20.2.16

O CERCO EM JULHO...


                          


 Onde se fala dos que estâo confusos com a alteração de data e daqueles que estão preocupados do que acontece nos anos de festa dos tabuleiros ...e finalmente vamos falar do Cerco, evocando aqueles 6 longos dias de julho de 1190 que mudaram a nossa historia para sempre ! 

Uma conclusão que tirámos o ano passado da Festa templaria é que , para alem da procissao noturna dos cavaleiros com tochas, falta algo que motive as pessoas para o conjunto das outras actividades no Convento e no Centro historico...ajudava a isso que lhe déssemos oportunidade de festejar algo que seja seu ,de todos os vizinhos, e isso so pode ser : comemorarem todos a heroica jornada dos principios de julho em que no ano 1190 todos juntos os tomarenses venceram o cerco do Almansor...essa e' uma gesta a lembrar a todos os da terra..porque lhes diz respeito ... Nós tomarenses temos algo unico para comemorar nesta altura e os eventos comemoram-se na sua data propria , nem antes nem depois ... mude-se entao a festa (de uma data aleatoria e vazia de significado, ao contrario das festas similares ) para o inicio de julho ...porque Tabuleiros e' só de quatro em quatro anos...

O evento Festa Templária que até aqui se realizava em maio, sem qualquer facto histórico a ela associado passa a realizar-se a partir deste ano "sempre no segundo fim-de-semana de Julho, numa evocação do cerco de 1190, promovido pelas tropas do rei de Marrocos, Almansor", acabamos de ler esta semana na nota de imprensa da autarquia.
É este facto histórico o mote para a Festa Templária, que este ano se realizará entre 7 e 10 de Julho.
A recriação do assalto à porta de Almedina, a realizar no domingo da Festa Templária, apreende as evocações já realizadas em 2010 e 2015, com a promoção e participação do Município e do Convento de Cristo, da Associação Templ’Anima e da ADIRN.

MENTES CONFUSAS...
Há que corrigir o que for de corrigir. É o que foi feito neste caso. O mundo é composto de mudança...mas há uma coisa em que Tomar não muda: é a vontade de falar mal disto ou daquilo, ás vezes por puro desconhecimento...
Assim logo há quem surja a agitar apocalipticamente a desmobilizaçao e a desfidelização perante a mobilidade.da data...mas há que olhar para a pratica real para alem da teoria...quais os factores que pesam... os conteúdos ou seja : ser mais rigorosa em termos historicos...nada de anacronismo historico...um vero mergulho na epoca ...isso sim é decisivo!



Veja-se o exemplo da Viagem medieval de Santa Maria da Feira-, tão só o maior evento de recriação histórica medieval do país - tambem mudaram 2 meses . Em 2.000 quando la fui para aprender algo ao vivo (nomeadamente quanto às mesas da refeição medieva... os trinchos de madeira, a rodela de pão a servir de prato, ausencia de talheres para alem da faca...comparem isto com aqueles cavaleiros que comem em serviço de vidro e porcelana e tem horror a meter as mãos no prato!!)...estavam os feirenses no seu quarto ano (como a nossa agora) e realizou-se de 10 a 20 de junho.. Hoje , 16 anos depois, realiza-se nos primeiros dias de agosto... e nunca tiveram desses problemas. Sempre em crescimento a afluencia a festa...
Realiza-se, anualmente, durante onze dias consecutivos, no centro histórico da cidade de Santa Maria da Feira, atraindo diariamente 50 mil visitantes. Com características únicas no país, este projecto diferencia-se pelo rigor histórico, dimensão (espacial e temporal) e envolvimento da população e associativismo local, .

A questão da Festa dos Tabuleiros

Essa e´ só  de quatro em quatro anos e as duas festas podem coexistir porque tem algo em comum...alias o ano passado comemorou-se o Cerco no castelo no ultimo dia da festa dos Tabuleiros (13 julho )



Ambas se conjugam no reinado dionisino , o salvador do Templo e criador da festa dos Impérios , o rei nascido no primeiro ano  da Terceira Idade ou do Paracleto anunciada pelo abade Joaquim de Fiore ...

O  Espirito Santo assim como a cruz da Ordem encimam os tabuleiros...o vermelho da cruz ao peito dos templarios é o Fogo do santo Espirito que recebiam iniciaticamente na Charola ,  qual Athanor alquimico porque redondo e fechado...

