23.12.11

Dia 29 todos à Charola!...Evocar S.Tomás, o patrono Natalício !


 (Entrada livre a partir do Claustro da Micha , a norte )

Evocamos hoje e aqui S.Tomás de Cantuária, o patrono da Charola templária..
Está de certa forma tudo ligado desde o inicio...Tomás Becket nascido em Londres em 1118 (no mesmo ano de Gualdim) foi nomeado arcebispo de Cantuária em 62...no mesmo ano em que Gualdim com seus freires, dá o 1º foral aos moradores em Tomar.

Tomás, cujo brasão são os corvos da catedral é o Daniel inglês entre os leões - como no capitel da Charola- 2 leões contra quem teve de lutar em sua vida: um interno, outro externo. De um lado, um de cabeça inclinada- portanto já dominado- que significa a sua vida mundana de alegre cortesão e prazeres que mudou radicalmente,quando foi nomeado chefe da igreja inglesa, tornando-se moderado e temperado,mesmo ascético com o seu famoso cilício sobre a pele,estabelecendo regras severas para si próprio,de disciplina pessoal e devota oração,para exempla de sua igreja....Do outro lado ,o leão de cabeça levantada, arrogante, o brasão do rei inglês Henrique II, que o persegue por ele não ser afinal dócil a seus desígnios de subalternidade da igreja em relação ao poder real...

IN illo tempore, vivia em Londres, um próspero mercador normando de Rouen ,a quem aconteceu nascer um filho varão, a que foi posto o nome de Tomás ,por ter nascido em dia de S.Tomé apóstolo. E estávamos no ano do Senhor de 1118.
Primeiramente educado em Merton Priory, mosteiro da ordem dos cónegros Regrantes de Santo Agostinho, nos arredores de Londres, acabou seus estudos em Paris e Auxerre, adquirindo uma excelente preparação em matéria de direito civil e canónico .
Regressando a Inglaterra em 1142 , brilhou em casa do então arcebispo de Canterbury, Theobaldo, que reconhecendo suas capacidades , fez uso dele em varias negociações delicadas e o ordenou arquidiácono.
Dotado de bom discernimento e grande eloquência, era empenhado em tudo que fazia... jogava nisso o coração e a alma.
Assim, Teobaldo o recomendou em 1154, ao novo rei, Henrique II para o importante lugar vago de chanceler, por sua eficácia e zelo administrativo.
Aparentemente baseado no facto de serem ambos -Henrique e Tomás -temperamentos semelhantes, .a sua amizade cresceu profissional e pessoalmente:deles se dizia que eram como”um só coração e uma só mente."..
Como chanceler, as ambições do rei tornaram-se as suas. Procede à recolha equitativa de impostos,diligentemente em apoio da politica real..., junto dos proprietarios rurais, assim como dos clérigos que não fazem serviço militar , muitos se queixando do pesado encargo .
Companheiro de Henrique é um extravante cortesão : aceitando todas as riquezas que advêm do cargo, ele viveu sumptuosamente em entretenimento e caçadas. .Quando se deslocou a França em 1158 para negociar um tratado de casamento real (entre filhos de reis) , ele viajou com grande pompa , com várias centenas de homens , cavaleiros e, clérigos , músicos, falcões e cães. No ano seguinte, liderou uma expedição militar a Toulouse, vestido de armadura, acompanhando o rei e juntando-se entusiásticamente aos combates

Morto Theobaldo , em 1161 o rei escolheu naturalmente , Tomás, para novo arcebispo., crendo que, com o seu amigo no mais alto cargo da Igreja na Inglaterra, haveria uma fácil aliança entre a Igreja e o Estado.
Tomás aceitou o cargo, como um serviço à religião, apesar das suas reservas. No entanto ,Becket nunca tinha sido ordenado. Assim,no sábado, 2 de junho, em Whitweek ele se tornou padre; na manhã de domingo, 3 de Junho,foi consagrado como bispo, e na parte da tarde, foi feito arcebispo de Cantuária , entrando solemente em sua catedral ...construída á imagem da basilica de S.João de Latrão em Roma...

                             

O homem do mundo é agora homem de Deus. ... Fiel ao seu lema, Becket entrega-se a seu novo papel de chefe da Igreja na Inglaterra com completa devoção ; concentra - se no papa e na Igreja, e contra os desejos do rei, renunciou ao lugar de chanceler.
E dá-se então a sua tão famosa mudança de vida. Tomás abandona todas as riquezas, repartindo com os pobres o próprio vestuário. Faz grande abstinência: “ fazendo seu corpo magro e sua alma gorda”.. uma tal alteração em seus hábitos e modos, que comentam alguns, "andar ali a mão de Deus", . Macerava-se com invulgar cilício, pois com ele não só envolvia o tronco, mas também as pernas, até aos joelhos :uma tunica feita de pêlo duro (tecido grosso e desconfortável ) cheio de grandes nós , que supliciam de modo incrível sua carne...directamente sobre a pele nua... dia e noite. Assim crucificava ele seus vícios e desejos mundanos, em orações constantes , vigílias prolongadas e disciplinas , chicoteando suas costas nuas ...em auto-punição!
Conta a Legenda Dourada que um dia, determinado sacerdote foi injustamente acusado perante o Arcebispo e por este suspenso do seu múnus. Tomás naquele dia deixara o cilício sob o leito, com a intenção de o recoser. Nossa Senhora apareceu então ao sacerdote, e assim lhe falou: vai ter com o Arcebispo, e diz-lhe que Aquela por amor de quem tu celebras missas, lhe recoseu ela própria o cilício que está sob o seu leito.Apressou-se o sacerdote em contar a Tomás a visão que tivera. Verificada a verdade, confirmado o prodígio, a interdição foi levantada .
Amando os pobres,Tomás Becket funda na época, o Hospital assistencial de Eastbridge em Cantuária.

Algum tempo depois, pela artes do diabo -segundo a Legenda - surgiu grande debate, variância, e conflitos, entre o rei e S. Tomás. A discórdia era sobre os direitos e privilégios da Igreja ,que Henrique acha cerceadores de seu poder... concretamente a questão controversa dos numerosos membros do clero que cometiam crimes graves .
Muitos deles, não ordenados sacerdotes , mas que podem exercer o seu direito a serem julgados nos tribunais eclesiásticos (por oposição aos seculares), onde vão receber muito mais brandas sentenças. Flagelação e expulsão, mas não morte ou mutilação... O rei quer que qualquer pessoa achada culpada no tribunal eclesiástico, possa também ser punida pelo tribunal secular.
Em janeiro de 1164, o Rei Henrique II preside à Assembléia de Clarendon (em Wiltshire), que procura legislar nesta questão . De um dos lados estavam ,os conselheiros reais, os barões, 3 dezenas de condes e outros grandes homens , como Hugh de Moreville, lorde de Westmorland no noroeste da Inglaterra e John Marshall ,com terras no Wiltshire ,estratega militar e pai de Gilherme ,o famoso cavaleiro que lutou em mais de 500 torneios sem perder algum...Do outro lado: Tomás arcebispo de Canterbury , Roger arcebispo de York e outros 12 bispos ao todo. Discutem uma lista de 16 cláusulas reguladoras das relações entre o direito secular e o canónico. A terceira cláusula aborda a questão dos clerihgos criminosos : “se o clerigo fôr condenado ou confesso, a Igreja não deve protegê - lo mais., poderá ainda ser punido no âmbito da jurisdição dos tribunais reais”. Outra cláusula,a sétima, defende que “ninguém da corte pode se excomungado ou suas terras interditas sem consentimento do rei”.
Becket protesta contra esta lei e o rei apelida-o de resistente e duro de coração(!) ...ao que Tomás responde que nunca fora seu pensamento fazer algo que desagradasse ao rei, na medida em que não ferisse as liberdades da santa Igreja, que irá manter enquanto vivesse...
O arcebispo com o apoio dos seus bispos, fez questão de manter esse privilégio da Igreja, não porque ele fosse a favor de tais clemências, mas porque perder, seria minar a base da imunidade do clero, era simplesmente uma questão de princípio! Recusando que um réu pudesse ser julgado duas vezes pelo mesmo crime, Tomás acaba mesmo por negar-se a assinar tais cláusulas, achando umas intoleráveis,outras impossíveis... para surpresa do Rei !

Tal significava uma guerra entre os dois poderes. Então começou a campanha de perseguição contra Tomás ... primeiramente uma reivindicação feita contra ele por John o Marshal...do qual a Gesta Stephani afirma ser” uma parte do inferno e raiz de todo o mal”...em que acaba condenado a uma multa... seguidamente são formuladas várias acusações contra o arcebispo, inclusive a de desonestidade financeira , datando de seu tempo como chanceler, onde foi alegado que ele deveria à coroa, a fantástica quantia de 44000 marcas, ou seja quase 30000 libras !...
Tomás é convocado para um tribunal real ,mas informa-o que não estando a igreja sujeito a autoridade temporais, teria apenas de comparecer perante o papa para resolver estas matérias; ao que foi respondido a gritos de "traidor” ...

Parte secretamente na noite mística de 13 de Outubro, (1164) e exila-se em França, sob protecção do rei francês Luís VII ,em Sens, Borgonha , na real abadia de St. Columbus, onde irá encontrar-se com o Papa Alexandre III... Mas mesmo aqui as dificuldades o afligem...
O rei Henrique responde com o confisco das propriedade de Tomás... e expulsa da Inglaterra, e de todas as terras de seus domínios, todos os homens , mulheres e crianças pertencentes á casa de Tomás !...

Conta a Legenda, que na tarde no dia de S. Marcos , o criado de s.Tomás, não põde comprar peixes para o seu jantar,sendo dia de jejum ,porque ficara sem dinheiro e acabou por cozinhar-lhe um capão assado. O papa foi informado de que Tomás não era tão perfeito como suposto, já que contráriamente à regra da igreja , comia carne nesse dia. O papa não acreditou e enviou um cardeal, que para prova colocou a perna do capão no seu lenço e o abriu perante o papa...que viu a perna transformar - se em um peixe chamado carpa!. E quando isto viu o papa, disse não serem verdadeiros aqueles que diziam tais coisas deste bispo..
Tomás mostrou então ao Papa os 16 decretos de Clarendon, que o papa condenou vivamente.
Em outra ocasião, estando em oração ante o altar de Nossa Senhora, na igreja da abadia de Ste Colombe , Tomás teve uma visão. Nossa Senhora apareceu-lhe e lhe predisse que ele devia sofrer martírio pelos direitos da igreja, quando sua casula mudasse de branco para vermelho....
A Virgem trazia numa das mãos uma naveta dourada em forma de águia e na outra um pequeno frasco ou tubo de vidro contendo santo óleo. E revelou-lhe que os reis deviam passar a ser ungidos com este óleo ,tornando-se campeões da Igreja. Ela lhe entregou este tesouro que depois passou das mãos de Tomás para as de um monge de Saint-Cyprien de Poitiers; aí foi cautelosamente guardado ,.sendo mais tarde, efectivamente usado na coroação dos reis...Esta Ampola é aliás uma das mais antigas peças do tesouro.real inglês...

