A Templ’Anima vai realizar semanalmente, aos Sábados, no Castelo de S.Jorge em Lisboa, a animação de tipo evocação histórica -titulada : Didaké-Iniciação de um Templário , finalizando por jogos de armas a pé a - partir do dia 13 de Setembro de 2008 ,até 18 de Outubro 2008 - com início ás 15.30h e termo ás 18h .
Decorrendo no horario de funcionamento do circuito de visitas, terá uma área delimitada : a parte chã ocidental do Castelejo/( área esquerda de quem entra) que será reservada ; mantendo-se a circulação pública à toda a volta por cima, nas ameias , de forma a permitir o acesso ao Periscopio , montado na antiga Torre Albarrã ou do Tombo.
No fecho do 7º centenário do desaparecimento da Ordem do Templo : uma oportunidade única de ver em Lisboa, esta evocação histórico-templária , naquele castelo onde também se destacaram os templários em diversas situações, acompanhando a corte enquanto seu braço armado...desde Afonso Henriques o conquistador , até D.Dinis o 1º residente,aqui na Torre do Paço com suas dependências a Sala Ogival e a capela de S.Miguel.
Singela re-presentação em defesa e louvor da Milícia Templaria ...onde alicerçados na autenticidade da Regra primitiva descrita por R.Pernoud, tentamos esclarecer as 3 principais acusações feitas aos templários no seu tempo: o beijo na boca, a vituperação da cruz e a adoração da cabeça "bafometica"... afinal : um ósculo cortez, a evocação da Paixão e o culto das relíquias na época... porque é a Hora de desvelar o Misterio ou seja devolver a Honra ao Templo!
A organização do tempo ficcional acompanha a estruturação do espaço : 4 actos - cada um em sua mansão...Trata-se de uma encenação “ao medievo” tipo auto da Criação- que se desenrola no Castelo ,como Iniciação através dos 4 elementos : Terra- Água–Ar–Fogo,á semelhança do que está figurado nos capiteis da igreja sede da Ordem (Tomar).–aqui adequado ao espaço deste castelo...
- O objectivo(interno) é mostrar o processo da Iniciação, a passagem para a luz do candidato,através da via probática e do sacrificio.-do Enxofre ao Incenso- da tentação diabolica primeira na Arvore (frente a entrada) , passando pela Catequese batismal ou Didaké , ascendendo pela via Crucis (Paixão) até ao gozo de Deus no forno alquimico em capitulo final (junto á base da torre do Paço) . Expôe-se assim o conflito da alma, arena de luta, na visão da monja Hildegarda de Bingen ( sec XII) , entre o bem e o mal, a caminho da Perfeição graálica.
Alguns principios Orientadores
I- Participação : Sabemos que ´à volta no cimo das muralhas se permite entrever a ação mas ela não é para ver do alto - daí de onde só é possível ter um angulo de visâo defeituoso ..a menos que apenas pretendam ser voyeurs ...nem o som se percebe : é preciso estar ao nivel -vestir a capa cá em baixo no terreno – integrar-se no grupo, questão fundamental, já que afirmamos o primado do texto e da Palavra , em correspondência perfeita com a pratica epocal jogralesca . Defendemos uma animação “ enquanto forma de meditação , que alargará o aparelho sensivel do homem, à visão dos espaços secretos “ (Wilson, 92)..
Em comunhão medieva, sublinhamos : participar em vez de assistir...não ficar de fora e ao longe..de onde o próprio desenrolar do acto pode parecer entediante... por falta de “encarnação ao medievo” do público , porque é preciso respirar/sentir a alma do lugar... Aliàs a leitura prolongada do Pergaminho do Arauto –guia explicativo da acção e dos espaços do Castelejo- foi sublinhada com palmas expontâneas no ultimo ensaio aberto, pelos presentes que o puderam ouvir no local.
O objectivo externo- é conhecer-se a si próprio através da participação num itinerario ou peregrinatio ...um vero mergulho na época! A plena vivência de uma experiência : todos confrades por um dia , uma vera iniciação colectiva! ...pois como escreveu Artaud ,dramaturgo : ”no estado de degenerescência, depois da Queda, é pela pele (pelas provas iniciaticas) que se hão-de iluminar os espiritos”... Trata-se de um encontro fraternal em que o público participa no Bodo.-comendo bolos de erva doce- na dança de roda e fazendo exercicios de abertura do espirito!