Assim -sempre na segunda semana de julho - podem ocorrer em paralelo e inseridos na grande festa ..actividades ligadas ao Cerco...mas numa dimensao menor, como se fez o ano passado, coloquios sobre a espiritualidade da Ordem, justas simbolicas entre as duas forças , teatro , etc...ou como nos fizemos no passado.

Evocação do Desfazer do Cerco de 1190 - junto à  Porta da Almedina do castelo com acesso pela Mata dos 7 Montes.
Efectivamente, no decurso das comemorações dos 850 anos da fundação templária do burgo , a Associação Cultural Templ’Anima, propôs-se evocar no mês de julho umacontecimento exemplar ocorrido neste castelo : o cerco feito pelo exército do Almansor em julho de 1190 e desfeito pelo grande mestre Gualdim e seus homens “ a quem Deus salvou com seus freires” das mãos dos inimigos...segundo memorial escrito nas paredes deste castelo...

REVIVER o Cerco do mouro Almansor em 1190 na Porta da Almedina é também...REAVER....a ligação afectiva castelo-cidade..através da Mata dos 7 montes! Primeiro arrabalde de cultivo ,depois cerca de recreio dos freires cavaleiros... Também conhecida por “Porta do Sangue” por aí ter sido sustida a investida muçulmana no ataque de 1190, ocorrendo grande mortandade..
PALM
O Programa foi apoiado pela Câmara de Tomar :(Julho 2010)
10 H- Recepção junto ao posto de Turismo - Enquadramento histórico do Cerco (Dr. Ernesto Jana)
10.30 h- Subida pela Mata : com gaita de foles e tambor –sendo atracções/pontos de paragem :
- visita do último Carvalho Templario e da Charolinha (a 50m )-

CROSA

- A Cruz da Rosa com seus sinais apotropaicos laterais, inscrita pelos templários sobre a porta ,entre as torres imponentes da Almedina  e a Pedra dos Cavalos ( a 15m)- ...
PCAV

11 .30 H-- .Entrada.no castelo pela Torre da Condessa.
- Evocação da vila de cima (pela Templ’Anima-) -
Memórias do Cerco (por D.Gualdim)
-- Combate-demonstrativo entre 1 sitiante e 1 defensor

CMB1


- Memórias da Porta (por D.Mendo )
- Combate final entre defensor e sitiante . Justa simbólica entre o Bem e o Mal . Lutas a pé , com máscaras ... 666 vs 515...o Diabo e o Divino.(Cordeiro)..

COMB2



Adentrado o castelo, ali mereceu especial atenção o exercicio de recordação da vida do bairro ou Vila de cima, dos nossos vizinhos e familiares antigos...( recorrendo a Marcel Proust e à monja Hildegarda von Bingen) viajando em espirito até esses dias ... O casario de um lado e de outro do eixo viario principal , com suas medidas calculadas através da contagem dos furos de barrotes nas muralhas e da observação da famosa pintura do Anjo sobre as muralhas...umas 20 casas ,logo 80 moradores, serventes do Templo, cujo avistamento em seus mesteres, tentámos interiorizar /recordar, no fundo da nossa consciência ancestral e colectiva... ...E finalmente ouvimos e vimos sobre os combates do dia. Não em versão quantitativa do vero assalto de época ao castelo, sim numa dimensão qualitativa ,mercê de alguns contadores de estórias e outros justadores a pé, à lança e à espada...

Viver a epoca para os presentes foi tambem o Tiro aos Filipetos (em efigie Filipe o Capeto,algoz dos templarios e/ou outros) . Demonstração com Arco longbow, possivel de conjugar com os outros jogos populares da festa dos tabuleiros ...de facto historicamente no campo de Balistenis (de balestra... possivelmente a actual zona do Flecheiro, proxima dos antigos paços do concelho de homens bons ali junto aos Cubos) os vizinhos da epoca exercitavam arco e besta ...orientados por templarios segundo as cronicas!


Vejamos então as memorias do Cerco extraidas do livro O Mestre... (cap XXII ) enquanto possivel guião da Festa.    