As negociações entre Henrique, o papa e o arcebispo arrastam - se durante quatro anos..., .
Entretanto Tomás peregrina a Chartres e a Compostela ,tendo parado no Caminho em Caldas de los Reis ,na Galiza, como assinala uma igreja local...
Sucedem-se as tentativas para reparar o desacordo entre os dois homens..Em 66 Tomás acaba por excomungar 2 clérigos John de Oxford e Richard de Ilchester enviados ao serviço do rei por causa de seu entendimento com o anti-papa Pascoal III contra Alexandre III o papa legitimo.
Em 67 Reginald Fitz Jocelin o Lombardo, que servira na casa de Tomas é real mensageiro a Roma procurando uma solução diplomatic para o caso.
Tomás era apoiado também por João de Salisburia, clérigo pro-humanista,(afirmando o homem como um microcosmos ou pequeno mundo) que denunciara as intrigas feitas contra Tomás e se esforçara na causa da paz entre o rei e o arcebispo, nomeadamente atraves da sua obra “Policratius” onde falava das diferenças entre o tirano e o principe, o qual deve”amar a justiça” ( tal como Gualdim afirma ,na mesma época, em seu 1º foral aos tomarenses,feito neste castelo...) e que o principe não deve levar as pessoas de volta ao Egipto ou seja exilá-las...(como acontecera a Tomás e a ele próprio, João...) ...

Finalmente em Junho de 1170, dá-se um acontecimento fulcral: Henrique faz a casa de seu filho e herdeiro o Principe Henrique o Jovem, nomeando para seu protector Guilherme o marshall-o cavaleiro perfeito e leva-o a ser solenemente ungido e coroado rei em Londres ,sendo a coroação realizada por Roger, o arcebispo de York, quando esse direito foi sempre sob a autoridade de Cantuária. Então Becket … excomunga Roger e seus assistentes , Ranulph de Broc, Hugh de Saint Clair e Thomas Fitz - Bernard, por sem a sua autorização e consentimento, terem aproveitado a propriedade e posse da igreja de Cantuária.
Quando o papa soube que a coroação tinha tido lugar sem a sua permissão, ameaçou excomungar o rei, se ele não fizesse a paz com Becket. Henrique alarmado com a perspectiva próxima, de excomunhão por parte do próprio Papa, uma vez que isso implicaria um confronto aberto com as outras nações europeias ligadas a Roma, autoriza o regresso de Tomas...
Em 1 de Dezembro de 1170, Becket desembarca em Inglaterra. tendo na sua posse, cartas obtidas do Papa para suspensão do arcebispo de York, e os outros prelados que o tinham assistido.
Em sua viagem até casa , Tomás é saudado por multidões. Mas quase logo que voltou , uma deputação chegou pedindo - lhe que retire a sua excomunhão a Roger e aos outros bispos.. .. Becket concordou com a condição de que eles jurassem obedecer aos papa. . Eles recusaram e dirigem-se ao rei .queixando-se de sua aflição porque Tomás excomungara a todos que estava com seu filho em sua consagração...
Então ,furioso ,em um momento de raiva,Henrique terá pronunciado estas palavras fatais : "Não haverá ninguém capaz de livrar - me deste turbulento padre?"
E imediatamente 4 cavaleiros inimigos de Deus,se puseram a caminho para cumprir esse designio ..arregimentados por Roger em cujo coração o diabo tinha entrado ...diz-se que dera a cada um dos quatro homens 60 marcas em dinheiro...assim, o sangue dos justos foi comprado e vendido, tal como fizera Judas '...enquanto sentenciava : "Thomas, Thomas, eu vou ter um desconfortável travesseiro pronto para sua cabeça!.”... "

                                       

Ò admirável Pastor / das espadas, o vencedor/
Da Igreja o campeão / e vencedor do leão...

Nessa tarde invernosa, à hora de Vésperas, pelas cinco da tarde deste dia 29 de Dezembro, um crime abalou a Europa: 4 cavaleiros do rei Henrique de Inglaterra assassinaram o arcebispo de Cantuária, a golpes de espada, em sua própria catedral!... Assim foi martirizado S.Tomás no ano de Nosso Senhor da Encarnaçãode mil cento e setenta e nos 52 anos de sua idade ...e no quinto dia após o Senhor da Natividade, e mui significativamente no dia seguinte ao aniversario festivo dos santos Inocentes, ele tambem que vivera em inocencia e santidade...e acabara de receber a coroa celeste pelo martírio, sinal da recompensa,que nosso Senhor Jesus Cristo,lhe concedeu , pelo fiel combate, no serviço divino.
Estando o corpo ainda sobre o pavimento , cortaram pedaços de seu vestuário ,encharcado em seu sangue e distribuiram-no como precioso tesouro do mártir. O pallium e as sobrevestes feitas de pele de cordeitro, manchadas com o sangue, foram dadas aos pobres para rezar pela sua alma, mas alguns precipitaram-se a vendê-las por insignificante quantia ...Também todas as suas jóias de prata e ouro foram levadas ,entre elas um anel com uma safira fixada ,que jamais vira um melhor...
E retirada a famosa tunica –cilicio viram que seu corpo nu , estava cheio de cortes: já tinha recebido a disciplina 3 vezes ,nesse dia antes da morte...!
Os monges recolhem pedaços de seu cérebro brancos entre o vermelho sangue e colocam-nos em frascos ao lado de sua cabeça, Colocaram sobre ele seu pontifícias vestes e foi apressadamente enterrado pelos monges aterrorizados na cripta atrás do altar da Capela de Nossa Senhora dessa mesma catedral.




No mês seguinte o Papa Alexandre III excomungou a Inglaterra .e excomungou os quatro cavaleiros. Henrique ficou proibido de assistir à missa até reparar seus pecados. Os 4 cavaleiros , cujos nomes eram : William de Tracy, Hugh de Moreville , Richard Breton e Reginald fitz Urse; conscientes de seus actos , não se atrevem a voltar à corte do rei, retiraram-se para a zona ocidental da Inglaterra- em uma propriedade de Hugh de Moreville, no castelo de Knaresborough e lá permaneceram por algum tempo...evitados por todos, ninguém deseja comer ou beber com eles, .até mesmo os cães os desprezaram marcando -os eternamente com a vergonha... As propriedades de Hugh de Moreville foram confiscadas e ele fez sua expiação em cruzada na Terra Santa. William de Tracy reconstroi 2 igrejas como parte da sua expiação nas terras familiares do Wast Country. Reginaldo foge para a Escocia ,segundo alguns e Richard le Breton para a ilha inglesa de Jersey. ..
Apenas 3 anos depois da morte , o Arcebispo foi canonizado pelo Papa , por Bula de 12 de Março de 1173, dada em Segni e reza assim : .” Tendo , devidamente considerado os gloriosos méritos pelo que a sua vida foi tão ilustre, e a pública fama de seus milagres e o testemunho dado aos legados apostólicos e por muitas outras pessoas; tendo, por outro lado, a plena confiança em a testemunha, e tendo igualmente tomado conselho com os nossos irmãos na presença de um grande número de clérigos e leigos, temos na Quarta - Feira de Cinzas solenemente canonizado o referido arcebispo e ordenamos que ele deve ser numerado no rolo de santos mártires. Nós ordenamos a todo o corpo de fiéis na Inglaterra pela nossa autoridade apostólica para observar a sua festa todos os anos no dia em que ele terminou a sua vida por sua gloriosa paixão com a devida reverência.”...
No dia 21 de Maio 1172 numa cerimónia pública de penitência em Avranches na Normandia, o rei jurou, entre outras coisas, não obstruir qualquer recurso a Roma pelo clero e abolir todas as leis prejudiciais para a Igreja.. Mas o castigo divino cai sobre ele : em 1173, os seus filhos , auxiliados pelo rei de França, se revoltam contra ele, enquanto o rei da Escócia também aproveitou a oportunidade para invadir o norte da Inglaterra ...Em 12 Julho de 74 o rei Henrique II procura ajuda divina contra os rebeldes. Vondo a Cantuária para fazer penitência no túmulo do santo.
Depois mandou dinheiro para as Cruzadas...como parte da penitência..
Diz-se que ia a pé, descalço sobre o chão pedregoso, a fim de punir sua carne, e rezando. com saco de pano e cinzas sobre a cabeça.. por um longo tempo,, admitindo sua culpa e miséria,
Em seguida, retirando sua capa , foi disciplinado, em primeiro lugar pelos superiores hierárquicos e, em seguida, por monges. O bispo de Londres atingiu o rei cinco vezes, para os cinco sentidos em que ele tinha pecado contra Deus e, em seguida, o bispo de Rochester e, em seguida, o abade de Boxley, e, por fm recebeu três golpes de cada um dos 80 monges
Ele pediu perdão á irmã de São Tomás , abadessa de Barking no Essex e ofereceu - lhe um moinho em reparação; que valia umas boas dez marcas anuais . Revogou também as cláusulas mais polémicas de Clarendom...Mas de pouco valeu a Henrique o Soberbo, acabou roido pelo mal que o queimava e fazia uivar de dor, ficando todo negro, certamente chamuscado das labaredas do inferno... Cantuária tornou-se um lugar de peregrinação dos mais visitados a Ocidente ,como relata Chaucer nos Contos de Canterbury :
Surge nas gentes o desejo de peregrinação/e os romeus buscam lugares de remotos santos /
 de mui antiqua veneração / e vêm expressamente ... de todos os recantos!..
. . O seu túmulo converteu-se num centro de peregrinação de onde os romeiros trazem pequenas insígnias ( bustos de S.Tomás a cavalo, como os encontrados nos castelos de Palmela e Silves)..
                        

