiológicos...caracteristicos do temperamento de cada um...Assim, cada um devia comer segundo sua natureza ou humor dominante.
Daí resultava que no serviço medievo á mesa colocavam em simultâneo, defronte dos convivas varias iguarias ,das quais cada um escolhia segundo seu gosto ou temperamento...

            

3- Onde se fala de um “fogo lento” experimental...

- A cozinha evoluiu num tempo lento: Não o dos tachos mas o da história... o tempo longo das estruturas, de que fala F.Braudel.
-há receitas fixadas há seculos na sua forma e interpretação- as maneiras de se alimentar inscrevem-se tb nesta teoria da longa duração...
Observa-se que entre os sucessivos receituários há ligações,encadeamentos,analogias que transcendem as épocas...
Assim podemos dizer que há uma certa continuidade, na baixa idade Media, concretamente do Duzentos ao Quatrocentos, que é o periodo em que incide esta longa demanda na tentativa de demonstração da cozinha monastico-cruzada e cortês, contemporanea dos cavaleiros templários (à falta da original e própria)...

Desde o sec XIII, aparecem livros de cozinha em toda a Europa . Do Trezentos são conhecidos, integrados num codice terapeutico atribuido a Mondeville -físico de Filipe o Belo!(ligado aos templários,pelas piores razôes...) 3 manuscritos de receitas: Enseingnemenz,/franco, Tractatus de modo preparandi/monastico e Liber de coquina/toscano, além de um rolo-único sobrevivente no género-pertencente ao bispo de Sion e mais tarde copiado por Taillevent no Viandier...

O receituário é apresentado em geral sem as proporções dos ingredientes. Se se pretender fazer uma actualização , há que ter cuidado na interpretação das receitas medievais : ter em conta a natureza épocal dos ingredientes, utensilios ,termos empregues para os modos de cozedura,
Sabores e aromas são de reconstrução dificil…principalmente atenção ao paladar-não muito estranho-cozinhado de forma aceitável para a época- (deles e nossa...) um certo equilibrio no doseamento das especiarias, para não causar enjoo, devido a elas serem omnipresentes do primeiro prato á sobremesa... em suma: trata-se de um desafio experimental e histórico em que é preciso provar ,alterar e misturar de novo, até que o palato,o olfacto e a intuição...ditem a obra alquimica comestível...o sucesso requer alguma experimentação!

No que respeita `a composição dos menús, observa-se que há varios serviços. dois,três ou quatro, por refeição, mas dentro de cada um desses serviços, figuram varios pratos justapostos e não sequenciais, dos quais os convivas escolhem um ou dois.

No serviço franco que estrutura a refeição gótica , os assados (peças inteiras,recheadas, postas no espeto e finalmente trinchadas á mesa) situam-se sempre no centro da refeição, sendo precedidos pelos potages(leves ou grossos) e entradas ( charcutaria,frutas frescas) e seguidos pelos entremetz e sobremesas,depois de levantar as toalhas...(vide Menagier)
Mas não se trata de um esquema rígido. Os vários serviços podem afinal ser percorridos por potages/cozidos e patés...tal como pela mistura salgado-doce...(os sabores doces só são reservados á sobremesa a partir do sec XVII)...

Na sua origem, os entremets (literalmente: as "entre-iguarias") são servidos entre uma iguaria e outra , enquanto os convivas esperam pelo próximo serviço . Podem ser comestiveis ou um momento de música ou momos...


                         Algumas Referências Históricas sobre Menús :

REGIMENTO de 1258- 2 viandas(carne ou peixe) adubadas , sendo uma de 2 guisas(modos)

-A todos os freis-2 pratos de vianda à escolha- art, 185- Regra da Ordem do Templo.

- Refeição de S.Luis-1234-Sens-Quaresma --cerejas c/pão trigo branco,2-favas novas cozidas em leite, 3-peixe-enguias em filetes e grelhadas,lagostins ,empadas, requeijão, 4-arroz em leite de amendoa perfumado c/canela=manjar branco, 5-fruta de epoca.

- Abade laguy a seus confrades- -1378
1- entrada - vinho , coscorões, maçã cozida , figos e cerejas
2-prato c/molhos, peixe cozido ou grelhado ,carne assada, caldo cereais
3- conservas/compotas-confeitos bolos/fritos -frutos secos, empadas,
-
Locais templarios :
- Fonte Arcada-1144- visita do bispo porto-3 carneiros ,2 leitoes ,4 cabritos ,4 patos,
12 galinhas, 2 puçais de vinho, 2 onças de pimenta ,alhos, cebolas, pão trigo,
0.5 alqueire de manteiga e 40 ovos.
-Soure- 1295-o mestre dá aos cónegos visitantes- 1 carneiro esfolado, 16 frangos,50 paes trigo,1 almude de vinho.