                                                                                                                        Julho 90: é outra data mística, na guerra Santa entre cristãos e infieis. Partem uns - os cristãos - para a Palestina, enquanto os outros - os mouros - atacam a Peninsula... Assim a 4 de Julho, sendo presente o vice-mestre do Templo no Ocidente, Gilberto Erail, na despedida, partem da catedral de Vezelai o rei Filipe Augusto de França e Ricardo Coração de Leão (que completava nesta altura, com 32 anos, o primeiro ano de seu reinado em Inglaterra, morto seu pai, Henrique II, roído por bobões pestíferos). Vão a caminho da Terra Santa, em plena 3ª cruzada, ripostando assim contra a perda de Jerusalém.   ...                                                       Por outro, Abu Yacub Almansor, o filho do Miramolim, decide vingar Silves e a morte do pai. Partindo de Marrocos, associa-se aos reis de Córdoba e Sevilha - onde assolda muitas e desvairadas gentes - avançando em longas e demoradas filas, devido ao enorme material de apoio, com vários milhares de homens a pé e a cavalo.                  Enquanto o rei de Sevilha se dirige ao Algarve (Silves) e o rei de Córdoba ataca o Alentejo (Évora), Almansor atinge o Tejo, domingo 24 de Junho, dia de S. João, e vai sobre o castelo de Torres Novas que toma pela força, arrasando as suas defesas e colocando as cabeças dos defensores ostensivamente espetadas, no cimo dos muros que restam...                          Depois com cerca  de um milhar de homens (onde se incluiam 400 milites a cavalo) toma a direcção de Tomar, a sede do Templo; enquanto outros destacamentos africanos ousam fossados a norte.                                                                                                                                 Na madrugada de 7 de julho em Thomar, os de vela sobre a porta do castelo, recebem sinais de aviso,por fogos e por fumos, vindos das atalaias do termo.Logo acordam os porteiros que dormem junto ás portas e dão gritos de aproximação de inimigo.                       Os vizinhos, ouvindo as campanas a rebate, recolhem rápidamente seus belos frutos e animais, intra-muros, armando-se de paus e cutelos, para sua defesa, no páteo de armas, cuja chave é da responsabilidade do concelho de homens-bons. Cuidando que o castelo se abasteça de todo o necessário , transporta-se todo o trigo dos silos de S.Martinho para dentro de muros… e apanha-se a forragem para os cavalos semeada no arrabalde. Entretanto os clérigos de S. Maria cerram portas e guardam as santas alfaias em lugar seguro.  O alcaide, que tem a chave da Torre de Menagem, organiza a defesa, distribuindo os seus homens de armas, por todas as quadrelas e torres, reforçando também as portas. Na porta da Almedina é colocada uma nova tranca de reforço, a meia altura,que se ajusta á dextra, deslizando sobre a calha de pedra em angulo. Correm os da rolda vigiando os muros .                                                                                                                                                                 Vestem os cavaleiros brancas túnicas com sua cruz vermelha ao peito, a espada cingida sobre a cota de malha de ferro; os sargentos de lança na mão, cabeça coberta com bacinete de nasal, enquanto os arqueiros bem treinados, de carcazes às costas com seus virotões (flechas) prescrutam o horizonte nos torreões. Quando o Sol começara a banhar com seus divinos raios a crista dos montes, soam já nas cercanias os tambores serracenos e trombetas e surgem em grosso tropel, qual nuvem escura de homens e bestas, que cobre os montes, vindo dos lados da Ribeira da Maia, a sudoeste. À frente divisa-se a guarda do califa, em admirável formação com seus estandartes de várias cores desfraldados, onde se pode ler escrito, a letras de ouro, o princípio do capitulo 48 do Alcorão (o da vitória)...É o Almansor que chega, o chefe dos crentes de Alá, o maldito!                                                                    Imediatamente tocam os esculcas o chifre nas ameias, retesam os arcos de flechas envenenadas os arqueiros, enquanto os fundibulários aprestam suas pedras e alcancias (bolas de barro secas ao sol, do tamanho de uma laranja, cheias de alcatrão, que se incendeiam e lançam ao inimigo) trazidas do Armazém, nos baixos da Torre de Menagem.   Rápidamente, a várzea ficou juncada de turbantes, escudos de pele como conchas, decorados a fio de seda, dardos de lâmina, cimitarras e outras armas cintilantes.  ali se ouvem muitos brados e arruídos, de meter medo, a intimidar. Soltando espantosos pregões, irrompem no sopé da vila em roncos depravados (ululando). Devastam o arrabalde do Pé da Costa: saqueiam e incendeiam as casas e as vinhas , procurando alimento em vão, perante o olhar angustiado dos vizinhos, às muralhas debruçados.
Isolados a meio da Torre, no tempo e no espaço, o nosso grupo de Sábios , prepara-se agora para a última ronda de conclusões ,quando inesperadamente (por um qualquer corte ou fractura temporal –fenómeno raro) lhes surge á frente um templario em carne e osso, de elmo na cabeça, cota de malha e espada em punho, gritando para que o sigam de imediato, porque todos são necessarios para defender o burgo!                                                               ...E eis-nos num ápice nas ameias,olhando para a vila de baixo. Tão perto, como nunca os tinhamos visto, ali estavam eles, os diabos escuros, rondando a vila. Cavalgando à gineta, estribo curto, em velozes cavalos , com nós nas caudas, arcos com suas aljavas vermelhas e douradas, haik de seda, envolvendo a cabeça e o corpo, e sobre ele o albornoz . Rodeando o castelo, vão outros a S. Martinho devastando aquele agro fértil em árvores de fruto...E andam os adaìs mouros em volta, a observar as muralhas, bem defendidas sobre as ravinas, como reconhecem . Centenas de tendas redondas são já montadas pelos serracenos na Riba Fria e Rossio à vista da inexpugnável fortaleza, bem ordenadas.  
   