S.Tomás torna-se o patrono dos sargentos do Templo, sendo-lhe dedicada por sua irmã uma capela na igreja Rotunda de Londres ,junto à porta do hall . Na abadia de Windham em Norfolk é dedocada em 1174, também uma capela a Becket , servida por dois monges do mosteiro. Há notícia também de uma caixa-relicario francesa feita à volta de 1180 para albergar algumas das relíquias do santo na abadia de Peterborough . Em Salamanca constroi-se em 1175 uma igreja em honra de S,Tomas . Constroi-se tambem uma capela dedicada a S.Tomas na catedral de Toledo, mandada fazrer por uma filha do rei Henrique casada com Afonso de Castela. Tambem o castelo templario de Gisors na França tem uma capela dedicada a S.Tomas de Cantuaria na época...O seu culto apregoado por toda a cristandade.Fiéis de toda a Europa começaram venerando Becket como mártir :
Cessadas as obras corporais / começam as espirituais/
Mutos milagres aconteceram /logo nos anos que correram
Junto a seu túmulo se dão muitas curas de enfermidades ... São Tomás é forte em favor de Nosso Senhor Deus, todos podem ver : os cegos recuperam seu olhar, a sua fala os mudos, os surdos sua audição, o coxo seus membros, e os mortos a sua vida...Expressar aqui todos os milagres que Deus fez para mostrar satisfação por este santo , resultaria em árdua jornada... portanto, neste momento, quero transmitir - vos apenas alguns deles : uma série de milagres, que são descritos nos vitrais da ala norte da Trinity Chapel ,para onde vieram os seus restos mortais em 1220.: Ali vemos ,Tomás –curando a epilepsia da irmã Petronilla de Polesworth; curando a loucura de Matilda de Colonia; ressuscitando o goliardo Robert de Rochester; curando as vitimas de praga na casa de Jordan Fitz-Eisulf, curando Adam le Forester e William de Korlett. Multidões de viajantes a pé de todo o mundo, tomam frascos de água que levam para casa , como sinal de sua viagem e para curar enfermidades. .. . Depois de sua canonização.surgiram também lendas típicas de seu hagiográfico , como aquela da cidade de Strood, em Kent, onde afirmam que é devido a Becket o facto de habitantes da cidade e seus descendentes nascerem com caudas...pois que eles alinharam com o rei na sua luta contra o arcebispo, e para demonstrar seu apoio, tinham cortado o rabo do cavalo do bispo quando ele atravessara a cidade. ..
Conta-se que S. Luis, Rei de França, já possuidor da cabeça de S.João Batista na S.Chapelle... obteve de Inglaterra parte da cabeça do mártir S.Tomás, depositando-a na Abadia de Royaumont como preciosa relíquia... (pois merecia especial veneração a caput sancti Thome ,a parte do crâneo do mártir, aquela que havia recebido a unção)...

E em Portugal que se terá passado...até S.Tomas chegar aqui?
A questão explica-se como segue... Em 1185 o patriarca de Jerusalém Heraclio que viera à Europa com o mestre do Templo (o hispânico Arnaldo Torroja) na demanda de auxílio para a Terra Santa , encontra-se em Inglaterra, consagrando a nova Rotunda do Templo de Londres , junto a Fleet Street.   Devido ao falecimento súbito deste grão mestre, acende-se demorada discussão na Ordem, sobre a sua sucessão...È neste contexto que , se terá cumprido a tradição que fala da ida de Gualdim a Inglaterra , talvez a negociar mais uma vinda de archeiros para a luta contra os mouros …e certamente não deixou de participar nas discussões sobre o futuro da Ordem...
Pôde cumprir assim também , seu desejo de trazer para a sede de Tomar, relíquias (dois ossos da cabeça) de S.Tomás de Cantuária, pelo qual tinha grande admiração;para enriquecimento de sua igreja. Provávelmente foi feito na época um relicário com formato de cabeça para guardar aqueles ossos ( como era costume medievo, os relicários tomarem a forma da parte do corpo,a que pertenciam os ossos do santo)... A cabeça provocava medo nos iniciados ,pois era usada nas admissões da Ordem , como reíiquias a venerar...
Mas depois com a perseguição às cabeças, no tempo do tenebroso Filipe o Belo, esta desapareceu... embora ainda nas visitações de 1508 tenha sido inventariada no castelo templário de Pombal (2º em importância na região) ”uma cabeça” (sic) ... Seria essa a cabeça de Tomar, retirada para um castelo menos visível ?...ou os ossos foram então metidos numa caixa , como arrolados num inventário tardio da Ordem de Cristo ?.
O certo é que houve cabeças- relicários nas sedes templárias de Paris e Londres , assim como as havia em Portugal no sec XIII e fora da Ordem : caso da cabeça barbuda de S.Fabião, trazida de Aragão por D.Vataça (em Castro Verde actualmente) e em Ourém: existiu na igreja da colegíada, uma cabeça de prata com relíquia da beata D.Teresa, morta em 3/9/1266, a qual era permitido oscular em seu aniversário ...
As  cabeças, simbolo do espirito no corpo…eram um objecto simbólico de contemplação , também representadas em pintura, inspirando a concentração mental ou disposição espiritual ...O tema das cabeças - alusivo ao centro espiritual primevo - sempre esteve ligado aliás , aos templários desde seu início

Desde seu fundador, Hughes de Payns que ostentava em seu brasão, uma cabeça como peça heráldica... .também aqui em Tomar na Charola os relevos figurados dos capitéis da charola nos mostram uma cabeça entre ígneas espirais ou sarça ardente evocando o fogo espiritual que a anima....Assim como em Templecombe- no Dorset inglês- é famosa a pintura parietal de uma cabeça-Mandylion semelhante ao Sudario- de que se fizeram muitas cópias para adoração como relicários...
Aliás o próprio sudário de Turim foi trazido por um templário desde Constantinopla ...de seu nome ,Robert de Chari ,segundo a tradição...
                     
Também D.Pedro Sanches, filho segundo do nosso rei D.Sancho I, ao serviço do rei D.Jaime de Aragão e dos Templários e senhor de Maiorca, possuía em 1255 um anel de ouro com safira que pertencera a S.Tomás (sg. seu testamento)... E o mosteiro de S.Cruz de Coimbra possuía os “corporaes de S.Tomas ,com um pedaço de casula com que dizia missa “ (cf. rol de relíquias do mosteiro, feito em 1595).
Por sua vez a nossa crónica de Cister afirma em seu cap.XVIII que : era já tão  celebre o nome, da fama certa de milagres de S.Tomas que não havia em inglaterra , enfermo que chamasse medico em suas doenças ...porque nele e em seus milagres acham o remedio mais fácil...conta mesmo que alguém –por lei acusado de forma injusta agravada de roubo e  tirando-lhe os olhos e as partes genitais – invocou o santo e ao outro dia o santo lhe restituiu tudo em novo.!!!..

O nosso Infante D.Henrique se refere a seu culto em Tomar,numa petição ao papa Eugenio IV de 1434. E um de seus criados navegadores porá mesmo o nome de S.Tomás a uma das ilhas descobertas no arquipelago dos Açores...

Pelos séculos fora, o culto de S.Tomás se expande universalmente..., apesar da destruição de suas ossadas por Henrique VIII ,a quando do fim dos mosteiros na Inglaterra em 1538, embora existem aqueles que acreditam que uns ossos encontrados na cripta em janeiro de 1888, são o corpo do santo.

Afinal , o que mais une S.Tomás aos templários é o mesmo destino: o bispo e o último Mestre Molay – são vítimas da mesma estratégia real, atacando a independência da Igreja...

Fontes:
- A Igreja-Historiadores da Inglaterra,volume V, parte 1,págs.329-336. Tradução a partir de  Joseph           Stevenson.  Londres: Seeley's, 1853- Sources of British History
- A Sancti Libellus Cantuariensis Archiepiscopi Thome,  Arquivo da Sé de Tuy, Codex 1.
- Brito, Frei Bernardo; Cronica de Cister, 1602.
- Grim, Edward, Vita S. Thomae, Cantuariensis Archepiscopi e Martyris,sec XII
   tradução a partir da edição de James Robertson (London: Rolls Series, 1875-85)
- Voragine,Jacopus; Legenda Dourada ( sec XIII)..

11.12.11

Pinturas murais nos claustros henriquinos do Convento de Tomar …o que resta ?!



 Nos anos 20 do Quatrocentos, o infante D. Henrique sendo nomeado 8º mestre da Ordem de Cristo, veio residir para o castelo de Tomar. Aqui o navegador começou a congeminar o seu plano das Descobertas e conquistas através do mar Oceano –pela fé e comércio - e olhando o contorno das muralhas templarias soube o caminho a seguir. Subliminarmente elas transmitiam-lhe o mesmo que a nós de um certo ângulo de visão: um autêntico portulano da costa africana...

Cognominado o Navegador, porém Henrique não navegou muito (para além da conquista de Ceuta, onde fora armado cavaleiro antes de entrar para a Ordem)... pelo contrario fez navegar bastante a seus escudeiros e criados de sua casa de Tomar (oficiais moradores na Almedina) : alguns futuros capitães das ilhas eram vizinhos (moradores) de Tomar e aqui no concelho deixaram imortalizado o sonho Henriquino de encontrar o famoso Preste Joam..(o reino cristão-copta da Abissinia,hoje Etiopia)....pois aqui existe como memória disso uma povoação com o nome de Jamprestes ! ...

Os paços do Infante assim como os primeiros 2 claustros góticos do convento -o claustro do Cemiterio e o claustro do Lavor ou lavagem (claustro multifuncional ) a oriente da Charola- foram construídos durante a década de 20/30 sob a direção do mestre Fernam Gonçalves, com seus artífices, que foram de seguida (em meados dos anos 30) fazer na vila de baixo os Estaus ( como mostram as mesmas siglas dos seus pedreiros) com suas arcadas para abrigo dos mercadores que vinham à feira franca criada em Tomar , por carta de 1434.