D.João I-no Rossio:carne assada,confeitos de erva doce e amendoa,cidrões e cerejas

Menus/rações monasticos :
1- - Cluny-sec 12-costumes de Ulric
2 refeições todos os dias.- com reforço nos dias de festa…
Almoço- 2 pratos de legumes cozidos –1 libra de pão-1 hemina de vinho, mais suplemento ou Pitança- 3º prato de frutos e legumes
Come-se em silencio, escutando leituras edificantes-comunica-se por sinais..

2- Abadia borgonhesa- dias especiais- refeiçoes extraordinarias como nos palacios…
Sopa de legumes substituida por pratos de carne e uma torta com ovos- sec
Vinho temperado com mel.. sec 12

3- Rações mosteiro de Corbie/França- Em Corbie, , cada irmão recebia diariamente 1,700 kg de pão, 1,5 litros de vinho), cerca de 100 gramas de queijo, 230 gramas de legumes secos (favas ou lentilhas), 25 gramas de sal, um grama de mel e 30 gramas de gordura animal./toucinho .

4-Menu de Pombeiro: - 2 pratos de alimentos guisados (peixe ou carne de aves)…
-1 prato de legumes e /ou frutos (cozidos ou frescos) conforme a época

COZINHA CATARA- FIM DO SEC 13
Aves de capoeira-galinhas ,ovos-, gansos, carneiros e ovelhas, flancos de porco salgado ou fumado- gelatina de trutas, peixe frito em azeite, - empadão grande para os bispos..
Comendas Templarias catalãs -visitações de 1289: Dispensas :
Em MONZON-250 carneiros para a mesa do castelo.- Em-CORBINS-8 porcos e 2 leitões

Modelo alimentar Nobres-sg Livro de contas da Catalunha-sec XII :
--Carnes finas-galinha-frango-capões e gansos/criação.
Tb carneiro-porco-cordeiro. Ausencia de produtos de caça


4- O Templo como catedral do convívio gastronómico!


-Desde sempre a Mesa é um lugar de partilha e convivio, reunião ritual- de integração / identificação na comunidade- expressão de solidariedade basica de grupo. Onde se celebra o prazer da refeição tomada em comum.

Entre comunidades monasticas é celebração da continuidade dos laços entre irmãos e evocaão crística - ou aquando de uma iniciação/recebimento de cavaleiro na Ordem um autentico festim liturgico...

Estando a ordem repartida por toda a Europa e Oriente, pretende-se apresentar uma cozinha ecuménica das regiões templárias...para o que buscámos para além do receituário franco já referido, os seguintes do Trezentos : Sent Sovi/Catalunha- Form of Cury/Inglaterra- Guter Spise/Alemanha- Libro di cucina/Italia e ainda ,mais tardios, os nossos “Livro da Infanta D.Maria” e “ Caderno do Refeitorio” (Alentejo).- além de uma colectânea franca de receitas de albergarias cruzado-templárias.no Oriente.
Sabendo por outro que a pitança é melhorada em dias de hóspedes ou festivos, comno manda a regra de S.Bento, selecionámos uma data , cerca da qual se terá realizado a admissão de um cavaleiro (o sobrinho do Mestre João Fernandes ,segundo uma testemiunha de inquirições dionisinas) . Aliter , consideramos também a presença real D.Dinis e Isabel ( habitual na região) de modo a elevar ainda mais o nivel da festança e aproveitando para fazer pedagogia da separação de mesas por categorias sociais na época...

Em conclusão, visamos evocar prazeres ancestrais, viajar em direcção a um tempo dourado, imergir completamente na época , através de uma ementa recheada de sabores...assaz de iguarias de desvairadas maneiras de manjares...onde tudo se praticará com a devida moderação,de sorte que nem pareça miser nem respladeça prodigalidade fantástica,. tudo cum excelentisimo grau de bondade e perfeição... um vero conclave iniciático na sabedoria templária!...

Eclesiásticamente, situamo-nos no temporal entre o papa Martinho IV(1285) e o papa Bonifacio VIII (1303) o que em termos de gostos alimentares pessoais significa viajarmos das enguias ao Cordeiro.. ou semelhantemente em termos de espaço, peregrinar entre o Pranto de Dornes e a Aleluia de Cem Soldos... tudo no termo de Thomar...

E várias vezes adaptámos o nome dos pratos á nossa região,por terem algo em comum...