                                                                    Lá do cimo, Gualdim, o duro velho, experimentado nas Hespanhas e no Oriente, com suas barbas brancas de verdade ( ao contrário das do filho do miramolim que são pintadas de branco para a guerra, segundo seus costumes) lá está com sua espada brilhante de alto punho , loriga de ferro debaixo da veste talar, elmo na cabeça, o escudo na mão esquerda, olhando desafiador e imponente o Almansor. E sobre as ameias, ondula sereno e altaneiro o pendão do Templo, a balsa invicta, com sua cruz vermelha, onde está escrito o princípio do salmo 114 de David..  Logo zunem no ar, as bolas de barro despedidas pelas fundas, enquanto uma saraivada de flechas cai sobre a cabeça dos mouros mais ousados, que se aproximam e os vizinhos atiram pedras, que trazem no saio.                 Multidão de inimigos da cruz, a descoberto, temerosos, vestindo túnicas largas fazem arremessos contra os muros, que resistem a seus intentos. E deixando o dia sua clareza, se suspendem os combates.      Ao outro dia de manhã reina uma certa paz podre no cerco, período de expectativa e tensão.   Até ao meio dia, nada; depois quando o sol começa a declinar e feitas as orações, o chefe dos mouros dá ordem aos seus arautos para as proclamações necessárias ao combate; pois segundo o profeta: deve combater-se quando começar a sentir-se a brisa da tarde, pois é o momento em que as portas do céu se abrem e as orações são mais escutadas!!!                             Os nossos, tinham ocupado o seu tempo a aprontar máquinas de guerra e na alcáçova subia já o fumo grosso do alcatrão pronto para receber os mais afoitos dos infieis...   Encarniçam-se estes contra os muros , batendo com o ariete contra a porta, ao que os cristãos os poêm bem temperados em azeite e pez fervente... obrigando-os a recuar com uivos de dor...                                                                                                                                                       Uma chuva de flechas assobia continuamente sobre as cabeças de ambos os lados. Alta grita soa nas ameias: homens às portas, às carcávas!  Apressam-se os sargentos,ecoando nas lajes, os pesados sapatos de ferro...  Incita de fora o Almoada os seus, montado em ardente corcel que faz voltear, enquanto brande um chicote na mão, o gládio de Alá.    São já derribadas algumas casas de D. Justo junto aos muros (este tinha ali casas em 1172, citadas no final do século, como estando arruinadas ;cf. Anais Municipio de Tomar(vol. 8) . Trocam-se galhardetes sob a forma de grossos pedregulhos...uma catapulta escoiceia de fora -de hora a hora- grossos pelouros pétreos , conseguindo alguns atingir o meio do recinto dos Cavaleiros ...                                                                                                                        Contámos neste dia quatro deles zumbindo junto de nossas orelhas e animados de curiosidade científica, mais tarde os tomámos em nossas mãos e avaliámos sua grossura em meio côvado (33cm) pesando uns 30 kg cada um...   