Na muralha antiga que dá para o terreiro a sul , abriram-se na época do Infante - a nivel térreo do 2º claustro- duas janelas de arco abatido e de paredes enviesadas - onde ainda hoje são visíveis restos de pintura a fresco - uma estrutura reticular com linhas verticais e horizontais de varios tons acastanhados ,formando quadriculas. em cujos extremos existem circulos com alternadamente rosas e cruzes. E dentro também alternamente estruturas(?) arqueadas a verde e bolbos ou corolas esbranquiçados…quiçá evocando as flores do monte funchalense ...cuja floresta de laurissilva terá impressionado os descobridores henriquinos e tomarenses... conforme imagem :
                                 


Uma pintura provávelmente do tempo em que frei Antão Glz (antigo escrivão de puridade do Infante) , alcaide mor do castelo de Tomar e Dom Frey Fernando prior da vila de Tomar e da Ilhas ... usando dos bens deixados em seu testamento, se preocupam com o embelezamento e conservação de seu convento , à semelhança do que referem na época as Constituições de Braga (1477) ao relatar o “desamparo em que som postas quase todallas egrejas e mosteyros”… motivação que se estende também a claustros e refeitorios como em Guimarães (colegiada de N.S.Oliveira e S.Francisco) cf. Paula Virginia de Azevedo Bessa -in “Pintura mural do fim da idade media”, 2004.

Com motivos decorativos geometrizantes e florais caracteristicos da época, ocorrendo em varios suportes : madeira ,pedra e pergaminho (vide por exemplo as rosas brancas do Missal rico manuelino de Stª Cruz) em barras de enquadramento com recurso a estampilhas de época, assim como grilhagens ao gosto italianizante com padrão de cariz floral aplicado – vide figura …
                     
Aqui ocorrendo semelhantes temas decorativos noutros suportes e locais , como os capiteis vegetalistas no 1º piso do claustro ou as colunas pintadas do octógono central da Charola (geometrismo) .

Num dos circulos assinalados- que ampliamos- são visiveis na sua parte debaixo à dextra – as letras D P que podem eventualmente significar uma assinatura abreviada de Diogo Pires - (artista coevo da Virgem do leite de Stª Maria de Tomar) com obra gótica conhecida no ultimo quartel deste século ...pois há mestres que assinam por abreviatura , segundo Luis Afonso, em finais do Quatrocentos nortenho.


São também visíveis, fragmentos de pintura figurativa sobreposta (noutro alinhamento) com linhas quebradas e um grande circulo , onde se encontra, à borda sul da parede , uma personagem com uma vara na mão, misturada/oculta com manchas de reboco …oferecendo dificuldade de interpretação. Também a oriente , do outro lado da mesma janela ,em posição mais ou menos especular, é(ra) visivel a figura de um soldado/ milites vigilante…

Porque substituir pinturas envelhecidas era pratica comum .. pois ao fim de cada geração as pinturas murais estavam necessitadas de repintura . Assim no sec XVI as paredes eram caiadas (borradas) retocadas (como S.Cristovam da Charola) ou tapadas com quadros pintados . Nas visitações manuelinas recomenda-se “ que façam exame das pinturas e se as acharem mal ou envelhecidas as borrem (campanha da cal,cobrindo pinturas mais antigas) e pintem outras … Na segunda metade do seculo : em 1573 há noticia de que o pintor Fernan Rodrigues efectuou obras nos retabulos do claustro do Cemiterio e em 1592- houve obras na “crasta do lavor” que caira a parte de cima...sendo feito contrato com Manuel Francisco , para que caiasse as paredes da crasta e arranjasse os telhados ...

                     
Já no Oitocentos e depois da desamortização dos conventos (1866) foram enviados sob autorização ministerial “ fragmentos (sic) do claustro da lavagem” … para o museu do Carmo em Lisboa ! Finalmente nos anos 40/60 do século passado há noticia de que se rebocaram as paredes (1ºpiso) do claustro da Lavagem…
E agora que vão fazer com o que resta das pinturas ?… adjudicada obra a uma empresa de restauro e caído o pano (cobertas) sobre as janelas do claustro …simples limpeza (de que género?) e/ou fixação (!) …de quê ?…ainda restará algo 20 anos depois desta foto… ao sol e à poeira do terreiro do castelo …muito menos por certo… À atenção dos “vizinhos” …

11.11.11

Há cerca de um século que não se ouvia a Marcha Triunfal de Gualdim Pais !








Depois da versão tocada ao piano no passado dia 30 pelo prof. João Mourato em S.Maria dos Olivais , eis aqui o prometido : um video musical agora com a versão para banda – que está a ser preparada para o dia da cidade , por filarmónicas do concelho tomarense – numa 1º audição pública absolutamente original … só para ouvirem como soa magnífica…extraída das pautas a partir de um programa informático-musical…no caso pela banda da Pedreira.

In principio erat verbum …e a ideia da Lápide dos Mestres se corporizou finalmente!

Da iniciativa da Associação Cultural Templ’Anima, cujo objectivo estatutário é a Evocação Histórica ligada aos templários e ajudar a desfazer as trevas da ignorância quanto à Ordem - contando entre as suas fileiras homens da historia e da cultura - e apoiando-se naturalmente nas instituições locais –um direito e uma necessidade que lhe assiste enquanto organização de jure sem fins lucrativos - integrando-se nos apoios ao associativismo , no que concerne a eventos cultuirais.

Colocada à apreciação pública desde 2007 - no mesmo ano em que o próprio Vaticano publicava a sua inocentação – visava assim também aqui perpetuar a memória daqueles bravos cavaleiros , que ajudaram a construir Portugal . Cumpriu-se assim mais uma etapa do nosso programa de trabalho. Mais visivilidade templária para santa maria dos olivais ...

Estiveram presentes militares, professores, juntas de freguesia , jornalistas e algum público entusiasta da Ordem…

Descerrada a lápide- cujo tamanho (mesmo assim inferior a uma lápide mestral real)...e posição de pé - visam a que seja bem visível logo desde a coxia central a quem entra na igreja , para sua informação sobre a natureza de panteão daquele espaço, fornecendo o nome e datas de mestrado dos cavaleiros da Ordem do Templo em Portugal, cujos túmulos tinham desaparecido…

No Cinquecento com as obras do famigerado frade jerónimo Antonio Moniz (.!.) dá-se a destruição dos túmulos goticos dos mestres na igreja com a construção a sul da galeria e capelas laterais e sacristia… pois muitos deles estavam dispersos por aquele espaço, como ainda se pode ver comparativamente na igreja hospitalaria de S.João de Alporão em Santarem.

Sobre o modo como foi obtida esta listagem consensual dos mestres : foi por estudo comparativo entre os velhos cronistas do Convento de Cristo : frei Jose de Brito, frei Bernardo da Costa e frei Lucas de Santa Catarina, etc…
Muitos mestres apenas se conhecem por uma composição, documento de doação ou de compra e venda…

O cronista Frei jose de Brito afirma Stª Maria cabeça da milicia do Templo e cemitério dios mestres da Ordem e assinala a maioria expressamente como sepultada aqui e quando não o faz, isso não significa que cá não estejam , como no caso de Lourenço Martins -o último- cuja placa está visivel na capela e que ele não assinala expressamente…e portanto também cá está. Mais , deste último sabemos que renunciou a seu mandato antes do fim da vida e só morreu uma dúzia de anos depois , no entanto cá está , o que significa que mesmo os que resignaram e houve alguns , também cá estão…o que dá a esta placa ,felizmente visível , um valor de prova muito importante.

Também nos sobrou à vista outra placa muito importante na parede lateral norte , que está sob uma pintura representando no Monte calvario S.João e Nossa Senhora olhando para o céu …porque Cristo ressuscitou…anteriormente estava ali entre os dois na cruz…!! (mas essa é outra estória)…Como dizíamos , a lápide por baixo assinala o lugar do mestre Gomes Ramires , morto em combate em Navas de Tolosa …uma grande vitoria da cristandade em 1212…o que significa que mesmo os mortos em combate em lugar distante , vieram para a sua igreja –panteão, está aqui em Tomar !… como alias recomendava a Norma! Portanto daqui se infere que as cinzas de todos cá devem estar…apesar do arrasamento de seus túmulos .
Houve 3 mortos em combate : Lopo Fernandes, Gomes Ramires e Martin Martins;
houve 3 cruzados na Palestina : Gualdim Pais, João Fernandes e Lourenço Martins.

Também a destacar que muitos , embora portugueses foram mestres nos 3 reinos ou seja Portugal,Castela e Leão, entre os governos de Gomes Ramires e João Fernandes…Mais, segundo o espanhol Campomanes : Gomes Ramires e Paio Gomes foram também mestres em Aragão ; o que juntando-se à informação- referência veiculada no Manuscrito de Barcelona (reino da Catalunha e Aragão) da Regra e Estatutos da Ordem ,segundo Laurent Dailliez- temos ali referidos mais dois mestres a propósito de casos e detalhes de Disciplina que aconteceram na peninsula : Martin Sanches e Guilherme Fulcon ou Folques – o que significará na verdade que eles os mestres de Portugal o foram afinal também de toda a peninsula – atestando a sua importância e valor …

Embora realizassem por conveniência de proximidade muitos capitulos em Castelo Branco ou residissem por periodos de Guerra em Espanha- isso significa que Tomar e a sua Rotunda era a vera sede ou capital religiosa da Ordem na peninsula ibérica…
Todos eles participaram nas batalhas de seu tempo , durante o periodo da Reconquista iberica…



Vejamos agora algumas observações críticas sobre o próprio rol e suas datas.

Lembramos que os templários transferiram a sua sede de Santarem para Tomar a partir de 1160- lógicamente esta igreja só começa a ser panteão com Gualdim seu fundador como é obvio...os que morreram anteriormente estão naturalmente em Santarem -sua antiga sede- como lá está assinalado : o franco Hugo Martoniense e Pedro Arnaldo , este caído no assalto a Alcacer do Sal em 1157.

Quanto a datas : específicamente sobre Gualdim: apareceu uma versão fantasista afirmando que a lápide antiga da parede está errada: que ele morreu 2 anos antes e noutro mês …que aquela é apenas a data de transladação, quando a igreja estava concluída! …No entanto sabe-se que a igreja já estava aberta ao culto desde os anos 70 do sec XII. , além de que a placa diz concretamente “ Morreu frei gualdino…na era de 1233(1195)…em este castelo de Thomar.…” logo o escrito refere-se à data da sua morte no castelo…sem margem para dúvidas.