II-Cenografia : aqui a qualidade é dada pelo rigor á época e seu pensamento Pois , cada época - tem a sua dignidade e a sua Estética. Tratando-se do visionamento do pensamento do Duzentos falamos de um despojamento á cistercience.- -Cenográficamente naturalista- já que é o proprio monumento real que nos envolve... com suas muralhas, portas, arcos, frestas, escadas,... em sua função original... mas que não só os mostra, também os anima. Uma qualidade/linguagem cenica- apostando na simplicidade decorativa- em contraponto à ostentação de ouropeis renascentista ou gosto futil de salão condenado em seu tempo por S.Bernardo,patrono da Milicia templária– aliás é pedagogico nao perpetuar a confusão e mistura de epocas tão a gosto de certos anacronistas- porque tal era a modestia dos pobres cavaleiros de Cristo... Segundo descrito em sua Regra as vestes templarias eram bastante simples não trajavam á ultima moda da corte –aqui túnicas rigorosamente desenhadas ao modelo de época, com suas capas/mantos com simbolo da Ordem e botas de encomenda artesanal do ultimo residuo quinhentista existente (enquanto monges) e cotas de malha e espadas metalicas importadas , (enquanto guerreiros)...
Este nosso Posicionamento conduz-nos naturalmente a um determinado proposta cénica- Uma acção ritual... - Onde tudo obedece a um simbolismo os objectos não são vulgares instrumentos, são meios de fazer pensar e sentir, estimulando a imaginação dos convivas, que meditam e percorrem o caminho da Demanda, ao encontro do Espirito da Luz
Assim o Iniciado porta o machado duplo .. (como no mito grego do labirinto) . para cortar as trevas exteriores e interiores existentes acerca do medievo..social e re-presentacional ou seja a comum ignorância da época- que não é uma idade das trevas... a maioria é que está às escuras sobre a época ...por preconceito e desinformação!
III-Dramaturgia : Trata-se de uma animação teatral/representação popular... não é teatro isabelino,.nem de vanguarda, ..é tão só e simplesmente animação teatral ao medieval –do tempo em que a récita saiu para a rua , ensinando aos leigos os mistérios, como os laudesi franciscanos –.cuja expressão mais próxima ainda se pode ver em Braga no auto de S.João Baptista ,sobre o carro das ervas que percorre a cidade.
Quanto ao gestus -há apenas alguma expressão nascente ...como no portico de Compostela – onde o mestre Mateo coloca no meio dos velhos profetas hieráticos...o jovem Daniel que cruza a perna e sorri ... Segundo os manuais teatrais - no Modus medievo- há distanciamento,não se sente o personagem , os intervenientes apenas dão corpo ao ser representado e podem fazer vários personagens na mesma sessão; não há interpretação pessoal, ou máscara psicológica (sg.Rosenthal,dramaturgo)
A acção é apresentada como um desfile de quadros justapostos conformes à Estética medieval. Um caracter fragmentário ,não sequencial.,em que o tempo avança por saltos.(a nossa viagem pelos 4 elementos) ..E não é uma versão esperada modernizada: mas uma vera desconstrução ou regresso no tempo que implica uma desmontagem dos habitos de ver /assistir : sem efeitos especiais cinematograficos, nem artefactos proprios de opera neo-egipcia!
IV- FichaTecnica : Ensaiadores -J.Nunes(falas)+Edward Fão (marcações) Destaque no rol de actores selecionados para -o Arauto(Eduardo Ribeiro) vindo do teatro inglês dos Lisbon Players, o Mestre (Miguel Fonseca) com obra feita nos teatros do Chiado e Trindade, o Iniciado (Marco Marques) oriundo do Chapitô e o Diabo (Bruno Guerreiro) da Animaçaõ historica do palacio de Queluz . Sendo os restantes figurantes/estudantes do curso de Teatro.
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