Também observámos que devido á orografia do local, a sua eficácia era quase nula, pelo que cedo desistem os mouros daquele engenho e também não podem usar escadas ou torres, devido ao alambor que existe a toda a volta e ás condições do terreno, ou seja: o grosso espessamento das muralhas na base e as escarpas acentuadas...pelo que o segundo dia de cerco acaba sem resultados.Ao 3º dia, depois das orações, e postos em observação mútua os movimentos de parte a parte, sucedem-se as chufas e as imprecações, os virotões e a calhoada.Uma força de serracenos é vista a internar-se pela estrada de Ceras, a talar os campos e cortar madeira para construções. Mas de cereais nada, pois já estão recolhidos em julho...                                                   No dia seguinte, os alfanges agarenos sobem mais uma vez a encosta da Riba Fria e atacam com fúria a Porta de Almedina. Ali se concentram também os nossos, agitando seus montantes e gritando por Santa Maria, enquanto a bandeira do Templo drapeja altaneira nas duas torres de defesa da Porta. A certa altura rompe-se a porta devido à pressão inimiga, seguindo-se rija pelega corpo a corpo, no acesso ingreme e estreito.É grande o estrondo de lanças quebradas e o tilintar das espadas.                                                                                                                Ali se agiganta D. Mendo (da Porta) ferindo esforçadamente em redor, rugindo e avançando sempre, dando morte e empurrando os mouros para fora, bem cercados e flanqueados..e já Santiago, por certo, luta a seu lado, pois muitos inimigos caem sem que os alcance o golpe cristão...  Rasgam-se lorigas, cravam-se os dardos nas carnes, despedaçam-se crânios, fendem-se alguns até às costelas, jazendo ali muitos infieis. Tão grande é a carnificina no local, que aquela porta ficará conhecida como Porta do Sangue. Só Deus sabe o número de mortos... Retiram os mouros para baixo, deixando ali muitos despojos, entre membros talhados, armas quebradas e cavalos varados. Será tudo reunido em montão- mouros e cavalos - e lançado mais tarde em fosso no chouso a poente, fora de muros, como nós testemunhámos.(Vide Frei Bernardo da Costa,Historia da Militar Ordem de N.S.J.Cristo,Coimbra,1771) . E do lado de dentro ajudámos a recolha de corpos de alguns freires e confrades, para se lhe dar sepultura cristã.                                                                                                   Ao 5º dia de cerco, assistimos às matinas e laudes, na obscuridade entre os freires cavaleiros que depois retiram os seus ginetes de guerra (dos alpendres do reduto a norte) já preparados com suas altas celas, ancas e peitos resguardados com cobertas de couro, içando-se neles com suas armaduras, ajudados pelos escudeiros e demais serventes.  E batendo o sol na quadrela principal ...pudémos estonteados ver então ali cada um de nós o seu próprio sósia –a nossa alma antiga por certo- e num impulso repentino saltámos para seus cavalos ......e fomos ã luta...qual Castor e Polux sobre a mesma montada – cumprindo assim aquela imagem do selo famoso dos cavaleiros duplos sobre o mesmo cavalo... e esporeando as montadas para fora de portas, fizémos uma surtida de surpresa no arraial da mourama !    Vai D. Lopo, o alcaide, a comandar este audacioso tropel encosta abaixo, cavalos de ventas arfantes e crina eriçada, patas faiscando - os mantos brancos esvoaçantes de lança em riste (quais anjos vingadores) que à voz do comendador se arrojam no campo inimigo, penetrando-o fundo, sem medo, pois que a morte é gloriosa no combate ao infiel. 
    