13 de outubro é o dia do aniversario da passagem para a Gloria de mestre Gualdim o cavaleiro modelo…o que rezava lutando em cruzada permanente…
Assim recorrendo às palavras escritas nos forais, àquelas gravadas na pedra e outras memórias documentais, do Mestre afirmamos os seguintes traços de seu perfil:
Salomónico e justo : ”assim se lê em Salomão amai a justiça ,vós que julgais na terra”
Cultuante de reliquias –testemunha pública de milagres de S.Vicente- construtor de castelos -fundador do burgo cristão de Thomar, edificador do Reino.

Também observamos que contráriamente ao que afirmam esses criticos ,para justificar a posse mais cedo de seu sucessor D.Lopo Fernandes : não havia confirmação régia dos mestres –mas apenas dos castelos e doações a eles feitas , não deles próprios... porque eram independentes do poder régio pela bula papal Omnes Datum Optimum…o que demonstra que pouco percebem do assunto históricamente falando, e assim nao devem ir alem do pé... e muito menos batê-lo agrestes , adjectivando imprópriamente o nosso trabalho…

Quanto ao ùltimo mestre que honramos aqui : Vasco Fernandes é feito mestre de Portugal, no mesmo ano em que Jacques de Molay o é na Terra Santa…ambos são os ultimos mestres da Ordem- acontecendo a ambos infausto acontecimento em 1307, a suspensão da Ordem ad divinis pelo papa…mas com sorte diferente, mercê do apoio que aqui lhes dá D.Dinis , não sendo a Ordem perseguida em Portugal.
Mais tarde Vasco Fernandes surgirá como comendador da Ordem de Cristo em Montalvão (concelho Nisa) e aí será sepultado em 1323.
Embora tenha perdido a dignidade mestral –hoje é a hora no entanto de devolver a honra àquele cavaleiro.

Assim no dealbar do 3º dia milenar , os templários renascem aqui em seus nomes, memória e Gloria! …porque é preciso desenterrá-los do esquecimento debaixo da cal das paredes e das lages do chão ..para a luz -para admiração e lembrança na posteridade…
Neste espaço sacro e mítico onde os cavaleiros salomónicos descansam com as pernas cruzadas /sobrepostas imitando o crucificado e simbólicamente sempre vigilantes face ao inimigo…e virados para oriente …o Sol invictus !
Porque é de elementar justiça à memória daqueles bravos e piedosos mestres - também pedagógico e valorativo para quem nos visita- .. Tal será fazer reviver veramente o espirito do lugar e da Ordem fundadora também desta igreja mariana!

Aproveitamos para falar de um outro ponto de interesse nesta capela mestral : na parede lateral esquerda há um nicho onde está a imagem de Santa Maria Madalena. Que faz aqui Maria de Magdala junto aos mestres do Templo ?… aproximando-se da imagem e olhando por baixo as suas mãos postas , ver-se-á que fazem o desenho de uma fechadura…o que sugere que ela a santa é a chave do mistério templário… aqui como em Vezelay/França- a catedral de S.Maria Madalena (de 1118…) - onde S.Bernardo clamou pela 2º cruzada , aonde foi Gualdim e os do Templo…
Aqui naturalmente juntos Madalena e os do Templo- há muito- sem grandes deduções especulativas ou investigações policiais à Don Brown… ah, mas se ele e os seus leitores o soubessem…rápidamente dobraria o número dos visitantes deste templo…tal como aconteceu a outras igrejas da Europa citadas no Código…. por curiosidade ou Demanda do espirito dos lugares…!!…

E por agora é tudo , quanto a notícias de nossas actividades recentes, que é o papel exclusivo deste blog …

E quem estiver contra isto : que mergulhe no Hades e seja tormentado com todos os Bafomas do claustro de S.Bárbara

13.10.11

No dia de Aniversário do Mestre Gualdim , dedicamos-lhe a Marcha Triunfal criada por Alfredo Keil

Esta marcha foi encomendada a Alfredo Keil ( o autor do hino nacional) pela cidade de Tomar , a quando do último centenário do óbito do mestre templário e fundador da cidade em 1895. Foi interpretada em Setembro desse ano, por 3 bandas militares (sabe-se que o RI 15 ,não estava presente em Tomar,nesta altura, e as bandas filarmónicas da cidade eram ainda jovens- há pouco nascidas- pelo que não teriam o já longo prestigio e prática das bandas de origem militar- razão também porque não consta ao que parece tal hino nos seus arquivos. )

Assim sendo , na ocasião dos 850 anos da fundação da cidade , e sabendo da existência desse hino, dirigimo-nos ao Museu da Musica em Lisboa , onde acabámos por encontrar no espólio do compositor a obra original (há muito esquecida : não editada até hoje ao que sabemos,ao contrario de outras peças suas) e cujas pautas digitalizadas a partir desse original, foram entregues à Câmara de Tomar.(Div.Cultural) em tempo oportuno, para distribuição pelas bandas do concelho.
Uma oportunidade nova de execução desta obra que faz parte do nosso patrimonio e de nossa identidade e que nós tomarenses já não ouvíamos há 100 anos !...

Instrumentalmente referem-se na 1ª folha da pauta : fautim, flauta, oboé, requinta(peq.clarinete), clarinetes,saxofones,cornetins,fliscorne(trompete), trompa,clarim,trombones,e bateria (triangulo,caixa,bombo e pratos) cuja evolução está disposta em 25 linhas ,desdobrando-se ao longo das 15 folhas da pauta.
Para obter a pauta completa relativa a cada instrumento/executante há pois que transcrever a linha respectiva ,ao longo das 15 paginas da obra ( trabalho auxiliado pelos programas informáticos Sibelius ou Finale).
Sabemos que naturalmente cada banda tem o seu proprio reportório , mas tal como foi feito para o Hino nacional há pouco, acreditamos que é possivel mobilizar as bandas em torno de algo que nos diz respeito a todos enquanto tomarenses: este hino de homenagem a Gualdim.
2 bandas do concelho tomaram já contacto com as pautas e os seus maestros começaram m a fazer o necessario trabalho de adaptação..,nomeadamente a instrumentos de hoje A peça apresenta um certo grau de dificuldade e exige cerca de 60 musicos, de forma a que se possam bem ouvir todas as vozes ....



Entretanto haverá uma primeira audição pública , já no último fim de semana deste mès , através da execução do estudo prévio, feito para piano, por Keil e que acompanhará musicalmente a colocação de uma lápide (de nossa iniciativa) com o nome de todos os mestres templarios na igreja-panteão de Sta Maria dos Olivais .
Será no domingo 30 de Outubro - de qualquer modo ainda dentro deste mês - porque (de forma lata) :
é o mês de Gualdim (óbito a 13 Outubro)...é o mês de Keil - que fez o hino a Gualdim- e morreu a 4 /outubro...é também o mês de S.Iria - a quem Keil fez uma Ópera - (dedicada àquela santa ...cujo dia é 20 outubro)...e é o mês em que terminam as comemorações do centenario da Republica – sendo que a Portuguesa de Keil foi aprovada como hino nacional ,na Constituição de 1911...tudo coincidências a “forçarem” tal limite !

Foi aliás na nossa região no sitio do castelo de Paio Mendes , a pouco mais de meia légua de Dornes ,
onde Alfredo Keil passou vários anos da sua vida, pintando e criando música…. chegando mesmo a ser condecorado com a Ordem de Cristo ,por mérito artistico.
Recém-iniciado no rito maçon do Grande Oriente Lusitano ele achava-se desperto para receber as influências e a inspiração daqueles lugares onde ainda habitavam (em espírito) os cavaleiros do San’Graal ...que ali tiveram suas comendas e lagares..entre o grande Pinhal e as águas do Zêzere!




Para maior visibilidade da igreja templária de Santa Maria dos Olivais

S.Maria foi Panteão dos cavaleiros-mestres da Ordem do Templo,durante todo o sec XIII. Mas 2 séculos e meio depois , a pretexto de obras de ampliação ao culto , mas ainda sob a influência destruidora de sua memória na Europa , iniciada pelo rei capeto Filipe IV de França , foram mandadas arrasar todas as arcas tumulares daqueles mestres, nesta sua igreja-panteão!

Hoje, que está na ordem do dia uma campanha europeia pela reabilitação da cavalaria Templária, inclusive por parte do site do Vaticano que tem publicado textos absolutórios das acusações que lhe eram feitas na época , é de elementar justiça à memória daqueles bravos e piedosos mestres - também pedagógico e valorativo para quem nos visita- que se perpetuem os seus nomes na igreja, colocando uma simples lápide , imitando tampo de sepultura , na igreja de S.Maria , com breve resenha biográfica (nome e datas de mestrado) de todos eles... Tal será fazer reviver veramente o espirito do lugar e da Ordem fundadora também desta igreja mariana!

Assim e no rescaldo das comemorações da fundação da cidade e devolvendo a honra aos cavaleiros templários e á sua memória... também aqui em Tomar- uma das sedes da Ordem e única integralmente conservada na Europa ocidental- será aposta na vertical e de forma auto-sustentada com suporte na capela de Gualdim , uma lápide memorial dos Mestres do Templo ( segundo o modelo anexo e já colocado á opinião pública desde 2007) .

Acto de homenagem histórica da cidade, cujo descerramento será acompanhado da execução da “Marcha de Gualdim” de Alfredo Keil.

Gualdim está vivo ! ... sempre presente no meio de nós !



