Com a evocação da despedida do mestre Gualdim e de sua passagem para a glória , termina um ciclo longo de 10 anos em que o mestre fundador do burgo e a sua defesa no Descerco de 1190 perante o Almansor, foi tema principal.(1)
Mas há muitos outros mestres templários que decidiram a nossa história em seu tempo!
Nas obras dos anos 40 do século passado em S.Maria dos Olivais - panteão dos mestres - foi descoberto debaixo da cal na parede norte da nave uma inscrição funerária gravada numa lápide de linhas auxiliares bem demarcadas com caracteres mistos, quadrados e unciais, encontrando-se bastante danificada com algumas linhas elegíveis.
A inscrição em latim foi estudada na época por Garcẽs Teixeira da União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo e mais recentemente pelo epigrafista Mario Barroca que a identificou e aprimorou na sua leitura actualizada.
Nesse epitáfio lemos o seguinte elogio feito como a um cavaleiro perfeito da Távola:
“Prudente, Famoso, Casto, Honesto e Brilhante
o excelso Gomes Ramires da Nossa Milícia do Templo
abençoado pelo peito dos reis e (connosco) guerreando com mouros
…Choramos os fortes na batalha …sendo ferido de morte. (Julho de 1212)”
Este mestre foi um dos heróis da batalha decisiva da Reconquista ibérica em Navas de Tolosa a 16 julho e ao 3ª dia posterior (devido aos ferimentos) ascendeu à glória eterna! Foi trazido e sepulto em Santa Maria, segundo frei Bernardo da Costa.
Cavaleiro de avantajadas virtudes, do agrado e valimento dos reis, testamenteiro de D.Sancho I e nomeado por seu sucessor, Afonso II, comandante das tropas de apoio a Afonso VIII de Castela em Navas.
Bem visto de todos, dos maiores e menores do reino, como provam as muitas doações recebidas pela Ordem em seu tempo…de que se destaca a doação da Cardosa (março 1211) futura sede templária de Castelo Branco. Da documentação que diz respeito ao termo de Tomar assinala-se a confirmação da carta de foros aos moradores do Carvalhal de Ceras e ser testemunha do acordo entre os crúzios de Coimbra e a Ordem do Templo quanto aos caneiros do Zêzere ( Martinchel).
Este mestre português, de grande prestígio na época, foi mestre também dos 3 reinos (Portugal, Castela e Leão) aparecendo documentado a 29 abril de 1211 como o representante templário no pacto da Ordem con Alfonso IX, de Leão e Galiza, pelo qual este restituiu à Ordem a posse de Ponferrada , Alcanices e outras,( sg Carlos P.Martinez , 2003).
–NAVAS de Tolosa situa-se na parte oriental da Sierra Morena , na província de Jaén / Andaluzia, onde os reis de Castela, Aragão e Navarra derrotaram o califa almóada - filho do Almansor- com ajuda de cruzados portugueses e franceses.
Na batalha de Navas lutou-se corpo a corpo com lanças, espadas e machados, não havendo espaço para arqueiros ( sg Crónica latina dos reis de Castela). Registe-se que o mouro Al Nacir tinha o dobro de efectivos militares.
Com a vitória cristã de Navas a 16 julho, afastando os Almôadas , ganhou desde aí mais estabilidade toda a região a sul.
Houve baixas significativas nas Ordens militares de Calatrava, Santiago e Templários
Além do mestre portugues dos 3 reinos, ali se encontrou também o mestre templário de outros 3 reinos ( Aragão, Catalunha e Provença ) Guillelm de MontRodón , heroi catalão celebrado todos os anos em Monzón. (2 )
O estandarte mouro foi enviado ao papa Inocêncio III (3) que concedera a todos os soldados os mesmos privilégios de cruzada a Jerusalém…
MONUMENTO A NAVAS
Há exatamente 44 anos (1981) foi inaugurado no local da batalha de Navas o monumento épico com dezenas de metros de altura, que se vê na imagem.
As figuras no monumento- são da direita para a esquerda:
Sancho de Navarra- com seu escudo e na mão esquerda as cadeias, troféu da batalha, que rodeavam a tenda do mouro.
Afonso de Castela- vingador do desastre cristão de Alarcos-em 1195 (ano da morte de Gualdim) - o promotor desta campanha -vestido de simples soldado, com sua cota de malha.
Pedro de Aragão- O Católico- com seu escudo de barras .
E ainda outros dois: o arcebispo de Toledo, a alma desta cruzada e o senhor da Biscaya , que chefiava a vanguarda do exército de Castela.
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Assim prestamos a nossa justa homenagem a este soldado conhecido, milites do Templo. Haverá algo mais prioritário que honrar os nossos heróis?!
Simão Mendes, comendador de Tomar, na época, recebeu seu corpo nesta igreja e lhe teceu o elogio . Honra e glória a este peregrino e cruzado à Jerusalem Celeste!
“Ponho-te neste dia, sobre as nações e os reynos” (Das Escrituras)
NOTAS
(1) - Tema sugerido por nós, numa sessão pública na Câmara, na altura.
(2) - Afecto a seu rei (Pedro II de Aragão) que embora católico, procurava conciliar interesses opostos -para preservar os seus territórios e os direitos feudais de seus dependentes occitanos, o qual morre no ano seguinte na batalha de Muret entre os cruzados francos e os albigenses, ficando o filho do rei órfão, como refém do desapiedado Simon IV de Montfort, carrasco da Occitânia! Depois da morte do rei, Guillelm foi a Roma, reclamar ao papa a restituição do infante Jaime, o qual o entregou àquele mestre do Templo, que ficou como seu educador e protector no castelo templário de Monzon (Huesca), dos seis aos nove anos de idade.
(3) - Um dos papas mais importantes da Idade Média,, convocador de cruzadas e do IV concílio de Latrão, sepulto por doença em Perugia em 1216,
Assim se associam, na vida deste mestre português, os lugares da Rota: Tomar, Ponferrada, Monzon e Perugia ! Para além de ser em seu tempo (1210) que se funda a ordem Franciscana que há-de influenciar e muito a nossa região no cultural e religioso!
-Sugestão de datas comemorativas : 16 a 19 de julho 2026 (quinta a domingo).
Gomes Ramires, mestre templário português, herói da batalha decisiva de Navas de Tolosa (1212)