  É dado o alarme no acampamento, que se enche de gritos e agitação, montando os mouros berberes rápidamente seus cavalos.  E se produzem muitos combates singelos entre cavaleiros, revelando-se hábeis lutadores de parte a parte. E eis que, para agravar a confusão nas hostes do Almansor, surgem como por encanto cá em baixo na Azinhaga mais homens de armas (vindos através do tunel secreto que vem do castelo para o arrabalde) atacando na rectaguarda dos mouros...(Há túneis desde o castelo ao sopé do monte,já assinalados por J.M.Sousa no principio deste século e últimamente sondados por M.Guimarães e coronel Fernandes;segundo este são tão amplos que cabem lá cavalos e cavaleiros.... Alguns vão na direcção da Mata dos 7 Montes. Também há túneis desde o interior até ao sopé do monte junto ao rio , nos castelos templarios de Ponferrada e Monzon). 

Com um lampejo no olhar. súbito se erguendo de seu leito, grita Gualdim para os seus : Irmãos feri batalha com fervença ! ...E todos á volta olham para o valeroso velho que continua : Deus o quiz!... nós , com a balsa da Ordem desfraldada,acometemos como leões, com tal senha ferindo como nunca antes se vira igual, levando aquele flanco infiel a tresmalhar-se, entre o pântano do rio e nossos montantes...
E muitos serracenos são gratificados com a morte por Alá, como desejavam...Quanto aos nossos, regressam desta sortida tão rápidamente como tinham vindo, secando aquele pântano de pecados infieis !.
No dia seguinte, 13 de Julho, os almoadas decidem abandonar o cerco, desencorajados pela tenaz resistência do Templo, pela inexpugnabilidade dos muros e também açoutados muitos com a febre das águas palúdicas, pois há 2 anos que grassa a doença, no pantanal junto a que estavam sediados. É o terrível fluxo do ventre, hemorragias que os deixam sem forças...
Conta-se que o próprio califa, sentira já o fatal calafrio. A febre o assalta: é o começo do mal das entranhas pelo que se retirou rapidamente para sua pátria- acagaçado- com pesada perda de homens e animais, ali deixando também muitos objectos em ouro e prata, tecidos de sedas preciosas e peles, que os meus freires recolhem para dentro de muros.
As tendas vazias lembram-me as mágoas de um vate sevilhano: “Tendas de Maiia, erguidas primeiro nas alturas, depois no sopé do monte... há largo tempo abandonadas, hoje estão desertas...”Muitos deles, tinham ido ter com seu Mafoma !


Quanto a nós , Deus nos livrou porque quiz dar esse triunfo aos cristãos, salvando assim a lusa terra de mais desgraças, evitando a progressão dos almoadas para norte... pois não é problema para Deus dar a vitória com poucos ou com muitos : assim aconteceu com o bíblico Gedeão que com 300 homens afugentou dezenas de milhares de inimigos...
                                                                                    

E foi assim: a nossos olhos incrédulos e nossas mentes confusas,com nossos corpos atordoados,daquela vivência extra-temporal ...que nós os sábios nos encontrámos com os cavaleiros no oratório da Ordem entoando salmos e venerando aquela mão couraçada de prata que fizera parar o inimigo, tal como antes defendera a religião com a pena ilustre: era a mão direita de S. Gregório Nazianzeno, o doutor da Capadócia , em relíquia exposta...



Cumprira-se assim a profecia do Exodus : “ Ninguém porá a mão sobre a Montanha, Quem a tocar será apedrejado ou flechado, Não viverá “
Sabemos hoje que multiplicámos as mortes no campo inimigo..(pois cada um de nós valia por dois) apressando a sua derrota em 6 dias....pois disso fazem eco memórias..que dão conta da aparição de anjos ao lado dos combatentes. (cada um tem o seu como dira S.Paulo in Actos)
Outra coisa espantosa é que quando nos acercámos de Gualdim ,finalmente no Oratório, achámos algo familiar em seu rosto ...Aquela testa alta inteligente, olhar penetrante, farto bigode ... sempre bem disposto,nunca sanhudo, mesmo nos piores momentos, transmitindo coragem aos seus...Militar corajoso e de sangue frio... fez-nos lembrar outro soldado ...também nascido em terras de guerreiros galaicos...
Anibal Milhões ...que saindo do 15 de Tomar para a batalha de La Lys ( sempre a lis...a mesma de Clovis) em França e sendo atacado pelo inimigo... (1918) munido de coragem varreu milhares deles a sua frente (tal como as crónicas dizem de Gualdim)...e enfrentando-os nas trincheiras , permitiu o reordenamento das suas forças mais atrás... Depois foi nomeado cavaleiro de ordem militar ... (condecorado com o colar de Ordem militar) Ambos eram homens de grandes valores, e ambos viveram setenta e tal anos...
E devem ter nascido no mesmo mês do mesmo signo...sob a influência astrológica dos mesmos astros, para terem tantas semelhanças de vida e corpo... assim permanecendo na mesma galeria de imortais da nossa historia ! Anibal Milhões nasceu no 7º centenario da morte de Gualdim –1895- e tornou-se heroi no 8º centenario do nascimento de Gualdim...1918...coincidências significativas...seria uma nova encarnação daquele ?

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