26.8.11

1511-1811-2011 Evocação do Nascimento e posterior Desaparecimento do famoso Cadeiral manuelino do Convento de Cristo em Tomar






 Mestre Olivier de Gand (Flandres), entalhador de arte flamenga, surge documentado em Tomar, em 1511, a trabalhar no coro do convento, com uma equipa de sete oficiais de marcenaria e associado ao galego Fernão Muñoz , que continuará a obra após a sua morte .
Nasce assim o espectacular Cadeiral gotico, feito em madeira da India rematado por um grande baldaquino em filigrana, obra de arte unica no seu genero, retratando os cavaleiros de Cristo…que ali se sentavam para assistir aos oficios divinos da charola, (quando à noite, à luz de uma grande vela disposta sobre cada cadeira)… Lateralmente 30 cadeiras espaldadas- 15 de cada lado simetricamente- cujo numero evoca as 30 novas comendas criadas por D Manuel ,administrador da Ordem em seu Capitulo de 1503, para recompensar os services prestados na dilatação do Imperio.
Decorativamente, acima o imaginário régio nas esferas armilares e cruzes de Cristo, depois o imaginário da conquista cristã pelos monges-guerreiros da Ordem, em exaltação do projecto imperial e cruzado de D. Manuel.
Como comentou circa 1700- Fr. Jacinto de S. Miguel, monge de S. Jeronymo (Códice 8842, fl. 197): "O Coro é fabrica admiravel, naõ tem igual neste Reyno, e por ventura, nem em toda a Espanha. He obra de talha (...) em que se vem os antigos freires com habito clerical com barretes na cabeça e cruzes de Christo no peito e muitas figuras em nichos, humas de relevo, e outras de meyo relevo. Vêem se tambem laçarias, folhagens, e brutescos (figuras animais)… tudo primores da arte”
Em pormenor, na imagem (publicada por Barbosa,in Monumentos,1886) que apresentamos, observa-se a comunhão da corte celeste e terrestre numa temática real e alegorica …onde podeis ver 4 series agrupadas de figuras (numa distribuiçãso numerica 4-3-3-4) em volta de uma personagem central : eventualmente D.Jaime de Bragança, sobrinho do rei e vencedor no Marrocos…






             












Na 1ª parte, a evocação da corte manuelina : olhando-se entre 2 criados(?) …D.Maria , princesa aragonesa, segunda esposa de D.Manuel, acompanhada de seu músico do cancioneiro Garcia Resende ou alegóricamente a Fama acompanhada da musica ,como no auto do mesmo nome de Gil Vicente –em glorificação das campanhas e vitórias portuguesas, acabado de representar pela 1ª vez em 1510…



No outro extremo, a corte celeste: entre um condestavel protector com menino e um evangelizador de indios(?), as figuras inconfundiveis de um S.Jorge e de S.Tiago c/bordão de cabaças.


Centralmente, a um lado da figura principal, a milicia de Cristo nos seus 3 componentes: o prior (D.Diogo Pinheiro :vigário geral), o sergento com o cavalo e o guerreiro-cavaleiro com manto; do outro lado a evocação épica do patrimonio do reino…terras decobertas e povos subjugados… empresas associadas à Ordem de Cristo, cujos elementos levam ao peito (e nas velas) a cruz de Cristo. …talvez um Nuno Ataíde –capitão de Safim-em 1508…o “guerreiro do rei” em Africa…e os feitos e governadores na India e Brasil ,de que são exemplo recente : Afonso Albuquerque conquistador de Malaca em 1511 e Pedro Alvares Cabral ..conforme às representações de época…



Se quereis imaginar o antigo cadeiral do Convento…



vêde o cadeiral coevo da Sé do Funchal …de grande qualidade artística e atribuído também a Olivier de Gand. (1512- é a data de um pagamento de lavor de talha na Sé)…e para onde D.Manuel nomeia em 1514 –o Prior de Tomar como 1º bispo do Funchal.
Na capela-mor, o esplendoroso cadeiral de talha dourada e policromada a azul, de duas ordens de cadeiras, distribuídas em duas fiadas confrontantes,As cadeiras baixas, mais pequenas (para os capelães) interrompidas por duas escadas de acesso às posteriors (como em Tomar ); as cadeiras acima, de espaldar alto, (reservada aos capitulares) seccionado em vinte e dois assentos por pilastras rematadas por coruchéus dourados, possuindo a meio, figuras relevadas, assentes em mísulas esculpidas, retratando apóstolos, profetas, santos e monges em trajos do sec XVI . Encima o conjunto baldaquinos, subdivididos por cadeiras, com decoração fitomórfica rendilhada, intercaladas por pilastras rematadas em pináculos …


Os acontecimentos durante as invasões francesas :

A quando das invasões , dá-se a ocupação do Convento de Tomar, primeiro como base das tropes luso-inglesas, depois como quartel de tropas francesas. Em Janeiro 1809 o general Miranda Henriques, fidalgo,senhor de comendas na Ordem de Cristo, encarregado da defesa da Beira Baixa, estabelece o seu quartel-general em Tomar,ficando assim collocado entre oTejo e o Mondego, e ao mesmo tempo vigiando a passagem do Zezere. Em Thomar e Torres Novas postaram-se os regimentos de infanteria n. 3 com 740 praças, n.° 13 com 825, n.º 15 com 672, e os restos do regimento do Porto com 360 sendo o total d'esta força 2.597 homens. (vide Luz Soriano,Guerra Peninsular,1874). A partir de abril chegaram a Tomar, os militares ingleses aliados, reorganizando as forças ,primeiro o marechal Beresfotd , depois Lord Wellington e por fim o general Leight com mais 2000 soldados ingleses. Escavam-se trincheiras e fortificam-se posições. O Convento tal como outros edificios é utilizado como aquartelamento albergando tropas e como hospital de campanha . Também o serviço de saúde estava deficitário em quantidade e qualidade, já que anteriormente na 1ª invasão Junot, enfraquecendo resistências, tinha enviado parte dos cirurgiões e ajudantes com as tropas portuguesas para França ,como legião estrangeira…
No caos reinante, Beresford conhece 3 fisicos-mores em 3 meses : o primeiro, inspector dos hospitais militares ,entretanto preso por ser maçon, depois o seu substituto interino,a seguir um nomeado régio…(Carlos Vieira Reis,2006)
Neste quadro, o marechal chama ao seu quartel-general Andrew Halliday como conselheiro de saude e é natural que por aqui tenham passado todos os « facultativos » disponiveis em observação de idoneidade para os lugares …(numa antecipação da junta que será legalizada no ano seguinte)…
Nesta classe , há referências entre outros a um Manuel Tavares de Macedo, medico empregado num hospital militar instalado na cordoaria da Junqueira…que surge (á posteriori) requisitado para as linhas de Torres …(in Luz Soriano, Historia da Guerra Civil , segunda epocha-guerra peninsular,tomo III, Lisboa,1874, pp. 271-472)
-Terá sido neste contexto de insegurança que é feito o conhecido desenho do antigo cadeiral de Tomar, como memoria futura, assinado por Macedo em 1809 (possivelmente o medico militar referido acima, episódicamente presente na “salus infirmorum” do convento de Tomar…acompanhando o movimento das tropas aliadas…
Com a retirada estrategica para as linhas de Torres Vedras e com a aproximação do exército de Massena, no mês de Outubro de 1810,varias dezenas de milhares de habitantes das vilas e freguesias rurais abandonou as suas casas, migrando para a margem esquerda do Tejo, outros para a capital ou para as serranias (Em Vale de Cavalos e Pinheiro Grande há refugiados de Tomar e Asseiceira ,segundo os registos de óbitos locais da época. Também os freis do convento encabeçados por seu Prior D.José de Castro abandonam Tomar, com vista a salvar livros e alfaias, dirigindo-se a Lisboa.
Incapaz de ultrapassar as linhas aliadas, Massena posiciona-se entre Santarém e Tomar, aguardando reforços … A 7 outubro 1810 o 6ºcorpo do exercito frances comandado pelo marechal Ney, dispõe o grosso das suas forças (3 divisoes de infantaria alguma e cavalaria-agora reduzida a um quarto dos seus efectivos iniciais …eram agora uns 6.000 homens ) ao longo da região de Tomar e termo , de Ourem a Punhete A 2ª divisão comandada pelo general Mermet, que inclui os regimentos n° 25 da brigada Bardet e o regimento nº 59 da brigada Labasset, o parque da artilharia e o quartel-general do corpo de exército, ocupam o convento de Tomar, uns 2500 homens (Fernando Silva Rita,in Os Exercitos de Massena e Wellington no concelho de Santarém, Mestrado 2010).
Os franceses fazem tentativas de lançar pontes em Santarem e Abrantes sobre o rio Tejo, para progredir pela sua margem esquerda, .Porém a ponte de barcas que chegou a ser construída, nunca foi lançada, porque as tropas de Wellington, colocadas na outra margem, vigiam todos os locais possiveis . Para construção das pontes , desmantelam-se as casas de onde se retira madeira e ferro(barrotes e pregos),deixando-as em grande ruína… destelhadas e sem portas nem janelas… Porém as casas populares “eram de uma construção tão ligeira que poucas pranchas delas retiradas poderiam servir”…(F.Silva Rita,op.cit,acima.)… daí que talvez a madeira das igrejas e conventos fosse melhor para o caso !
Quanto ao ferro- mais de um milhar de arados foram encontrados e aproveitados pelos franceses na região, dai´ também os estragos nas Ferrarias de Tomar…Salvaram-se as Moendas ,porque eram uteis a apoiar o reabastecimento das tropas em pão. !
Durou 5 meses a permanência do exército invasor : até 7 março de 1811…
Segundo os Relatórios do Intendente-Geral francês Lagarde : Emerge de todas as partes uma fúria de pilhagem, uma raiva de destruição e de cupidez que devasta os recursos” , La Mission de Lagarde, Paris, 1991, p. 275 …Esta cupidez devoradora desce das altas esferas do exército até às mai sbaixas. O général Béchet de Léocour ajudante de campo de Ney , confessa nas suas Memorias: ter entrado por este meio em posse de um belíssimo serviço de porcelana. (que haverá mais no seu castelo de Remilly nas Ardenas ? !)…
Cerca de metade do exército percorre as estradas de Alcobaça e Santarém, saqueando aldeias e quintas da região , num raio de 40 leguas…O autor da Relation de quelques événements…op.cit. relata violências cometidas pelos soldados franceses, nomeadamente o atortura de velhos e crianças que levam pancada até á morte , obrigando-os aindicar “ onde estava dinheiro e mulheres escondidas.” (F.Silva Rita,idem). Confirma-se nos registos paroquiais: freguesia de Freixianda, 31 assassinados, homens e mulheres, Igreja nova- mataram 8 homens e 2 mulheres. Apesar disso salvam-se objectos valiosos como a coroa de prata do Espirito Santo de Carregueiros, escondida debaixo da soleira pétrea da porta, pelo mordomo da altura!…
Segundo Guingret (Relação de campanha,1817) : o 6º corpo, chega mesmo a apoiar a subsistência de outros corpos…em cereais , leguminosas e vinho…nas suas fileiras tem um soldado que fareja garrafeiras escondidas a 50 passos de distancia! …Face a esta devastação- aliada á politica de terra queimada imposta pelos ingleses- não é de estranhar que a comarca de Tomar , a quando da saída dos franceses , ao abrigo de uma portaria régia de 11 deMarço de 1811, fomentando as sementeiras : dos 2 000 moios de trigo distribuidos pela província da Estremadura, fosse a que recebeu a maior quantidade, 428 moios.! (F. Rita,op.cit; 2010)
Tambem devido ao novo espírito francês anti-clerical pos-revolução 1789, a maior parte das igrejas e conventos são atacados e devastados sem hesitações, quebram-se imagens apenas por causa das coroas de ouro, levam-se os calices dos sacrarios…usam-se os templos como matadouro ou arsenal…passeiam-se cavalos com casulas e dalmáticas ! Segundo memoria(1817) da respective colegìada: a antiga igreja templaria da Alcáçova de santarém , foi despojada de tudo o que engrandecia o seu culto, tendo o seu arquivo sido vasculhado e arruinado.
Do balanço feito em Tomar, após a saída dos franceses, em agosto 1811, consta entre outros o prejuizo com o desaparecimento do cadeiral do convento, orçado em 80 contos de reis só por si (compare-se com 501 contos de prejuizo das 13 igrejas de Santarem,somadas!-sg. F.Rita) … e atulhando o rio Nabão, ficaram 500 carradas de balas e explosivos deixados pelos franceses na fuga…(vide Luz Soriano,Guerra Peninsular). As carroças da artilharia levam agora possivelmente produtos de saque , baixelas preciosas e peças de mobiliário, talvez a transacionar em Espanha ou a levar para França, pelo quartel general ! …Quanto aos soldados de infantaria,esses já tinham até comido os burros de transporte, esgotados os recursos locais…

E hoje que fazer… de forma a perpetuar a memória do cadeiral?

-Estudar os fragmentos do cadeiral( presença de sinais de fogo ou não) , assinalados nas reservas pela DGMEN ...
-Continuar a inquirir as memorias francesas e luso-inglesas sobre a guerra (a enumeração descrita serve como pista )…
-Colocar no coro do Convento imagem do antigo cadeiral ,com memoria descritiva..
-Porque não materializar uma ala do cadeiral ,num proximo festival de Estatuas da cidade , vestidas a rigor conforme o desenho e no local próprio





28.7.11

No tempo do rabi Josep de Tomar




A propósito das comemorações referenciadas para a Sinagoga de Tomar , nesta semana, trazemos aqui a evocação de como seria a vida dos judeus na Vila , através de um excerto de um livro a publicar, sobre a Thomar dos fins do século XIII, no outono dourado da Ordem templária...

Em seu texto introdutório afirma-se: “ Vamos poder ver aquilo que até agora não estava visivel, desvendar os elementos vivos na Pedra, ver as casas para além das ruínas, ver os cavaleiros ressurgindo para além das sepulturas quebradas onde dormem; vamos ao encontro da vida e dos vizinhos da vila, suas ruas e monumentos...”

Onde se fala da primitiva rua Direita :
Frente aos Açougues (a sul de S.João) pela Rua Direita e até ao Chão de Pombal estende-se algum casario baixo, onde as mais desvairadas gentes partilham o viver quotidiano. Nas ruas estreitas talentosos mercadores e artesãos com sua habitação e loja oficina com simbolo da arte gravado na porta ou alpendre.
Ali se encontram-se todos os que sao de nação judaica a tratar de negocios...
Conhecem-se pelo turbante e a bolsa. Barbas e narizes aduncos. Habitam as ruas mais concorridas comercialmente ou parte delas : Moinhos-Açougues-Rua. Direita e vivem misturados com os cristãos
Olhados com desconfiança por seu estranho trajar e seus costumes;e estranha é a sua fé praticando ao sabado, são os judeus safardis (desde o inicio da era medieva nas Hespanhas)
.Aqui concentrados serão uns 10% dos moradores-da vila sendo metade mercadores e um terço artesãos..(segundo a media estremenha iberica )...
Vendem especiarias,pedras preciosas,são carniçeiros e alfaiates, e almocreves inscritos na Confraria dos ditos. Sao fisicos , cirurgioes e tratadores de doenças dos olhos...
-São também arrendadores de impostos... recebedores de rendas, senhoriais e clericais ..gerando entre os cristãos descontentamento ....

Quando ao anoitecer de sexta-feira, o rabi anuncia ao som da trombeta( shofar) -a entrada no sabath/sabado, param tudo o que estejam a fazer....
Vestindo as melhores roupas –uma túnica lavada e branca – saiem a passear, e dando Shalom (paz) - cumprimentam-se uns aos outros .
Vão todos a beijar a mão do rabi a sua casa..É uma loja de panos a meio da rua(Nova).
Nesta casa caiada e limpa –adaptada a templo, com sua janela alta e estreita- há tapetes nas paredes decoradas e vasos de prata, uma arca de boa madeira.... Na ombreira da porta no canto direito a cavidade onde se guarda um estojo com pequeno pergaminho com algumas palavras do Shema-a oração fundamental
Ali vemos um de rosto comprido,cabelo ruivo ,com sua barbicha,manto çorame,vestido de garnacha azul bordada a amarelo paramentado... Com o passo balanceado -um xaile ritual cobre-lhe os ombros.e a cabeça (Taillit) -levando sua Tora ( rolo das Escrituras) processionalmente encostada ao peito...até um altar. pois que havendo mais de 10 homens na comunidade , há o Minyam para haver culto...
Em destaque um candelabro de 7 braços , a Menorah, imagem da arvore da Criação ou Sephirot e dos principios que regem os números, a descida e a subida das energias divinas ali simbolizadas ...

Junto a esta casa/sinagoga , o poço das abluções ou banho ritual antes da oração...depois entrando .os judeus ..reverentes entoam o salmo-“louvai a deus Adonai em seu santuario”...todos virados para Jerusalém...
A um lado, sobre o fogo coberto com telhas, estão já os bolos de pão ázimo, cozidos...pão santo que cada um levará para casa, envolto em toalha branca...

Esta casa , além de lugar de oração é também lugar de reunião de judeus a tratar de seus assuntos e ainda escola onde se estudam as sagradas Escrituras ou Pentateuco, atendendo ao espirito mais que á letra...
Tudo está no livro : a vida inteira para eles, com interpretação possivel...E lêem que os tempos se aproximam de novo... em que Josué redistribuirá pelas tribos, porções da Terra Prometida. E como diz o Genesis : “Thamar a cananaica,a só, a que se escondia sob o véu e estava na encruzilhada do caminho, foi tomada(desposada) por José da tribo de Judá. E " Joseph, filho de José, Deus o consagrou rabi e será guardador deste povo, ca eles aprenderão de ti e de tua boca como deve-se guardar a lei e como devem crer esta fé"...assim também a caminho de Thomar,a dos frutos paradisíacos,a imersa no vale, está um notável rabi de seu nome Josep, o qual na sua diáspora virá de Torres Vedras a comerciar terras e propriedades (excepcionalmente até com os Bernardos de Alcobaça-em 1297/1303 no Paul de Alvim- cf. Pedro Barbosa,92 ) e se finará no Algarbe (em janeiro de 1315,cf. lápide acima) sempre mercadejando em zonas de oportunidade …e cobrando impostos ou talhas como se fala numa tensão (despique poético) entre D.Josep e Estevam de Guarda ,seu contemporâneo (que o acusa de favoritismo na aplicação da talha para com certo fulano da mesma crença; e como o judeu se defende das acusações, citando outro sujeito que o malsinava de sonegação do imposto, Estevão acaba por defender o judeu e atacar o seu detractor, que era mal visto pelo rei D.Dinis)... cf. Cancioneiro da Biblioteca Nacional

Este judeu D.Josep era pois um homem importante e dos 7 oficios que por serem referenciados (o que não era mui vulgar para um de sua raça) ...todos na mesma época, devem corresponder á mesma pessoa : rabi, mercador, cobrador e ...trovador !

26.7.11

À porta da antiga Albergaria …todos receberam a benção do Espirito Santo !




No inicio da subida para o castelo templário… à porta da antiga Albergaria de S. Brás (que devia ser preservada, enquanto tal, constituindo mais uma atração turistica e pedagógica) … e em plena festa dos Tabuleiros : abriu-se o Imperio espiritosantista da Fraternidade.. !

E várias dezenas de pessoas ali se juntaram á esquina da rua ornamentada de festa a ouvir as palavras do jogral (Pero Mafaldo) que trovou acerca dos “mentireiros” e seus ganhos…(ainda hoje é assim…comentava-se!)…

E seguidamente se convidaram os presentes a receber a benção do Espirito Santo…e então : velhos e novos, homens e mulheres, muitos ali se ajoelharam frente ao Imperador. Ele todo de branco, sentado hieráticamente em seu trono vermelho, acompanhado dos vasos das cabeleiras, invocava o Consolador




E então a Divina Pomba desceu sobre as cabeças das pessoas, recolhidas, mãos postas…momento de Fogo espiritual , iluminação de vida pessoal…segredando-lhe a Palavra ao ouvido (Saúde ou Ração) …E a pessoa passava o segredo áo ouvido do Copeiro (á moda beirã espiritosantista de orelha a orelha )…e este procedia em conformidade, desejando-lhe muita saúde ou ofertando-lhe um copo do Elixir da longa vida (o vero pigmentum: vinho branco,mel e salva ) de medieva receita…E nas gargantas; jorrava o precioso liquido… quem beber tudo a preceito : verá Deus !



2.7.11

Albergaria de S.Brás! Vem e Verás : Barquilhos – Trovas de Pero Mafaldo- Coroação do Espirito Santo Imperador


Sábado 9 julho às 18 horas , junto á entrada da Mata, integrado no programa oficial da Festa dos Tabuleiros em Tomar.

Esta é uma animação especifica ligada ao local e ao tempo da festa.
Insere-se dentro da nossa ideia de chamar a atenção para este local-que já foi oficina de bicicletas e ultimamente loja de vestuario infantile ...mas podia e devia ser recuperado/preservado na sua função original de albergaria medieva- pousada de viajantes e peregrinos da vida- sendo o unico exemplar do género de que conservamos alguns traços de época...e podia servir de mais uma atração turistica e pedagogica (tal como no caso das moendas da Levada) no sentido de expôr uma vivência /conteúdo apropriado à sua época ...na parte térrea da casa : (um chão de palha, com enxergas, mesas e outros utensilios, e eventuamente venda de licores de epoca, artesanato local, etc)... ainda para mais situado junto a um posto de turismo e no inicio da subida para o castelo templario!


Sigamos exemplos europeus como o de Nottingham (terra de Robin Hood) onde está em funcionamento uma das mais antigas pousadas de Inglaterra de 1189 a Ye Olde Trip to Jerusalem, no sopé do castelo local, numa area que já pertenceu até à Ordem do Templo (como no nosso caso)…

Efectivamente, eis-nos à entrada da vila de baixo no vale da Ribafria,a sul das muralhas, Naquele tempo por aqui passava a estrada publica de Santarem para Coimbra.
Aqui à entrada da rua uma casa sobradada com escada de pedra exterior que dá para um pequeno alpendre ou galilé assente em 3 colunas. Por baixo um vão de arco abatido com sua porta que dá para uma casa grande . Eis a Casa de Recolha dos Pobres Transeuntes ,sobradada, onde o morador piedoso e de posses usa dar aposentação e abrigo a quem chega´,instituindo assim em parte de sua casa a assistencia aos pobres viajantes .Tem oratório a S.Brás santo de sua devoção.
Casa dianteira com chão macio de palha que torna o ar quente e humido ali dentro, dispondo de leitos com sua enxerga,alençois, mantas listadas,axadrezadas, ...cabeçais de lã ou almadraques e coberta de burel. ...Também distribui capas çorames a quem necessitar…

Pertenceu esta casa a D.Constança Anes, provávelmente da rica casa de Portel , que ofereceu um calice de prata dourada a santa Maria dos olivais. Também a sua cunhada D.Maria Anes deixou em testamento (1337) a S.Maria de Tomar d’além da ponte, 10 libras para ornamentos da dita igreja (tanto como rendiam ao ano, os lagares alem da ponte, na época!)...

Já que estamos a falar de pousadas , falemos agora de comes e bebes.

È a hora de repartir/ que a gente tanto gosta
Pão e vinho/ temos sempre a mesa posta!

Primeiramente os barquilhos – pães recheados com natas e mel (segundo memória escrita do mais antigo cozinheiro da corte portuguesa conhecido-Domingos Rodrigues) e a que demos o nome de “ Cus de Lobo do Almorol” evocando o nome de uns barcos medievos (de cabo baixo,parecendo o rabo do dito) que ali andavam na pesca de arrasto das savatelhas, segundo as crónicas coevas...

E porque aqui evocamos tambem o santo espirito Consolador beirão segue-se um gole de vinho doce. O pigmentum…autêntico medicamento (elixir de longa vida) para o corpo e espirito, segundo opinião do medico da nossa rainha Isabel de Aragão!..e conforme ao salmista : Vinum Cor Homnes Recreat” .

Assim , sendo hoje tempo de fraternidade: sede todos bem vindos e que sejam bem idos também …os bafejados pela Fortuna ou pelo tavolado…porque a oferta é limitada!…


Seguidamente apresenta-se o trovador Pero Mafaldo , hóspede ilustre desta casa - contemporâneo del rei D.Dinis- e por hipótese nosso vizinho : em cujo nome se referem umas terras para os lados de Carvalho de figueiredo, segundo rol de bens proprios e aprazados da antiga Ordem do Templo (feito em 1321). A par dele há umas vinhas em nome de Pero Pais , o nosso copeiro …e também da corte dionisina em Coimbra(?)….Ouvide pois a voz do jogral : “pois nom somente vossa boca sorva as viandas…mas vossas orelhas se farten de ouvir palavras do espirito”!

E para finalizar em espirito de festa dos Impérios ,vamos recuperar uma tradição presente na festa anual dos Tabuleiros na freguesia de Carregueiros: a entronização do juiz-Imperador após a procissão.
O juiz sentado e coroado ( com o ceptro da pomba na mão direita) , incarba o Espirito santo imperador e , vai impondo a coroa do Espirito Santo sobre a cabeça de quem o desejar...comunicando-lhe a esperança messiânica de que a sua terra dará bons frutos...
Colocando a coroa suspensa sobre a pessoa ajoelhada- - diz respeitosa e lentamente:
- Divino Espirito Santo consolador/ as nossas almas vinde visitar/ . …
…….cheio de graça celeste/ vosso preito criar/
em nome do Padre,do Filho e do Espirito Santo,Amen.

O culto do Espirito santo Imperador foi trazido para Portugal, em meados do sec XIII- pelos franciscanos espirituais ( apreciados pela familia de Isabel de Aragão) , celebrando a transição sob a forma de Imperios-para a aurora da nova idade iminente. , a instauração na Terra da era da fraternidade profetizada pela Visão joaquinita das 3 idades. Estado-em que o homem acede diretamente,através do Espirito Santo, à iluminação espiritual ou Consolação…

Como elemento curioso e único (em Carregueiros) verifica-se que a cadeira do juiz está rodeada de vasos de trigo ..., que semeados 3 semanas antes e germinando no fundo escuro de uma arca ,acabam por nascer por ausencia de sol , sob a forma de uns filamentos alourados a que chamam cabeleiras ...
Ora este ritual das cabeleiras é um vestígio arqueo-teológico fenicio... de cultos a favor da regeneração da vegetação : o ritual dos “ jardins de Adonis”-(de que nos fala o investigador em Religiões , Moises Espirito Santo) formados por vasos domésticos nos quais se semeavam no escuro, gramíneas como o trigo; germinando rapido sob a acção do calor da habitação, mas expostas á luz logo murcham, devido à fraqueza de suas raizes, simbolizando o definhamento da vegetação- a morte do trigo pelas ceifas-a existencia efemera da divindade....Também no sul de Espanha ,em um estudo (Franz Cumont) sobre a antiguidade dos cultos andaluzes, se constatou a presença desses vasos de sementes por ocasião de festas locais e concluindo da sua introdução nas Hespanhas pelos mareantes fenicios ...afinal os cananeus bíblicos!

À porta da antiga Albergaria  : está pois aberto o Imperio do Amor e da  Fraternidade...Universal e  Ecuménica !

23.6.11

Cruz da Rosa e Pedra dos Cavalos: património a sinalizar na Mata, junto às muralhas da Almedina



Agora (diz-se que no final do mês ) que a arcádica Mata dos 7 montes vai reabrir , nomeadamente o seu percurso arranjado direto ao castelo templário , seria bom que fossem assinalados através de placard informativo (tipo chapa metalica) como os existentes noutros locais da cidade, alguns pontos de interesse junto ao castelo, mais própriamente na muralha externa da Almedina .
Os acessos específicos foram arranjados, a nossa sugestão ao pelouro da Cultura e Turismo o ano passado, a quando da Evocação do Cerco de 1190. E embora tenha crescido alguma vegetação rasteira entretanto, continuam acessiveis.
Trata-se da famosa Cruz da Rosa sobre a porta da Almedina, local de oportunidade para belas fotos da imponência ali das muralhas, vistas de baixo.. e também da singular Pedra dos Cavalos , recém- descoberta...
Aqui se deixam algumas achegas para o respectivo enquadramento.

No 1º caso, por cima da porta, do lado de fora, avista-se em uma pedra ,a cruz pátea da Ordem do Templo , de braços sulcados formando pirâmides, com a data inscrita de 1160 e uma rosa sobre o centro da cruz., (tal como havia na porta do Bom Sucesso no castelo templario de Santarém) . Rosa iniciática também figurando no brasão de armas de Portugal, usado no selo de Afonso Henriques ( março 1135 ) ele próprio se afirmando confrade do Templo. .
Rosa, associada ao sangue de Cristo, fonte de vida, pois afirma o Eclesiastes “a rosa... ao pé da água viva”, simbolo de renascimento místico ou o sol vivo… rosa desabrochada sobre a morte / cruz …marca do Templo simbolizando uma nova vida, regeneração, para aqueles que penetravam intra-muros...
E lateralmente à cruz redonda, na parte superior, encontram-se 2 simbolos...que são uma mensagem espiritual. Potencialmente signos astrológicos ou divinos (o Alfa e o Ómega.)...tal como na porta sul da igreja da comenda templaria de Fonte Arcada há  uma cruz inscrita dentro de um circulo, ladeada pelo sol e pela lua, conjugando poderes apotropaicos e escatológicos.....
A propósito, também no nosso selo (ao antigo) da Templ’Anima, composto por um circulo exterior ,contendo uma cruz templaria ,onde se inscreve uma representação da Rotunda do Templo, se desenharam lateralmente ao Templo esses 2 simbolos crípticos, evocando a simbologia e o mistério da Ordem.... .



Quanto à outra pedra (cuja foto abre esta mensagem, porque menos conhecida) : situada na base dos muros do castelo entre a porta da Almedina e o cubelo que faz esquina com a muralha que vem da torre da Condessa...aqui se encontra singelo dintel, com semelhanças a outro existente na torre sudoeste do castelo templario de Soure.
Onde se afrontam, o cavalo branco /diurno (divino ou de S.Miguel) e o cavalo negro ou nocturno(representado por uma lua) de Satã ...como no Apocalipse de João.
Entre os dois cavalos e aproveitando a forma do espaço disponivel a figura ( uma braçada/ramada serpenteante) da arvore da Vida e/ou do Conhecimento com suas folhas cordiformes (em forma de coração) e 2 pomos no extremo (?) ... portanto, uma outra forma românica (?) de representar a eterna luta/oposição entre o Bem e o Mal... ou quiçá, a bela serpente disfarçada da tentação arrastando os corações humanos do Genesis ao Apocalipse)...
Eventualmente , esta pedra poderia ter estado originalmente sobre a porta de entrada da igreja de S.Maria do Castelo , depois derrubada quando os moradores sairam da Almedina.
Efectivamente no sitio onde está agora, trata-se de um aproveitamento da pedra colocada sobre uma abertura visivel na imagem –ao nivel da base exterior do monumento, mas que tem perfeita correspondência do lado de dentro (no terreno à dextra da Porta da Almedina) ali assinalado/entaipado por um amontoado de pedras ,tapando o buraco- mas aonde é visivel um tecto em abóbada da abertura, com 2m de comprido de um lado a outro da muralha . Que deve ser tardio em relação á epoca templaria (não faria sentido uma abertura junto a uma porta bem trancada segundo os sinais que se vêem dela na pedra )… talvez a abertura seja mais do tempo descrito na Lusitania Transformada , em que a Mata era local de recreio e encontros furtivos de freis ...

Aproveitem e vão até lá gozar o Património de que são todos co-herdeiros... a partir da base da torre redonda da Condessa , contornando o ângulo da muralha a oriente...